A eleição, na quinta-feira passada, de Kyryakos Pierrakakis como presidente do Eurogrupo não só marca a rápida ascensão pessoal do grego na política do seu país — iniciou funções no Ministério das Finanças em março — mas sobretudo sela o final de um longo ciclo em que a Grécia foi vista como um problema irresolúvel no seio da União Europeia, ao ponto de a sua saída da zona euro ter sido considerada há dez anos. Ao reagir à sua eleição, Pierrakakis realçou a diminuição de divisões europeias entre norte e sul, leste e oeste, ou ainda sobre os chamados “frugais e gastadores”. Se nos atermos às regras anteriores do Pacto de Estabilidade e Crescimento — máximo de 3% de défice orçamental e máximo de 60% de dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto —, verifica-se que entre os 10 países com défices excessivos constam estados como Áustria, Bélgica ou Finlândia. Também estes países estariam entre os 13 com a dívida acima do admitido. Já a Grécia, cujas projeções apontavam para terminar o ano um pouco abaixo dos 150% de dívida e com um superávit orçamental, viu nos últimos meses as agências internacionais de notação reverem em alta o seu crédito devido à disciplinada política fiscal e ao crescimento da economia. “Antes considerada o calcanhar de Aquiles económico da Europa, a Grécia está agora a emergir como uma história de sucesso improvável”, disse o vice-primeiro-ministro num texto publicado numa revista do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Este forte desempenho económico não ocorreu num vazio. É o resultado da aplicação da combinação adequada de políticas: uma política fiscal prudente para restaurar a confiança do mercado, um esforço sustentado para reabilitar o nosso sistema bancário e a conclusão de reformas estruturais que promovem o crescimento”, prosseguiu. .151É a percentagem da dívida pública da Grécia em relação ao seu PIB, segundo dados de junho. Há cinco anos atingiu o máximo de 209%.. Há dez anos, o cenário político era muito distinto. Alexis Tsipras tornara-se no mais jovem primeiro-ministro em cem anos ao formar uma aliança entre o seu Syriza, de esquerda, e os Independentes Gregos, de direita. O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, tornar-se-ia no protagonista da oposição aos programas de austeridade receitados pelos credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o FMI, a chamada troika), mas sobretudo pelo governo alemão encabeçado por Angela Merkel e pelo ministro das Finanças Wolfgang Schäuble. Meses de discussões e de desacordos desaguaram num ultimato dos credores a Atenas. Em resposta, Tsipras convocou um referendo para que os eleitores validassem ou rejeitassem o acordo proposto pela troika. Foi com os bancos encerrados e o movimento de capitais restringidos que os helénicos o rejeitaram. No mesmo dia em que Varoufakis se demitiu, Tsipras e os líderes dos restantes partidos democráticos declararam que o resultado não era um mandato para uma rutura com a Europa (o tão falado Grexit). Dias depois chegou-se a novo acordo para o terceiro resgate financeiro, o que implicou mais anos de austeridade. Em outubro, Tsipras, que governou o país até 2019, saiu do Parlamento, mas disse que iria manter o “ativismo político”, alimentando a especulação de que vai criar um novo partido. No mês passado, lançou as memórias sobre o seu tempo no poder — e criticou Varoufakis por ser “mais celebridade do que economista”, um homem que, diz, não era suportado nem no exterior, nem entre os colegas de governo. Em resposta, o ex-ministro das Finanças, líder de um pequeno partido pan-europeu (DiEM25), disse que Tsipras foi “a maior conquista” da troika. Há meses lançou o livro Tecnofeudalismo, no qual afirma que o capitalismo morreu e que os novos senhores feudais são os donos das grandes empresas de tecnologia..Formado nos EUA O novo presidente do grupo dos ministros das Finanças da zona euro é um reformista de 42 anos que estudou em renomadas universidades dos EUA (Harvard — Políticas Públicas; MIT — Tecnologia e Políticas). Foi dirigente do socialista PASOK e integrou a equipa que negociou com os credores estrangeiros aquando do governo Nova Democracia-PASOK. Há uma década mudou-se para o partido de centro-direita como apoiante de Kyriakos Mitsotakis. Este, ao vencer as eleições de 2019, nomeou-o ministro da Governança Digital e, em 2023, ministro da Educação, cargo no qual, para escândalo de muitos, abriu o ensino superior à iniciativa privada..Grego Kyriakos Pierrakakis eleito presidente do Eurogrupo