A norma n.º 15/2017 da Direção-Geral da Saúde (DGS), publicada a 13 de julho, define as regras de funcionamento da Via Verde através da qual se pretendia tratar melhor o doente com suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC). E a partir desta altura, tudo mudou. Um telefonema para o 112, em que os sintomas indicam a mais leve suspeita da doença, tem de ser tratado como emergência médica - total prioridade no acesso ao socorro pré-hospitalar, INEM com ambulância adequada, e total prioridade na urgência do hospital mais próximo com unidades adequadas ao tratamento do AVC. “Cada hospital com unidades AVC tem a sua própria Via Verde. A equipa médica tem um telemóvel só para atendimento da Via Verde e quando recebemos um telefonema preparamo-nos para receber o doente à porta da urgência”, explica Teresa Melo, coordenadora da Unidade AVC de Santa Maria. O doente tem prioridade na realização de exames, TAC ou Ressonância, para confirmar o diagnóstico e decidir-se o tratamento. A criação da Via Verde “veio salvar vidas”, dizem-nos, permitindo que o diagnóstico e o tratamento fossem feitos mais precocemente e o mesmo aconteceu com a criação da Urgência Metropolitana para a Neurocirurgia em Lisboa. Ao todo, existem quatro unidades nesta região, a funcionar nos hospitais Santa Maria, São José, Egas Moniz e Garcia de Orta, que tratam estes doentes e que passaram a funcionar rotativamente. Desta forma, “sabe-se sempre quem está a funcionar e para onde o doente deve ser levado, sem falhas”, explica Teresa Melo. Este modelo de rotatividade teve início em 2016, mas só aos fins-de-semana, e cada hospital assegurava urgência uma vez por mês. Mas, em 2018, a morte de um doente em São José, devido a intervenção tardia nesta área, levou o ministério a alargar o modelo a todos os dias da semana. . “Quando o horário diário termina em cada hospital, há sempre uma unidade dos outros hospitais que fica a receber casos que possam surgir”, especifica Luísa Biscoito. A médica concorda com o modelo, mas aproveita o Dia Nacional do Doente com AVC para lançar outro alerta: “É preciso melhorar o transporte intra hospitalar. Por vezes, aparece-nos um doente que já não pode ser intervencionado cá, o hospital pode não ter facilidade em arranjar ambulância para o transportar para a unidade indicada e é tempo que se perde”. A neurorradiologista destaca os avanços “nos últimos anos em termos de tratamento, até a nível da tecnologia”, considerando que, hoje, “é possível tratar melhor o doente, sem ficar com tantas sequelas. A trombectomia foi uma grande mudança”, mas a nível de recursos humanos “não há assim tantos especialistas como seria desejável, e estes estão onde devem estar, concentrados nas unidades preparadas para o tratamento da doença, portanto é preciso melhorar todos os meios que existem à volta e que são necessários para tratar o doente”. Luís Biscoito lembra: “O que foi conseguido até agora exigiu muito trabalho, não foi automático, porque é um circuito de cuidados que tem de funcionar, a bem do doente, mas que temos sempre de tentar melhorar”. Como diz, “o tempo é cérebro”, temos de continuar a tentar melhorar “os tempos, encurtando-os”, mas também o que, neste momento, está fora do controlo do hospital, que é o transporte. “A partir do momento em que o doente entra no hospital. A situação está controlada pela equipa que o espera e que está a otimizar todos os parâmetros, mas o transporte até ao hospital e entre as unidades não. E isso, por vezes, é muito frustrante, porque vemos o tempo passar enquanto esperamos por um doente que sabemos que deve ser tratado mais rápido possível”. .E depois do AVC? “É fazer tudo para voltar a ter uma vida boa, mesmo que não seja igual à anterior”