Aviões Douglas C-47 sobrevoam os casais Macron e Biden antes da cerimónia norte-americana para comemorar o Dia D.
Aviões Douglas C-47 sobrevoam os casais Macron e Biden antes da cerimónia norte-americana para comemorar o Dia D.SAUL LOEB / AFP

“A democracia nunca está garantida.” Recordar o Dia D de olho na Ucrânia

Líderes mundiais reuniram-se para os 80 anos do desembarque que marcou o início da reviravolta na II Guerra Mundial, mas as mensagens estiveram focadas no conflito atual. França anunciou que vai transferir caças Mirage para Kiev.
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O presidente norte-americano defendeu esta quinta-feira o poder das alianças e da NATO, lembrou que “a democracia nunca está garantida” e reiterou que os EUA nunca vão abandonar a Ucrânia. As palavras de Joe Biden foram proferidas no Cemitério Americano na Normandia, onde assinalou ao lado do homólogo francês, Emmanuel Macron, os 80 anos do desembarque do Dia D, que marcou o início da reviravolta que ditaria a vitória dos aliados na II Guerra Mundial. Mas a mensagem foi muito atual.

“A Ucrânia foi invadida por um tirano empenhado em dominar”, afirmou Biden na cerimónia, onde estavam presentes também 180 veteranos, que viram algumas das suas histórias de coragem lembradas pelo presidente. “Não vamos voltar as costas porque se o fizermos, a Ucrânia será subjugada e as coisas não acabarão aí. Os vizinhos da Ucrânia serão ameaçados. Toda a Europa estará ameaçada”, disse.

“Vivemos num tempo em que a democracia está mais em risco em todo o mundo do que em qualquer outro ponto desde o fim da II Guerra Mundial, desde que estas praias foram invadidas em 1944. Agora temos que nos perguntar. Vamos unir-nos contra a tirania, contra o mal, contra a brutalidade esmagadora do punho de ferro? Vamos defender a liberdade? Vamos defender a democracia? Vamos ficar juntos? A minha resposta é sim e só pode ser sim”, afirmou Biden.

Ainda em referência à Ucrânia, o presidente norte-americano lembrou que os ucranianos estão a lutar “com coragem extraordinária, a sofrer grandes perdas, mas nunca a recuar”. O presidente falou também das perdas russas, que calcula em 350 mil militares mortos ou feridos, além de quase um milhão de pessoas que deixaram o país “porque já não conseguem ver um futuro na Rússia”.

E deixou o aviso: “Não se deixem enganar, os autocratas do mundo estão a observar atentamente para ver o que acontece na Ucrânia, para ver se deixamos essa agressão ilegal passar despercebida. Não podemos deixar isso acontecer (...) Curvarmo-nos diante dos ditadores é simplesmente inaceitável. Significa que nos esquecemos que aconteceu aqui nestas praias.”

O presidente defendeu que, nas praias da Normandia, se provou “a unidade inquebrável dos aliados”, considerando que aquilo que foi alcançado nenhum país teria conseguido sozinho. “Foi uma ilustração poderosa de como as verdadeiras alianças nos tornam mais fortes, uma lição que rezo que nós americanos nunca esqueçamos”, disse. “O isolacionismo não era a resposta há 80 anos e não é a resposta hoje”, insistiu, apelidando a NATO de “a maior aliança na história”.

O presidente norte-americano aproveitou o discurso para dar um recado aos eleitores, diante das ameaças que o ex-presidente Donald Trump, seu adversário em novembro, faz à aliança. Será também a pensar nas presidenciais que Biden voltará a falar de novo sobre a defesa da liberdade e da democracia. O local escolhido foi Pointe du Hoc, um promontório no topo de uma falésia cujos bunkers alemães foram atacados pelas tropas americanas num ataque ousado. Em 1984, nos 40 anos do Dia D, o então presidente Ronald Reagan falou no mesmo lugar, num discurso que muitos acreditam ter ajudado à conquista do segundo mandato.

Zelensky presente, Rússia não

O cumprimento entre Zelensky e Biden. FOTO: Ludovic MARIN / AFP

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não chegou a tempo de ouvir o discurso de Biden, mas esteve com o homólogo norte-americano mais tarde, nas comemorações internacionais do Dia D, na praia de Omaha - para a qual a Rússia não foi convidada, mas na qual foi também lembrado o contributo soviético para derrotar o nazismo. Zelensky e a mulher Olena foram aplaudidos à chegada à cerimónia.

Nesta ocasião, a Ucrânia também não foi esquecida. “Face ao regresso da guerra ao nosso continente, face os que pretendem mudar as fronteiras pela força ou reescrever a história, sejamos dignos daqueles que aqui desembarcaram. A sua presença aqui diz tudo”, disse Macron, dirigindo-se diretamente a Zelensky. “Obrigado, obrigado, obrigado ao povo ucraniano, à sua coragem, ao seu gosto pela liberdade. Estamos aqui e não vamos fraquejar”, acrescentou.

O líder francês reunirá esta sexta-feira com o ucraniano em Paris, para discutir as necessidades urgentes de Kiev para fazer face à invasão russa. Macron já anunciou a intenção de transferir caças Mirage-2000 para a Ucrânia, ao abrigo de um novo acordo de cooperação.

susana.f.salvador@dn.pt

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