Maria Barroso

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O desaparecimento físico de Maria Barroso, apesar de esperado, porque de certa forma nos preparou para ele, constituiu uma enorme consternação.

Consternação com fundamento. Foram numerosos os testemunhos que sublinharam a sua estatura enquanto mulher, enquanto cidadã, enquanto mãe, enquanto esteio da família, enquanto pedagoga, enquanto disseminadora da cultura, enquanto promotora de causas ao serviço do desenvolvimento humano, da enquanto primeira-dama, função no exercício da qual, ao longo de dez anos, nos representou com uma dignidade e uma distinção que nos encheram de orgulho e nos preencheram tantos desencantos na nossa vida coletiva.

Falar de Maria Barroso é, simultaneamente, fácil e difícil.

Fácil, porque as suas qualidades pessoais e humanas eram reconhecidas intuitiva e alargadamente.

Difícil, porque a enorme dimensão da sua personalidade, o seu multifacetismo, a sua generosidade, a sua discrição, o seu espírito de profundo respeito pelos outros, a sua coragem e firmeza na luta por ideais concretizáveis e a sua permanente disponibilidade para se doar, são de difícil expressão através de palavras. Os seus atributos conquistaram-lhe um reconhecimento alargado que atravessa um largo espetro político e social, mas também várias gerações. Foi comovente a homenagem que milhares de pessoas, ao longo de muitas horas, lhe prestaram no Colégio Moderno, num testemunho silencioso e emocionado de respeito por figura tão sublime. Um mar de pessoas e um mar de flores!

As suas doçura e sensibilidade, cruzadas com uma cultura transbordante, mexiam com os nossos corações. Sempre que declamava os nossos grandes poetas, a sua força interpretativa marcava-nos e vai continuar a marcar-nos profundamente.

Fundadora do Partido Socialista - a única mulher - foi ativista política quando era arriscado sê-lo e pagou um alto preço por isso. Mas não se amedrontou. Lutava sempre pelos seus ideais, em múltiplas áreas de intervenção e fez da sua vida uma vida exemplar.

A sua serenidade, doce e terna, faz-nos acreditar que o coração pode ser o órgão do pensamento, pois foi uma construtora infatigável do bem, no ser e no estar e estava sempre onde era preciso que estivesse. Por isso, o seu desaparecimento nos deixa com uma tão grande sensação de vazio. Mas quando uma vida se transcende a ela própria, deixa marcas que não desaparecem e que continuam a ser nosso farol.

Maria Barroso, uma senhora cuja luz não se apaga!

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