Acabar de vez com todas as emissões poluentes lançadas pelas indústrias, pelas atividades agrícolas ou pelos escapes dos automóveis é um desafio urgente para atingir a descarbonização. Mas não é o único, nem sequer o maior. O grande obstáculo é todo o CO2 que permanecerá na atmosfera mesmo que o planeta comece a girar já amanhã só com energias limpas. Essa é a batalha de pouco se fala e que levou Steve Oldham, CEO da Carbon Engineering, aos microfones da TSF para mais uma entrevista do Portugal Mobi Summit..A Carbon Engineering, sediada no Canadá, propõe criar fábricas um pouco por todo o globo para capturar CO2 do ar, utilizando energias renováveis para depois armazená-lo no solo ou transformá-lo em combustível líquido sintético, juntando hidrogénio. Em 2015 conseguiram, pela primeira vez, extrair dióxido de carbono da atmosfera e, dois anos mais tarde, fizeram o primeiro lote de combustível neutro em carbono.."A tecnologia que desenvolvemos para fazer a captura direta de CO2 da atmosfera permite remover não só as emissões de qualquer tipo ou de qualquer parte do mundo, mas também limpar todo o legado que se acumulou desde a Revolução Industrial", explica Steve Oldham..Há muitas formas de mitigar as consequências das alterações climáticas, diz o especialista. A transição para as energias limpas, o controlo de emissões e as mudanças de comportamentos são etapas decisivas, mas não se pode ficar por aqui: "Estamos perante um problema com o tamanho de centenas de gigatoneladas.".Uma gota de tinta na piscina.São valores inimagináveis para quem não é especialista na matéria, mas o CEO da Carbon Engineering simplifica este quebra-cabeça em várias partes: "O ponto central é o volume do CO2 que se encontra na atmosfera, esse é o problema que põe especialistas de todo o mundo em alerta.".Acabar com todas as emissões implica remover as cerca de 40 gigatoneladas que todos os anos são lançadas para a atmosfera. Essa é a meta que o planeta terá de atingir em 2050, mas a maratona vai continuar: "Na verdade, quando superarmos esta etapa, teremos removido somente uma gota de tinta numa piscina olímpica.".Para restabelecer o equilíbrio, será preciso eliminar as restantes 800 gigatoneladas que herdámos do nosso passado. Daí a urgência em desenvolver uma solução que permita chegar rapidamente a todos os cantos do mundo..Ganhar escala planetária.Se a tecnologia já existe e foi desenvolvida pela Carbon Engineering, o mesmo não se poderá dizer do modelo de negócio, que precisa ganhar escala planetária para ser bem-sucedida. "Para alcançar essa dimensão, não é viável para uma empresa suportar e operar essa tecnologia sozinha", reconhece Steve Oldham..É razão suficiente para a empresa canadiana ter certificado e licenciado a sua tecnologia de forma a que tanto países como entidades privadas possam usar essa solução para resolver os seus problemas. A ideia, no fundo, não é muito diferente do que hoje acontece com a recolha de lixo. Só que em vez de uma única entidade municipal a se ocupar dessa tarefa, são múltiplos departamentos espalhados por fábricas que tratam da sua própria poluição. Esse é o grande objetivo que a Carbon Engineering quer colocar em cima da mesa..As novas aplicações do CO2.O que fazer com todo o CO2 capturado da atmosfera é algo que não representa qualquer dificuldade, garante o especialista. Na bacia Premian, no oeste do Texas (EUA), a empresa canadiana tem, por exemplo, espaço suficiente para enterrar 100 anos de emissões do planeta sem perigo de contaminações ou vazamentos..É, aliás, como um retorno às origens em que o dióxido de carbono volta ao subsolo. Mas não é necessariamente o seu destino final. Há "inúmeras aplicações" para este CO2, nomeadamente a produção de combustível sintético neutro em carbono, que pode ser usado nos aviões, nos camiões, nos barcos e em todo o tipo de transportes pesados..E até mesmo como uma "solução temporária" enquanto não se atinge a eletrificação dos mais de "mil milhões de automóveis" que ainda circulam a combustíveis fósseis. "É preciso lembrar que não será do dia para a noite que vamos conseguir implementar as energias renováveis em todo o planeta", remata Steve Oldham..Veja tudo sobre mobilidade e o Portugal Mobi Summit em www.portugalms.com