A dor digna de Ana, a princesa de caráter forte
Conhecida pelo caráter forte e pela discrição ao cumprir as suas funções monárquicas, a princesa Ana raramente demonstra as suas emoções. Mas a filha de Isabel II não conseguiu esconder a tristeza ao acompanhar o cortejo fúnebre da sua mãe.
Com Carlos III em Londres para cumprir as suas primeiras obrigações como rei, Ana foi a responsável por acompanhar o cortejo de seis horas, que seguiu do castelo de Balmoral até Edimburgo.
Os britânicos emocionaram-se com a sua reverência diante do caixão da mãe ao chegar à capital escocesa, num ato de respeito pela rainha após uma vida de serviço.
Na segunda-feira, a Princesa Real, título que ostenta desde 1987 como filha mais velha da monarca, caminhou ao lado do rei Carlos III e dos seus dois irmãos durante a procissão que levou o caixão de Isabel II do castelo de Holyrood até à catedral de Santo Egídio. Ela viajará no avião que transportará o caixão da soberana até Londres esta terça-feira.
Aos 72 anos, o seu papel na monarquia pode mudar: Carlos III pode encontrar nela um forte apoio no início do seu reinado.
Ana tem a reputação de ser o elemento mais diligente da família, combinando uma carreira no hipismo que a levou a disputar os Jogos Olímpicos (Montreal-1976) com uma vida de compromissos públicos com um ritmo constante mas discreto, longe dos escândalos da família nos últimos anos.
Com a mesma sinceridade que caracterizou o seu pai, o príncipe Filipe, ela já afirmou que o seu caráter "não corresponde à imagem que todos têm de uma princesa de conto de fadas".
"Você aprende da maneira mais difícil", disse. "Não há escola para a realeza", acrescentou, citada pela AFP.
Ana, considerada fria e às vezes criticada pelo seu humor áspero, nunca tentou agradar à imprensa, por considerar que não está em posição para "fazer acrobacias".
A princesa, que escreve os próprios discursos, fez o seu caminho no sistema real dos pais, mas escolheu uma vida mais moderna para os filhos.
Também conquistou respeito por apoiar mais de 300 obras de caridade, ONGs e regimentos militares.
Em 1974, Ana foi alvo de uma tentativa de sequestro quando o seu veículo sofreu um ataque. Dois polícias, o motorista e uma pessoa que passava pelo local foram feridos por tiros.
Um documento publicado pelo Arquivo Nacional revelou mais tarde que o agressor, Ian Ball, apontou a arma a Anne e disse: "Quero que venha comigo por um dia ou dois porque quero dois milhões de libras. Vai entrar no meu carro?".
Ana respondeu sem hesitar: "De maneira nenhuma. E não tenho dois milhões de libras".
Nascida a 15 de agosto de 1950, Ana herdou a paixão da mãe por cavalos e rapidamente se fez uma amazona habilidosa. Em 1971 venceu o campeonato europeu de concurso completo.
"Via (na carreira desportiva) o meio de demonstrar que tinha algo além da minha família e que a vitória ou derrota dependiam apenas de mim", explicou.
Em 1988 tornou-se membro do Comité Olímpico Internacional (COI) e integrou o comité organizador dos Jogos Olímpicos de Londres 2012.
Em 1972, o seu casamento com o oficial do exército e campeão olímpico de hipismo Mark Phillips foi assistido por 500 milhões de telespetadores.
O casal teve dois filhos, Peter e Zara, e, rompendo a tradição, ambos decidiram que Mark Phillips não receberia nenhum título real para que as crianças pudessem ter a liberdade de seguir a própria vida.
Divorciaram-se em 1992 e, nove meses depois, a princesa casou-se com o capitão de fragata Timothy Laurence.
O casamento aconteceu na Escócia porque a Igreja Anglicana não permite uniões de pessoas divorciadas.