Xadrez

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Abriu a época da caça ao voto, e não é só porque Cavaco Silva o disse. Já se sente no ar a agitação, a ambição, a antecipação. Não há semana em que não se discuta um caso político. Foram as palavras de António Costa sobre evolução do país frente a uma plateia de chineses - e o aproveitamento do governo de um elogio involuntário da oposição. Foram os pagamentos que Passos atrasou. Foi agora a suposta lista VIP nas Finanças. Tudo casos criados e alimentados pela proximidade de umas legislativas que acontecerão logo a seguir ao verão mas cujo desfecho - ou antes, a constituição do governo que se seguirá - é talvez o mais incerto de sempre. Não é que os assuntos não tenham relevância, mas em cada um deles a discussão tem sido desviada para o acessório, conforme as conveniências de quem a conduz em cada um dos lados. A razão é simples: se pouco está decidido - basta ver as sondagens que vão saindo - quanto às cores da próxima legislatura, todas as possibilidades de acordos estão em aberto. Essa perceção sente-se nas movimentações dos maiores partidos que fazem o xadrez político. No PS traçam-se propostas de caminhos, algumas à boleia do acontecimento da semana. Insatisfeito com as explicações de todos os responsáveis na comissão de inquérito, o PS vai enviar o caso da lista VIP para o Ministério Público, para que seja tratado como crime. Enquanto isso, em Matosinhos, Álvaro Beleza leva às bases socialistas a proposta de que os titulares de cargos políticos passem a ser obrigados a fazer o striptease fiscal ou, no mesmo sentido, que se acabe de vez com o sigilo. Na outra bancada, as fragilidades são igualmente notadas - e aproveitadas. E apesar de faltarem seis meses para as eleições já se antecipa um futuro em que Passos Coelho, derrotado, deixe a liderança do PSD, com grupos de apoiantes de pelo menos seis potenciais sucessores a posicionarem-se para a fila da frente. É muito cedo para saber quais são as peças que ficarão em vantagem, mas as primeiras jogadas contam. E quem revelar mais poder de antecipação ganhará pontos que podem revelar-se fundamentais para um desfecho que se incline mais para um lado do que para o outro. É com isto que jogam o PS e o PSD.

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