Cerca de cinco mil homens, entre marinheiros e pilotos, viajam no porta-aviões. Cada um tem uma tarefa bem definida e treinada. -- Foto: Kenny Holston/The New York Times
Cerca de cinco mil homens, entre marinheiros e pilotos, viajam no porta-aviões. Cada um tem uma tarefa bem definida e treinada. -- Foto: Kenny Holston/The New York Times

A bordo do porta-aviões dos EUA na luta contra os Houthis no Mar Vermelho

Porta-aviões Dwight D. Eisenhower tem como missão encontrar e destruir infraestruturas usadas pelos Houthis.
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O exercício é o mesmo quase todas as noites. Recebem uma chamada com a informação de que lançadores de mísseis móveis surgiram em algum sítio do Iémen, perto da costa, preparando-se para disparar.

Só que, a bordo do porta-aviões Dwight D. Eisenhower, não é um exercício.

Durante dois meses, os cinco mil marinheiros e pilotos a bordo realizaram uma tarefa quase ininterruptamente: encontrar e destruir locais de armazenamento de armas, sistemas de mísseis, sistemas de defesa aérea, radares e lançadores de mísseis antes que a milícia Houthi usasse as armas para encontrar e destruir navios comerciais no Mar Vermelho.

No Eisenhower, os pilotos de caça representam apenas uma pequena percentagem de toda a tripulação, a qual tem um papel vital de apoio.

“A missão não poderia realizar-se sem eles, mas todos a bordo trabalham para lhes dar apoio”, disse o capitão Christopher Hill, comandante do Eisenhower. 

Numa noite de terça-feira recente, a rotina era a mesma. Sete lançadores de mísseis Houthi surgiram ao longo da costa do Iémen.

A bordo do Eisenhower, do cruzador Philippine Sea e de outros navios de guerra da Marinha dos EUA destacados para combater a ameaça Houthi foi mais uma noite movimentada.

Primeiro, os militares norte-americanos, que estão sob o comando do Comando Central dos EUA para esta missão, conduziram quatro “ataques de autodefesa” – linguagem do Pentágono para disparar contra os lançadores de mísseis antes de estes serem mobilizados.

Entre a meia-noite e as 6h45, as forças também abateram um drone de ataque unilateral, conhecido como “UAS”, para sistema de aeronaves não tripuladas.

“Estas ações protegerão a liberdade de navegação e tornarão as águas internacionais mais seguras e protegidas para a Marinha dos EUA e os navios mercantes”, disse mais tarde o Comando Central num comunicado.

Os comunicados que o Comando Central divulga quase todos os dias raramente capturam a atmosfera colorida e a coreografia cuidadosa a bordo do Eisenhower e de outros navios de guerra. A cabina de comando de um porta-aviões é um dos locais de trabalho mais intensos do mundo.

Depois, há a pista muito curta. Com apenas cerca de 90 metros é uma pequena fração do comprimento de uma pista para aviões comerciais, que pode ter aproximadamente entre 2,4 e quase 4 km.

Os pilotos que descolam precisam de um pouco de ajuda para levantar. Como a pista de voo de um porta-aviões é muito mais curta do que uma pista terrestre, os porta-aviões desse tipo contam com catapultas movidas a vapor para lançar aviões no ar num período de tempo extremamente curto.

A aterragem é ainda mais difícil. O piloto tem de se alinhar com a pista, baixar o gancho de retenção e entrar no ângulo certo, com frações de segundos para agarrar um dos quatro cabos de desaceleração.

Assim que as rodas tocam no convés, o piloto põe a aeronave em aceleração total, para o caso de o gancho traseiro não ter prendido o cabo e o avião ter de descolar novamente.

O Eisenhower está no mar desde outubro. São cinco meses sem descanso. As operações realizam-se 24 horas por dia, sete dias por semana. É o mesmo ciclo: os jatos são carregados com munições, são lançados e regressam vazios.

Quando questionado sobre como lidam com o stresse e a pressão da rotina sem fim, um marinheiro brincou: “Ligação traumática.”

Os Houthis conseguiram conter a Arábia Saudita durante oito anos, salientam autoridades do Pentágono, mas as Forças Armadas dos EUA não são a Arábia Saudita.

Ainda assim, os Houthis resistem e continuam a atacar navios comerciais no Mar Vermelho, em solidariedade, dizem eles, com os palestinos na Faixa de Gaza sob bombardeamentos israelitas.

Os militares pensam que os Houthis não desistirão, disse um oficial subalterno. A Marinha pediu que o nome do marinheiro não fosse divulgado.

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