Vinte anos depois, os sobreviventes da “onda negra gigante” ainda vivem com o trauma. No dia 26 de dezembro de 2004 os europeus acordaram com a notícia de uma tragédia do outro lado do mundo. Depois de um abalo de magnitude 9.1 na escala de Richter ao largo da Ilha de Samatra, na Indonésia, três ondas gigantes irromperam pelo sudeste asiático e alteraram para sempre a paisagem local. À medida que os dias iam passando, subia o número de vítimas: no final foram contabilizados 230 mil mortos (nove dos quais portugueses) e 1,7 milhões de desalojados..Indonésia, Sri Lanka, Índia e Tailândia foram os países mais afetados, arrasados pela água que chegou aos 30 metros de altura e se deslocava à velocidade de um avião a jato. Mas as ondas chegaram também à Malásia, às Maldivas e ao Bangladesh, assim como à costa africana. O tsunami teve a energia equivalente a 23 mil bombas atómicas e o sismo foi tão forte que alterou a rotação do planeta, encurtou o dia (em milésimos de segundo) e mudou o Polo Norte alguns centímetros, segundo a NASA..Chocada pelas imagens que via na televisão, as primeiras a mostrar a verdadeira realidade de um tsunami (desde então já houve outros, no Japão em 2011 ou Sulawesi em 2018, mas nenhum com a mesma dimensão), bem como a quantidade de vítimas estrangeiras (apanhadas quando passavam férias nas paradisíacas praias locais), a comunidade internacional juntou-se e recolheu mais de 14 mil milhões de dólares em ajuda humanitária..Em Banda Aceh, na Indonésia, onde morreram 126 mil pessoas, ficou famosa a imagem de uma mesquita a 500 metros da costa, com todos os edifícios destruídos à sua volta. Vinte anos depois, conta a AP, a costa está de novo cheia de edifícios residenciais, cafés e restaurantes - mesmo se a regra inicial era que não devia ser construído nada a menos de um quilómetro da linha de água..Um novo sistema de alerta foi criado, soando sirenes em caso de ameaças de tsunami, com os residentes a receber alertas nos telemóveis com sismos acima da magnitude de 5.0. As pessoas recebem também formação regular, que começa logo na escola, sobre a forma de atuar em caso de emergência..O sistema de alerta existe na Indonésia, mas também em toda a região, com três centros de alerta em Jacarta, em Melbourne e Camberra (Austrália) e outro em Hydebarand (Índia), com os especialistas a conseguirem dizer em menos de dez minutos se há ou não um tsunami - ganhando tempo para alertar as populações..Martunis.No meio da tragédia de há 20 anos houve um rosto que se destacou para os portugueses: Martunis, de apenas 7 anos, foi encontrado com vida 19 dias depois. Estava a jogar futebol com os amigos no dia da tragédia e quando foi encontrado tinha vestida uma camisola da seleção portuguesa. Martunis contou com a ajuda da Federação para reconstruir a casa do pai e visitou Portugal. Em 2015, entrou na academia do Sporting, mas entretanto voltou à Indonésia e deixou de jogar futebol..Hoje é casado e tem duas filhas. A Save the Children, que o ajudou logo após ter sido encontrado com vida, recordou a sua história num artigo no seu site na semana passada, com Martunis a ser fotografado com a camisola do Sporting. “No futuro, espero poder tornar-me uma pessoa útil e bem-sucedida em qualquer área. Confio que os planos de Deus são sempre belos”, contou.