Lennon

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25 anos depois da sua morte, John Lennon pode ser ainda fonte de curiosidade. E entre a oferta de livros, DVD e discos pensada para assinalar a efeméride, não faltam novas propostas de olhar sobre o homem a quem cinco tiros de Mark Chap- man tiraram a vida a 8 de Dezembro de 1980. Às discotecas chegaram uma nova antologia em disco (Working Class Hero), duas reedições (Sometime In New York City e Walls And Bridges) e um DVD (Imagine). Pelos quiosques de todo o mundo capas de revistas são inundadas com o rosto de Lennon. E, ao mesmo tempo, os escaparates dos livros acolhem John Lennon Listen To This Book, de John Blancey, John Lennon The New York Years, de Bob Gruen, e a colecção de imagens Remembering John Lennon 25 Years Later (da Time Life) e, sobretudo, os muito esperados John, memórias assinadas pela sua primeira mulher, Cynthia Lennon, e Memories Of John Lennon, de Yoko Ono. O mesmo homem visto pelas suas duas mulheres. E, aqui, as grandes marcas de diferença.

John Por Cyntiha. John, a biografia do ex-Beatle pela sua primeira mulher, Cynthia Lennon, está a revelar-se um dos maiores sucessos editoriais da Inglaterra de finais de 2005, e destaca-se pelo ponto de vista distinto que oferece perante a concorrência nos escaparates. Cynthia, que já tinha publicado uma biografia azeda nos anos 70, depurou amarguras e dores antigas, e leva às 400 páginas deste livro uma colecção de memórias de que não apagou a sua visão necessariamente próxima e emotiva.

O livro começa por nos descrever como Cynthia Lennon recebeu as notícias da morte do ex-marido e de como as fez chegar ao seu primeiro filho Julian (desdramatizando supostas interferências na viagem a Nova Iorque que este imediatamente fez, juntando-se então ao meio-irmão Sean e a Yoko Ono). Em flashback, mergulhamos depois numa viagem pelas memórias mais antigas de Lennon, começando nos dias em que se encontraram nas cadeiras da escola de artes (Lennon alheado dos assuntos, Cynthia entusiasmada e dedicada) até à bola de neve de eventos que fizeram dos Beatles a mais popular banda do mundo. Cynthia recorda com pormenores "familiares" as primeiras actuações de Lennon, McCartney e Harrison, a odisseia dos Quarrymen, a transformação do grupo nos Beatles, as entradas (e saídas) de cena de Stuart Sutcliffe e Pete Best, a chegada de Ringo, de Brian Epstein, de George Martin. Mas também as cenas de difícil vida doméstica de um John cedo afastado dos pais, entregue à rígida e pouco entusiamada tia Mimi, que até tarde resistiu à ideia fixa rock'n'roll do sobrinho. E, claro, cenas várias do romance entre ambos, como pormenores do romance, como as muitas cartas de Hamburgo de John a Cynthia, com notas por ele escritas no envelope para o carteiro, pedindo-lhe que corresse para a sua amada a entregar-lhe aquelas palavras.

John procura contar a versão menos mediatizada de uma história tão próxima de Lennon como mais ninguém exterior aos Beatles conheceu, entre finais de 50... e a chegada de Yoko Ono. É certo que temos de contar com o filtro opinativo de quem viveu uma etapa com paixão e outras sob amargura, mas a essência dos momentos de descoberta na Liverpool de inícios de 60, em Hamburgo e, mais tarde, no mundo conhece aqui uma perspectiva que nenhum outro biógrafo pode dar.

John Por Yoko. Memories Of John Lennon não é ainda a autobiografia da vida conjunta de John e Yoko que um dia certamente chegará ao papel. É, antes, um livro partilhado de desenhos, fotografias e poemas de Lennon e Yoko, relatando a vida do ex-Beatle desde os dias da infância até à morte em 1980. Junta contribuições de amigos (ver caixa) e a integral da derradeira sessão de fotos de Annie Liebovitz, na tarde em que foi assasinado. Yoko Ono assume-se essencialmente como editora, mas não deixa de traçar as suas visões sobre o homem com quem viveu anos de romance, activismo e música. Yoko, a mulher mais influente na vida artística de Lennon, chega mesmo a reflectir sobre o que seria um John vivo nos dias de hoje. Um homem que, acredita, estaria encantado com as potencialidades da Internet e que certamente passaria horas frente ao computador a comunicar com os seus admiradores pelo mundo fora. Apesar do rol de convidados, este livro não está a ter o acolhimento do volume de Cynthia. A rivalidade entre mulheres mantém-se viva.

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