A mudança de estratégia que está a deixar a Ucrânia em "dificuldades"
O que parece ter sido erro estratégico ou confiança a mais - a dispersão de unidades de combate e a ausência ou pouco apoio logístico - que resultou na tentativa frustrada de tomar Kiev - não está, dizem os serviços secretos britânicos, a acontecer no Donbass. As "estreitas" frentes de combate estão claramente delineadas e o fluxo de armas e equipamento, na zona Leste, está perto das forças russas.
É a partir das zonas já controladas no Donbass - praticamente dois terços do território está sob controlo de Moscovo - junto à fronteira russa que tudo acontece. De Norte para Sul, há movimentos em direção a Izyum; de Sul para Norte, há apoios de reforço em direção à cidade de Donetsk e de Mariupol; de Leste, os dois movimentos de avanço russo dirigem-se a Lugansk e para uma área que aproxima as tropas russas de Slovyansk e Kramatorsk - cidades que distam pouco mais de 100 quilómetros de Severodonetsk.
A tática visível, considera o Ministério da Defesa britânico, tem sido o uso sistemático de artilharia para "gradualmente ocupar território em redor de Severodonetsk" que ainda está sob controlo ucraniano. A desproporção de armamento e do "poder de fogo" é evidente e admitida pelo próprio governo de Zelensky. "A rússia dispara quase 50 mil tiros de artilharia por dia, a Ucrânia só pode responder com um décimo" dessa força, explicou um conselheiro do governo.
"A crescente força das forças terrestres" de Moscovo está a criar dificuldades acrescidas às tropas ucranianas pelo facto de haver "falta de munições" - os pedidos de ajuda têm-se repetido - e de "armamento pesado" para travar os ataques.
E desta vez, avisa o Ministério da Defesa britânico, os russos não estão a colocar no terreno simultaneamente "todos os três batalhões" de cada brigada para evitar perder a "capacidade de longo prazo". Ou seja, dois atuam quase em pleno e os terceiros começaram a ser "preparados para se desdobrarem". Tradução: como os "terceiros batalhões muitas vezes não têm todo o pessoal necessário", a Rússia "provavelmente terá de contar com novos recrutas ou reservistas" para reforçar estas unidades de combate.
O cerco e as semelhanças
"Os nossos soldados estão a ganhar as lutas nas ruas [em Severodonetsk], mas infelizmente a artilharia do inimigo está destruindo, andar por andar, as casas que as nossas tropas usavam como abrigos". A frase de Serhiy Haidai, governador de Lugansk, exemplifica a violência e a importância dos combates dos últimos dias. E a razão é óbvia: a ocupação de Severodonetsk e de Lysychansk, a menos de 10 quilómetros, dará aos russos o controlo da região de Lugansk que somada à região de Donetsk resulta na tomada, para além do território, de mais uma grande área industrial.
O governador admite as "dificuldades" e até que a "maior parte" da cidade está nas mãos russas; os militares russos garantem ter em seu poder todas as áreas residenciais de Severodonetsk.
E tal como sucedeu em Mariupol, também aqui na "enorme fábrica de produtos químicos Azot" estão escondidos civis - cerca de 800, incluindo crianças - nos bunkers do complexo industrial enquanto soldados ucranianos tentam travar a entrada dos russos.
O cenário é em tudo semelhante: cercar e esperar. "Não há planos para atacar Azot. A fábrica está bloqueada. As tropas ucranianas que permanecerem lá serão obrigadas a ter que se render", assegurou um oficial separatista à agência russa de notícias Interfax.
Serhiy Haidai alerta que, para além de Azot, "eles [os russos] querem isolar completamente a cidade e impedir a saída das pessoas" e a entrada de "munições e reforços" para as tropas ucranianas. Se assim for, e usando "todas as suas reservas, a Rússia ocupará Severodonetsk em "um ou dois dias".