Fidel Castro
A crise intestinal de Fidel Castro abriu o processo político da sua sucessão e desatou o nó de um novo tempo histórico em Cuba. Como era previsível já há muito tempo, a liderança do país foi entregue ao seu irmão, Raúl Castro, o homem que domina com mão de ferro todos os instrumentos mais repressivos do regime, como as forças armadas e a polícia secreta. Já se sabia mas importa reafirmá-lo agora: com Raúl Castro não há transição política possível, só a defesa intransigente de um legado revolucionário decadente e mergulhado na corrupção.
As esperanças de alguma abertura foram liquidadas há dois anos com a execução sumária de três jovens que tentaram sequestrar um barco para viajar para a Florida e a aplicação de penas de prisão a 75 dissidentes com uma alegada conspiração dos EUA e da "mafia terrorista" de Miami.
Fidel Castro recuou então no tempo histórico e político demonstrando que permanecia aquilo em que se foi transformando logo desde os alvores da revolução cubana: um ditador fossilizado que necessita desesperadamente de manter viva a chama dos históricos inimigos externos para tentar o impossível, ou seja, suavizar o avanço imparável da sua asfixia política. Optou por permanecer no patamar clássico da relação dos países do socialismo real com a dissidência, ou seja, a aniquilação pura e simples. Já aí antecipava a decisão de que nunca abriria mão do poder e muito menos consentiria veleidades democratizantes. Numa penada exterminou alguma razão moral que lhe poderia ser reconhecida devido ao estúpido bloqueio norte-americano ou à ganância sem regras do lobby cubano da Florida.
Ao avançar para uma vaga de re-pressão que só tem paralelo nos anos 70, Castro decretou o fim de todas as possibilidades de uma transição democrática mais ou menos suave. Esse era o caminho pretendido por largos sectores que vão desde gente do próprio Governo cubano até aos dissidentes que permaneceram no país, como o histórico Elizardo Sanchez e um amplo espectro de intelectuais e artistas cubanos que recusam uma via maniqueísta entre o regime e os cubanos de Miami. Esse poderia ter sido também um caminho que reconciliasse dentro do possível o próprio Fidel Castro com uma saída decente do palco histórico. Agora, se alguma dúvida houvesse, o velho dinossauro cubano clarificou tudo: a governação de Cuba é um assunto doméstico da família Castro.