Netanyahu responsabiliza PM da Austrália pelo ataque que causou 12 mortos numa festa judaica na praia Bondi

Netanyahu responsabiliza PM da Austrália pelo ataque que causou 12 mortos numa festa judaica na praia Bondi

Um dos atacantes morreu e outro foi detido pelo ataque na praia Bondi. O mundo repudia "ataque terrorista e antissemita" e Marcelo lembra "os tempos mais negros da nossa história recente".
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Doze pessoas morreram e pelo menos 29 ficaram foram levadas para os hospitais na sequência de um tiroteio este domingo, 14 de dezembro, na praia australiana de Bondi, em Sydney, onde se realizava a festa judaica de Hanukkah. A notícia é avançada pela edição online da estação de televisão australiana ABC, que cita uma fonte polícia.

Inicialmente as autoridades apontavam para 10 mortes, mas entretanto confirma-se a morte de um dos dois atiradores, além de uma das pessoas que tinha ficado com ferimentos graves.

Entre os feridos há ainda dois agentes policiais, que acorreram ao local, bem como um segundo atirador, que se encontra em estado crítico, mas encontra-se sob custódia das autoridades.

Em conferência de imprensa, Mal Lanyon, comissário de polícia de Nova Gales do Sul, revelou que 29 pessoas foram transportadas para os hospitais da região, mas havia mais feridos a chegar às unidades clínicas.

Sobre os atacantes não confirmou a existência de um terceiro suspeito, mas deixou a certeza de que "este ato vergonhoso não ficará impune". 

Lanyon revelou que os dois polícias feridos estão em estado "grave, quase crítico" e ambos estavam a ser submetidos a cirurgias.

Na mesma conferência de imprensa marcou presença o primeiro-ministro Anthony Albanese, que considerou tratar-se de "um ataque devastador" e "um ato de antissemitismo maligno" e "terrorismo que atingiu o coração da Austrália”. Nesse sentido referiu que "um ataque contra judeus australianos é um ataque contra todos os australianos”.

A polícia de Nova Gales do Sul pediu à população, através da sua conta da rede social X, para que evitasse o local, até porque existia uma ameaça de bomba em curso naquela área e que estava a trabalhar para desarmar o que diz ser um artefato explosivo improvisado.

O comissário Lanyon confirmou mais tarde ter sido encontrado esse explosivo dentro de um automóvel e que uma unidade de resgate e desativação de bombas estava a trabalhar nessa situação.

Segundo um alto funcionário da polícia citado pela ABC, um dos atiradores dá pelo nome de Narveed Akram e vivia no sudoeste de Sydney, adiantando que a sua casa era alvo de uma operação policial.

O ataque registou-se junto a um parque infantil, onde se realizava a festa judaica.

Uma testemunha citada pela ABC revela que o tiroteio pareceu durar cerca de 10 minutos e foi "um verdadeiro inferno na Terra", adiantando ainda que viu várias pessoas caídas em poças de sangue.

Um dos vídeos que circula nas redes sociais, vê-se um homem a desarmar um dos atacantes. O primeiro-ministro australiano fez mesmo questão de dizer que se trata de "um verdadeiro herói". "Não tenho dúvidas de que muitas, muitas pessoas estão vivas graças à sua bravura", disse Albanese, reforçando a ideia de que aquele homem "colocou a sua própria vida em risco para salvar a vida de inúmeras pessoas".

Netanyahu diz ter avisado o PM australiano

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, um dos mortos é um cidadão israelita.

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu já veio entretanto responsabilizar o governo australiano pela falta de ação contra o antissemitismo, revelando que, há alguns meses, escreveu uma carta ao primeiro-ministro Anthony Albanese, apelando para tomar medidas concretas. "O antissemitismo é um cancro e espalha-se quando os líderes se calam e são substituídos. Devem substituir a fraqueza pela ação", revelou Netanyhau sobre o conteúdo da carta.

O primeiro-ministro de Israel considera ter-se tratado de "um assassinato a sangue frio" aquilo que aconteceu na praia Bondi. "O número de vítimas aumenta a cada minuto, para minha tristeza. Vimos o mal na sua forma mais vil e também vimos a bravura judaica em no seu auge. Estamos numa campanha contra o antissemitismo mundial e a única maneira de combatê-lo é denunciá-lo e lutar conta ele. Não há outro caminho. É isso que fazemos no Estado de Israel", argumentou Netanuahu.

Algumas horas antes, o presidente israelita Isaac Herzog também comentou o tiroteio na praia Bondi. "Os nossos corações estão de luto. Toda a nação de Israel está de luto neste momento, enquanto oramos pela recuperação dos feridos e por aqueles que perderam as suas vidas. Enviamos as nossas mais calorosas forças daqui e repetimos as nossas palavras ao governo australiano para que tome medidas no combate à enorme onda de antissemitismo que assola a sociedade australiana", disse.

Gideon Sa'ar, ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, também criticou o governo australiano por ignorar os alertas sobre o antissemitismo. "Infelizmente, o ataque terrorista em Sydney era esperado", disse num vídeo em hebraico, no qual classificou os protestos pró-Palestina que ocorreram em toda a Austrália como "protestos antissemitas".

"Avisámos o governo australiano inúmeras vezes. Infelizmente, não fez o suficiente", sublinhou.

Marcelo condena “a violência originada pelo antissemitismo”

O Presidente da República manifestou a “profunda consternação” com o “violento ataque terrorista” na praia de Bondi e condenou “a violência especialmente originada pelo ódio, nomeadamente o antissemitismo”.

Numa nota divulgada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa diz ter recebido “com profunda consternação as notícias sobre o violento ataque terrorista levado a cabo em Bondi Beach, que provocou inúmeras vítimas mortais e feridos, incluindo crianças”.

“O Presidente da República reafirma a sua condenação da violência especialmente originada pelo ódio, nomeadamente o antissemitismo, o racismo, a xenofobia, a intolerância, que nos lembra os tempos mais negros da nossa história recente, que atenta contra a dignidade humana e o respeito pelo outro”, lê-se.

Na nota, Marcelo Rebelo de Sousa transmite, “neste momento de grande dor”, “toda a solidariedade fraterna e sentido pesar às famílias das vítimas, bem como às autoridades australianas e ao povo da Austrália”.

Também o Governo português condenou veementemente o ataque, classificando-o como "um ato hediondo de antissemitismo".

"O Governo português condena veementemente o ataque contra a celebração de Hanukkah em Bondi Beach, na Austrália - um acto hediondo de antissemitismo", afirmou, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Na nota, o executivo expressa "sentidas condolências às famílias das vítimas, ao povo e autoridades australianas, bem como a toda a comunidade judaica".

Comunidade internacional condena ataque "terrorista" e "antissemita"

A comunidade internacional também condenou o atentado, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a dizer estar “chocada com o trágico ataque na praia de Bondi”, enviando as “mais sinceras condolências às famílias e entes queridos das vítimas”.

“A Europa solidariza-se com a Austrália e as comunidades judaicas em todo o mundo. Estamos unidos contra a violência, o antissemitismo e o ódio”, disse Von der Leyen através de uma mensagem na rede social X.

Por seu turno, a alta representante europeia para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, acrescentou que “este ato atroz de violência contra a comunidade judaica deve ser veementemente condenado” e insistiu que “a Austrália é um dos países mais próximos da Europa e estamos plenamente solidários com o povo australiano”.

“Notícias profundamente perturbadoras chegam-nos da Austrália”, declarou o chefe do governo britânico, Keir Starmer, no X.

“O Reino Unido envia os seus pensamentos e condolências a todas as pessoas afetadas pelo terrível ataque perpetrado na praia de Bondi. Estou a ser mantido informado sobre a evolução da situação”, acrescentou o governante britânico, país que partilha o monarca com a Austrália.

A França “continuará a lutar sem fraqueza contra o ódio antissemita”, garantiu o Presidente francês Emmanuel Macron, pouco depois do anúncio deste ataque.

Já o chanceler alemão, Friedrich Merz, disse estar "sem palavras", após o ataque ocorrido em Sydney, na praia de Bondi.

"É um ataque aos nossos valores comuns. Temos de pôr fim a este antissemitismo — aqui na Alemanha e em todo o mundo", afirmou o líder alemão, numa mensagem publicada no X.

O primeiro-ministro belga, Bart de Wever, também publicou uma mensagem nas suas redes sociais, salientando: “o antissemitismo não tem lugar nas nossas sociedades e devemos enfrentá-lo com determinação inabalável”.

O primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof, disse ter “transmitido a sua solidariedade” ao governo australiano “neste dia sombrio para a Austrália”.

“Condenando mais uma vez com firmeza qualquer forma de violência e antissemitismo, a Itália expressa as suas condolências às vítimas e permanece próxima dos seus entes queridos, dos feridos, da comunidade judaica e renova a sua amizade ao povo australiano”, escreveu no X a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

A praia Bondi, a leste de Sydney, é a mais famosa da Austrália e a ela acorrem um grande número de turistas, surfistas e nadadores, especialmente durante os fins de semana.

*com Lusa

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