José Antonio Kast, candidato de extrema-direita à presidência do Chile, confirmou o favoritismo e venceu Jeannette Jara, membro do partido comunista local que encabeçava uma aliança de centro-esquerda, por mais de 58% a pouco menos de 42%, nas eleições de domingo, 14. Apesar de ser visto como radical e de já ter dito que votaria em Augusto Pinochet, se o ditador fosse vivo, o sucessor de Gabriel Boric no Palácio de La Moneda a partir de de 11 de março de 2026 até 2030 optou por um discurso de conciliação nacional após a vitória. “É um dia incrível”, começou por dizer Kast, ao subir ao palco na noite de domingo, já madrugada de ontem em Lisboa. “Quero pedir-vos um pouco mais a todos, ajudem-me, para que nestes quatro anos consigamos fazer o bem, consigamos manter-nos em unidade”. E depois pediu “respeito e silêncio” pela oposição. “Um governo tem partidários e tem oposição. Isso é normal. É legítimo. Claramente, com Jeannette Jara, temos profundas diferenças”, disse, interrompendo as vaias dos apoiantes ao nome da concorrente, e reforçando que “respeito e silêncio vão marcar a nossa gestão”. “Podemos ter diferenças, e duras, podemos acreditar em coisas muito diferentes para a nossa sociedade, porém se estimamos a violência, se estimamos os gritos exagerados, é muito difícil que saiamos à frente”, continuou Kast, que contou ter respondido “não, necessariamente” à pergunta do filho ‘se o mundo seria melhor se todos fossem de direita’. “Os temas que afetam as pessoas não têm cor política. Há pessoas que se comportam bem na esquerda e na direita. Há pessoas que se comportam mal na esquerda e na direita”, concluiu o eleito, que já concorrera à presidência, e perdera, duas vezes. “Se vamos combater o crime organizado, precisamos de vocês também”, disse Kast, dirigindo-se à oposição. “Serei o presidente de todos os chilenos”, continuou o vencedor em todas as 16 regiões que compõem o país sul-americano mas perdeu em 21 comunas da área metropolitana da capital Santiago. “O Estado não é um espólio e, por isso, queremos fazer um governo de unidade, queremos impulsionar um acordo nacional, embora digam que não somos bons para acordos, vamos surpreendê-los”.O novo presidente, de 59 anos e líder do Partido Republicano, que fundou, enfrentará um parlamento fragmentado e sem maioria, que vai requerer acordos políticos para levar adiante os projetos mais controversos do novo governo de combate ao crime, de controle da imigração e de cortes de gastos públicos.Presidente mais à direita desde o fim da ditadura de Pinochet, em 1990, Kast promete deter e expulsar cerca de 340 mil imigrantes sem documentos. Para o fazer, defende um “escudo fronteiriço”, que inclui erguer um muro e trincheiras na fronteira com a Bolívia, e mobilizar 3000 militares para conter as entradas, além de combater o crime com mais poder de fogo para a polícia e o envio do exército para áreas críticas. E é contrário ao aborto, até em caso de violação.Jeannette Jara reagiu pelas redes sociais à derrota. “A democracia falou com força, acabo de desejar êxito a Kast, pelo bem do Chile”. A ex-ministra do Trabalho do presidente cessante Gabriel Boric tinha vencido a primeira volta mas foi superada na segunda por uma aliança entre candidatos à direita. Além de Jara, destaque para as reações dos vizinhos sul-americanos Argentina e Brasil. Javier Milei congratulou Kast, com quem sente afinidades. “Um passo mais da nossa região na defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada, estou certo de que vamos trabalhar juntos para superar o jugo opressor do socialismo do século 21”, reagiu Milei.E Lula da Silva, embora de esquerda, garantiu que os dois países continuarão “trabalhando (...) em favor do fortalecimento das excelentes relações bilaterais, dos sólidos laços económico-comerciais” que unem os dois países” e “pela integração regional e a manutenção da América do Sul como zona de paz”.Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, disse que a potência norte-americana “espera colaborar com a administração de Kast”.Com o resultado eleitoral do Chile, regista-se agora um empate 6-6 entre governos de esquerda e de direita na América do Sul mas com tendência conservadora. Depois de Rodrigo Paz ter sido empossado a 8 de novembro presidente da Bolívia, após quase 20 anos de domínio da esquerda no país, a direita governa em La Paz mas também no Equador, no Peru, no Paraguai, na Argentina e, agora, no Chile. A esquerda resiste com presidentes na Colômbia, na Venezuela, na Guiana, no Suriname, no Brasil e no Uruguai (a Guiana Francesa é um departamento da França)..Com vitória provável no Chile, direita igualaria esquerda na América do Sul