À espera da grande ofensiva russa, Kiev adia mais mudanças na Defesa
Saída do ministro Oleksiy Reznikov chegou a ser dada como certa, mas não deve acontecer esta semana. Ucranianos esperam forte ataque, a assinalar um ano da invasão.
Com as forças russas a "erradicarem cidades e aldeias" na região de Donetsk - como alertou esta segunda-feira Pavlo Kyrylenko, o governador regional -, os ucranianos preparam-se cada vez mais seriamente para a grande ofensiva que acreditam ser inevitável a Rússia lançar por estes dias, à medida que se aproxima o primeiro aniversário da invasão, a 24 de fevereiro. Um alerta que o próprio ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, repetiu no domingo à noite e que parece estar a adiar a sua substituição no cargo pelo chefe da secreta militar, Kyrylo Budanov. A notícia chegou a ser dada como certa, mas esta segunda-feira o líder do partido do presidente Volodymyr Zelensky veio anunciar que as mudanças, justificadas por mais suspeitas de corrupção, não irão acontecer esta semana.
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"Estamos a aguardar nomeação dos líderes do Ministério do Interior e dos Serviços de Segurança da Ucrânia. Mudanças de pessoal no setor da defesa não ocorrerão esta semana", garantiu o deputado David Arakhamia no Telegram. Outra deputada, Mariana Bezugla, disse no Facebook que o reajuste foi "suspenso até ao final da semana", enquanto o governo "avalia os riscos" dessa mudança, levando em conta a crescente pressão dos militares russos no Leste do país.
Segundo Arakhamia, Reznikov devia trocar a pasta da Defesa pela das Indústrias Estratégicas. Mas este afirmou não ter conhecimento da mudança e garantiu que recusaria outro cargo. Este assumiu o Ministério da Defesa em novembro de 2021 e ajudou a obter apoio militar ocidental para fortalecer as forças armadas ucranianas.
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Recentemente, o seu ministério viu-se envolvido em escândalos de corrupção que fizeram o vice-ministro da Defesa, Viacheslav Shapovalov, encarregado do apoio logístico às forças armadas, renunciar no final de janeiro, após ser acusado de assinar contratos superfaturados de fornecimento de alimentos para as tropas.
Enquanto Zelensky prossegue o seu combate contra o velho flagelo da corrupção no governo ucraniano (tendo já afastado vários altos responsáveis nas últimas semanas), no terreno as forças russas têm vindo a subir o tom dos ataques. "As batalhas pela região [do Donbass, que junta Donetsk e Lugansk] estão a aquecer. Os russos estão a lançar novas unidades para a batalha", garantiu o governador Kyrylenko. Também Serhiy Haidai, governador de Lugansk, alertou que os russos estão a "poupar munições para uma ofensiva em larga escala". Nas últimas semanas, os combates têm-se centrado na cidade de Bakhmut e nas localidades vizinhas de Soledar e Vuhledar.
No domingo, Reznikov afirmara em conferência de imprensa que, apesar de não ter todos os recursos preparados para lançar a ofensiva, os russos poderão avançar na mesma, num gesto mais simbólico do que estratégico, para coincidir com o primeiro aniversário da invasão.
Desde esta segunda-feira que os militares ucranianos estarão a receber treino para usar os tanques Leopard que os aliados europeus já prometeram enviar-lhes - com os alemães a confirmarem o envio de 14. O ainda ministro da Defesa anunciou que a Ucrânia já recebeu mísseis de longo alcance, mas que não os irá usar contra território russo, apenas contra unidades russas em solo ucraniano. "Tenho a certeza de que vamos ganhar esta guerra", garantiu Reznikov, voltando a apelar aos aliados para que forneçam caças à Ucrânia se querem poupar vidas.
Grande parte do avanço russo em Bakhmut tem sido liderado pelos mercenários do Grupo Wagner. Num vídeo, o líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, desafia Zelensky para um combate aéreo. Surgindo nas imagens dentro do cockpit de um caça bombardeiro Su-24, garante: "Amanhã [hoje] vou pilotar um MiG-29. Se o desejar, encontramo-nos nos céus. Se vencer, fica com Artyomovsk [Bakhmut]. Se não, nós avançamos até ao rio Dniepre."
Esperado em Bruxelas na quinta-feira, para participar num Conselho Europeu especial e falar diante do Parlamento Europeu, Zelensky - que ainda não confirmou a sua presença - apresentou no Parlamento diversos projetos-lei para aprovar os decretos da lei marcial e a mobilização geral no país. Os projetos-lei propõem prorrogar a lei marcial e o prazo de mobilização geral durante mais três meses, a partir de 19 de fevereiro, informou o Ukrainska Pravda.
Segundo os documentos, as leis entrarão em vigor logo após a sua aprovação.
Entretanto, a Noruega, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, anunciou que irá doar à Ucrânia, ao longo dos próximos cinco anos, 75 mil milhões de coroas norueguesas (6800 milhões de euros). O pacote financeiro, que terá ainda de ser aprovado pelo Parlamento, foi anunciado pelo primeiro-ministro, Jonas Ghar Store, permitindo que a Noruega obtenha o estatuto de um dos maiores doadores do mundo à Ucrânia.
helena.r.tecedeiro@dn.pt
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