Mariano Rajoy

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Na noite de 14 de Março de 2004, em que Mariano Rajoy perdeu as eleições para Rodríguez Zapatero, a tentação do PP espanhol de justificar a derrota com os terríveis atentados de Madrid e o medo do terrorismo era incontornável. Só tinham passado três dias. Mas essa era, também, uma leitura demasiado simplista. É que dos atentados não se podia (nem pode) dissociar a desastrosa gestão política dessa tragédia feita por Aznar e o seu ministro do Interior, Angel Acebes, ou a sua ministra dos Negócios Estran- geiros, Ana Palacio. Não se pode dissociar o grosseiro controlo dos meios de comunicação públicos, em particular da TVE. Esse foi o retrato de um PP manipulador que ficou e, para tragédia de Rajoy, permanece até hoje sob a sombra tutelar de Aznar.

Mariano Rajoy foi o mais contido de todos os dirigentes do PP nesses dias que abalaram a Espanha, mas hoje, passados dois anos,não conseguiu livrar-se do peso desse PP mais trauliteiro. Pior: parece contaminado pelo radicalismo de todos os que vêem nos atentados e na investigação uma cabala urdida pelo PSOE contra o PP. A polémica que agitou Madrid nos últimos dias à volta da mochila que tinha a bomba que não rebentou foi um péssimo sinal e Rajoy saiu dela de rastos.

Este foi um comportamento político que aproximou Rajoy dos ziguezagues de Acebes e Aznar sobre a autoria dos atentados. Na altura, estes foram os protagonistas de gestos e palavras que avivaram na memória dos espanhóis o largo historial de manipulação que o mesmo Governo que produzira um milagre económico já tinha. Todos se lembravam das mentiras do naufrágio do Prestige, do avião militar que caiu na Turquia provocando a morte de 67 militares espanhóis e da polémica grosseira de Aznar com os familiares das vítimas sobre as condições de segurança do avião e as identificações dos cadáveres, do logro das famosas provas das armas de destruição maciça do ditador iraquiano.

Foi cada uma destas razões e as más respostas de Aznar a cada uma delas que o fizeram naufragar. Foi tudo isso que criou nos espanhóis a ideia de, tal como em 1996, com o PSOE, estarem de novo confrontados com um Governo de dupla moral, dupla verdade e entregue a um delírio compulsivo de manipulação política. Por isso transformaram as eleições numa rebelião cívica e democrática contra a mentira. E é isso que o PP ainda não entendeu, é disso que Rajoy terá de libertar-se para algum dia conseguir ser alternativa a Zapatero.

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