Centenas de sérvios do Kosovo protestaram na cidade de Mitrovica contra o plano de Pristina de levantar o bloqueio do tráfego rodoviário aplicado desde 1999 numa ponte local, no passado cenário de confrontos entre sérvios e albaneses kosovares..A "Ponte Nova", sobre o rio Ibar, separa a cidade de Mitrovica entre o setor norte, de população maioritariamente sérvia, e o setor sul, habitado por albaneses..Concentrados numa praça, os manifestantes -- milhares segundo os organizadores e centenas de acordo com a televisão pública kosovar -- referiram sentir receio pela sua segurança caso a ponte seja reaberta ao tráfego.."Estamos a ser atacados como povo, estamos sob a pressão para abandonar o Kosovo", declarou durante o protesto Nikola Kabasic, um antigo juiz sérvio da cidade de Mitrovica, citado pela agência noticiosa espanhola EFE.."A nossa segurança está em perigo", insistiu..Esta ponte, onde no passado se registaram confrontos violentos, constitui para a minoria sérvia um símbolo da sua permanência e da sua resistência à autoproclamada independência do Kosovo em 2008, que não reconhecem..Kabasic acusou o primeiro-ministro kosovar, o nacionalista Albin Kurti, de adotar diversas medidas numa tentativa de pressionar os sérvios a emigrarem e pediu que o destino da ponte "seja negociado em Bruxelas", sob mediação da União Europeia (UE)..A circulação para peões sobre a ponte foi restabelecida em 2014 em conformidade com um acordo mediado pela UE, enquanto a reabertura ao tráfego ficou pendente de um outro acordo ainda não concluído..No entanto, Kurti decidiu anunciar na semana passada a reabertura da ponte ao tráfego de veículos, assegurando que a "livre circulação" é fundamental..O anúncio de Pristina, denunciado por Belgrado como um "ato unilateral" e que se associa a outras ações consideradas como provocadoras, também mereceu críticas da UE e dos Estados Unidos, receosos pelo agravamento das tensões nesta volátil região dos Balcãs..O protesto, transmitido em direto pelo portal KosovoOnline, decorreu sem incidentes, e sem o reforço da presença na ponte de soldados da Kfor, a força multinacional da NATO no terreno desde 1999..O executivo de Kurti, no poder desde 2021, tem protagonizado diversas medidas unilaterais que os sérvios do Kosovo, entre 5% a 10% dos 1,7 milhões de habitantes, denunciam como uma crescente discriminação e um ataque aos seus direitos..Kurti sugeriu aos sérvios de Mitrovica que participem num debate programado para quinta-feira na Assembleia municipal, com o objetivo de "alcançar um acordo" e tornar a ponte "num símbolo de normalização"..As tensões entre a Sérvia e o Kosovo permanecem muito elevadas 15 anos após o final da guerra, na sequência de uma intervenção militar da NATO contra Belgrado em 1999, suscitando receios sobre o reacender do conflito e a abertura de uma nova frente de desestabilização na Europa enquanto prossegue a guerra na Ucrânia..A normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo, mediadas pela UE, permanece num impasse, em particular após os confrontos em setembro passado entre uma milícia sérvia e a polícia kosovar que provocou quatro mortos e agravou as tensões na região..Na sequência deste incidente, a Kfor reforçou a sua presença no terreno e possui atualmente cerca de 4.800 efetivos..O Kosovo independente -- que a Sérvia considera o berço da sua nacionalidade e religião -- foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre..A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência kosovar.