São João

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Nesta noite há São João. As marchas descerão do Alto das Covas à Praça Velha, com as raparigas repenicando os dedos num trejeito vaidoso. Nas janelas haverá floreiras e colchas, feitas à moda antiga, e no ar um cheiro a algodão doce.

Nesta noite há São João. Os mais velhos ocuparão as suas cadeiras, posicionadas há que dias nos passeios, e os mais novos embriagar-se-ão brandamente, lá em baixo no Pátio da Alfândega, até que chegue a hora de partir a sua marcha.

Filas tentarão circular pelas bermas e, ao passar uma filarmónica, atravessarão a correr, numa contrição. Vogarão carrinhos de bebé, muitos carrinhos de bebé, e os casais formados com escândalo em 2013, desfeitos dois casamentos que se julgavam sólidos, passearão pela primeira vez de mão dada, após a sua edição de nojo.

Da décima marcha em diante, as colunas começarão a alongar-se, somando os que já dançaram e querem dançar outra vez. Haverá rimas cruzadas e melodias esquemáticas, mas cada vez menos: letristas e compositores vão aprendendo a arte da declinação, e em todo o caso o aplauso do povo é sempre igual.

Nesta noite há São João. Os mega bass estarão lá longe, fora do coração da festa, e os mictórios ao ar livre também. Suceder-se--ão as fachadas de Angra, contando sozinhas metade da história de Portugal, e em cada esquina se ouvirá falar português com sotaque - da Califórnia, da Nova Inglaterra, de Toronto.

Não há as raparigas da ginjinha, neste ano, e o Capareira não marcou a festa do costume, porque a Marlene teve um bebé. Mas vêm os Pereiras, com os pequenos, e a Tasca do Bode Velho faz uma sandes de feijoada que só se fazia no Ti José Gaspar, ali à Rua da Esperança, e que parece conter em si a festa inteira.

Nesta noite há São João e será lindo, porque é sempre lindo e para o ano há São João outra vez.

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