Kharkiv, no nordeste do país, foi a cidade em que os mísseis russos mais danos fizeram. EPA/SERGEY KOZLOV
Kharkiv, no nordeste do país, foi a cidade em que os mísseis russos mais danos fizeram. EPA/SERGEY KOZLOV

À míngua de munições, Ucrânia é alvo mais fácil da “fraterna” Rússia

Moscovo diz ter atacado fábricas de armamento, mas foram atingidas áreas residenciais nas duas maiores cidades ucranianas.
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A voz de Vladimir Putin na cena internacional, Sergei Lavrov, disse na segunda-feira, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, sem esboçar um sorriso, que a Rússia mantém “laços fraternos” com “a Ucrânia e o povo ucraniano”. A reunião na ONU foi pedida por Moscovo, alegando Kiev está a receber armas de outros países. Poucas horas depois, ao nascer do dia, um ataque russo a zonas residenciais de três cidades fez pelo menos sete mortos e feriu dezenas de pessoas a quem o ministro dos Negócios Estrangeiros russo acabara de reafirmar a ligação fraternal.

Kiev, Kharkiv e Pavlohrad foram alvo de um bombardeamento com uma mistura de 44 mísseis (cruzeiro, balísticos, teleguiados e antiaéreos), tendo 22 deles sido destruídos pela defesa aérea, segundo as autoridades ucranianas. A taxa de sucesso da defesa aérea já foi superior, o que prova pelo menos uma de duas: a tática de ataque russa com diversas tipologias de mísseis será mais eficaz; e os sistemas de defesa aérea, além de insuficientes para cobrir sequer as maiores cidades, estarão também a ficar com os stocks depauperados. 

Nas duas maiores cidades, blocos residenciais, mas também edifícios de Saúde, de Educação e um pavilhão desportivo foram atingidos, tendo morrido pelo menos oito pessoas em Kharkiv e deixado 79 feridos, 12 dos quais crianças, nas duas cidades. Além disso, ainda em Kharkiv, os mísseis danificaram um gasoduto e milhares de habitantes ficaram sem energia depois de as infraestruturas elétricas terem sido atingidas.

Na cidade industrial de Pavlohrad, na região de Dnipro, duas escolas e oito edifícios foram atingidos; uma mulher morreu. Segundo Moscovo, os ataques foram direcionados em exclusivo a fábricas de produção de mísseis, munições e explosivos. Na guerra de palavras fica ainda a troca de acusações relativa à autoria do ataque de domingo à cidade de Donetsk, controlada por Moscovo, no qual terão morrido 27 pessoas.

Na linha da frente, junto de Avdiivka e de Bakhmut, no Donbass, uma equipa de reportagem da CNN comprova a escassez de munições com que o Exército ucraniano se debate. Um blindado M109 Paladin não tem o que lançar contra o inimigo à exceção de uns cartuchos de fumo. O comandante de artilharia da 93.ª Brigada Mecanizada da Ucrânia disse à cadeia norte-americana que a diferença entre os fornecimentos de artilharia russa e ucraniana é de “10 para 1”.

Foi neste cenário que se realizou mais uma reunião de Ramstein, o grupo de contacto dos países aliados para a articulação da assistência militar a Kiev. Da reunião, conduzida a partir de casa pelo reaparecido secretário de Defesa norte-americano Lloyd Austin (envolto em controvérsia pelo facto de não ter comunicado à presidência que estaria ausente devido a uma intervenção cirúrgica) saiu a constatação óbvia: graças ao bloqueio dos representantes republicanos, os Estados Unidos não podem neste momento prosseguir a ajuda militar, pelo que Austin apelou aos restantes países para aumentarem as contribuições. “Exorto este grupo a empenhar-se a fundo para fornecer à Ucrânia mais sistemas de defesa aérea terrestre e sistemas de interceção que salvam vidas”, disse.

A grande novidade nesse campo veio de Bruxelas, onde o secretário-geral da NATO anunciou a assinatura de contratos no valor de mil milhões de euros para o fornecimento de munições de artilharia. A aliança militar não faz a aquisição de forma direta, mas possibilita aos membros organizarem-se numa aquisição conjunta.

cesar.avo@dn.pt

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