Leo Capelossi cresceu com a influência natural do mundo dos negócios da família, nos bares e restauração, a ouvir o pai sempre dizer que também o filho seria empreendedor. Mas não era o que ele queria, estava apostado em ingressar no mercado de trabalho formal. E também contra a expectativa do pai que seguisse Direito, preferiu estudar Marketing em São Paulo, no Brasil."Mas eu acho que a minha real formação veio de ser um headhunter. Depois da faculdade, como gostava muito das startups, entrei na Michael Page, que foi uma escola para tudo", recorda Leo, com o seu sotaque brasileiro. “Não sei se conheces alguém que seja headhunter” – começa por me perguntar, e prossegue: “Mas imagina: hoje recrutas para uma indústria de iogurtes, amanhã para uma empresa de tecnologia, depois para uma fábrica de tapetes, e assim por diante. Acho que se aprende muito sobre o mundo ao trabalhar numa empresa assim, adquirindo uma verdadeira formação de vida e de negócios no universo dos headhunters.”É através da multinacional de recrutamento, onde Leo trabalha seis anos, que entra em Portugal. “Convidado a ir para Lisboa, aceitei e percebi rapidamente que a cidade era muito mais do que eu imaginava em termos de negócios. Se, por um lado, o mercado era mais tradicional e pequeno comparado com São Paulo, por outro, a área da tecnologia revelou-se muito mais interessante do que eu esperava, com eventos como a Web Summit e um ecossistema em crescimento”, recorda.Com 29 ou 30 anos, Leo percebeu que estava na altura de mudar. “Curiosamente, a Demium, uma incubadora de startups, era um dos meus clientes. Comecei a explorar melhor o mercado e descobri que essa incubadora, originalmente de Valência, estava a expandir-se para Portugal. Quando falei com eles, senti uma sintonia imediata. Disseram-me: ‘Somos uma incubadora, criamos startups de tudo e mais alguma coisa’. Fiquei intrigado. Fui aprofundando a relação com eles, e o interesse foi crescendo até que recebi uma proposta. Acabei por aceitar e deixei a minha carreira executiva para ganhar muito menos, começar algo do zero, e fazer muito mais do que antes. Mas não me arrependo nem por um segundo.” Seguiu-se um período grande de aprendizagem, entre fevereiro de 2019 e novembro de 2021, na Demium, como responsável pelo talento em Portugal.“O nível de talento em Portugal surpreendeu-me muito pela positiva. É impressionante, por exemplo, o domínio do inglês por parte dos portugueses. Além disso, agora que já estou há mais tempo no meio, o talento empreendedor também me surpreende. Viajo bastante, nomeadamente por Espanha, por várias partes da Europa e pelos Estados Unidos, e vejo que o profissionalismo, a capacidade e a resiliência dos fundadores portugueses são realmente notáveis”, avalia Leo. No início de 2021, chegou o momento de ser o empreendedor que o pai sempre acreditou. Leo cria a The Sales Gang, uma rede de recrutamento focada em profissionais não tecnológicos, para apoiar startups e scaleups na expansão das suas equipas, que em outubro de 2023 dá lugar à ambi.careers, que já foi apoiada por hubs e incubadoras como a Unicorn Factory Lisboa, Startup Valencia e Lanzadera, também em Valência. E eis que chegamos aos dias de hoje: à startup que fundou em Portugal centrada num marketplace global de talentos verificados em áreas de negócio tecnológicas, além do desenvolvimento de software.“A ambi começou como uma consultora e ainda hoje mantemos essa linha de negócio. Foi uma estratégia minha, como fundador, baseada no modelo de bootstrap – ou seja, em vez de procurar investimento ou entrar em incubadoras para criar um negócio do zero, optámos por desenvolver uma consultora lucrativa. Esse modelo permitiu-nos financiar a criação do nosso novo projeto: um marketplace, uma ferramenta SaaS [software como serviço] que estamos agora a lançar”, explica.Através de um marketplace de talentos – num mercado de trabalho e recrutamento muito segmentado entre tech e não tech –, os profissionais especializados em áreas como vendas, marketing, operações ou capital de risco, entre outras, têm acesso a vagas de trabalho exclusivas em empresas tecnológicas promissoras, de fundos de capital de risco, startups a scaleups.Se por um lado esta plataforma vem ligar facilmente o talento às empresas, por outro lado faz a curadoria que os recrutadores teriam de fazer poupando-lhes horas de trabalho e com resultados muito assertivos. Além da curadoria de talentos, a ambi.careers oferece soluções como entrevistas por Inteligência Artificial, integrações e reports personalizados para otimizar o processo de contratação.A ambi.careers conta com mais de três mil candidatos inscritos e mais de duas mil vagas em empresas tecnológicas em Portugal, Espanha e espalhadas pelo mundo.