António Mega Ferreira vai ser o novo presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Cultural de Belém (CCB). A notícia foi confirmada ao princípio da noite de ontem, pela ministra da Cultura, numa declaração lacónica lida aos jornalistas no Palácio da Ajuda. Sem deixar espaço para quaisquer esclarecimentos adicionais, Isabel Pires de Lima comunicou a exoneração de João Fraústo da Silva, o convite ao ex-comissário da Expo'98 e a intenção de alterar os estatutos do CCB/Fundação das Descobertas, por forma a permitir a sua abertura aos privados.
O despacho de Pires de Lima produziu efeito a partir de ontem e, de acordo com a própria ministra, foi comunicado a Fraústo da Silva (cujo mandato apenas findava em 2007) numa audiência realizada durante a tarde. Pouco depois, António Mega Ferreira era também recebido no gabinete da Ajuda, para ouvir de viva voz o convite sobre o qual corria notícia há cerca de duas semanas e que "prontamente aceitou". A sua nomeação acontecerá no dia 6 de Fevereiro.
A substituição acontece ao fim de duas semanas de controvérsia em torno do acordo entre o Estado e o empresário Joe Berardo, para transferir a sua colecção para o CCB. Um assunto resolvido directamente pelo primeiro-ministro, José Sócrates, sem qualquer intervenção do CA.
Um ponto de convergência entre o Governo e António Mega Ferreira. Este revelou ao DN que a sua "única condição" para aceitar o cargo foi a "visão estratégica do Governo", no sentido de "lançar um plano de aproveitamento de todo o potencial que o equipamento tem, já na perspectiva de acolher a Colecção Berardo e de consolidar a programação, seja no Centro de Exposições, no Centro de Espectáculos ou na área educativa"."Era a única condição que me parecia interessante e estimulante, tanto que me levou a aceitar mudar o meu estilo de vida, e com algum sacrifício, pois ultimamente tinha-me dedicado apenas à escrita", enfatizou o escritor e colunista.
A substituição na liderança do CCB, explicou a ministra na sua intervenção, justifica-se pela "necessidade de conferir uma nova orientação, que lhe imprima uma dinâmica consentânea, por um lado, com o programa do XVII Governo, e, por outro, com as novas valências de intervenção cultural, nacional e internacional." Além disso, Isabel Pires de Lima defendeu a "necessidade de se definir um novo perfil de gestão, que seja capaz de implementar as novas orientações político-culturais".
privados em Belém. Nessa declaração, Isabel Pires de Lima deixa entender que Mega Ferreira está em sintonia com as intenções da tutela. E estas passam, avançou a ministra, por abrir as portas do CCB à "sociedade civil". Recorde- -se que essa alteração de estatutos havia já sido admitida como hipótese pela ministra, numa entrevista recente ao Expresso. Uma ideia a que Fraústo da Silva respondeu, em entrevista ao Público, afirmando que essa seria a única forma de "escapar a uma tutela irresponsável" e ao seu desinvestimento no CCB.
Situação financeira. Confrontado com a situação de défice e mesmo de estrangulamento financeiro indiciada pela instituição, Mega Ferreira limitar-se-ia a observar-nos "Não tenho a certeza de que seja assim." Quanto à combinação entre financiamento público e privado no modelo de gestão, considerava ainda "tudo em aberto", ficando aquém do que a ministra Isabel Pires de Lima avançara entretanto.
"Vou olhar com muita atenção para os números e não posso adiantar mais nada, neste momento tenho de estudar primeiro qual é a situação real da fundação e encontrar alguma forma de consolidar a actividade, numa perspectiva que tem a ver com o equipamento cultural, que tem de ter programa cultural nas várias áreas duma programação própria, embora acolha produções externas", rematou António Mega Ferreira, a preparar-se para ser o quarto presidente da Fundação das Descobertas numa década.
João Fraústo da Silva abandona o CCB após dez anos como presidente do Conselho de Administração, cargo para que foi convidado pelo então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.