Ainda a cadeira de Pinto da Costa não tinha arrefecido quando o seu sucessor na presidência do FC Porto, André Villas-Boas, foi confrontado com o veredicto da UEFA: uma multa de 1,5 milhões de euros por “dívidas vencidas a outros clubes de futebol, funcionários e/ou autoridades sociais/fiscais”. O não-cumprimento do fair play financeiro valeu ainda aos “azuis e brancos” uma pena suspensa de um ano das competições europeias caso não sejam cumpridos os requisitos de solvência nas duas épocas seguintes.O FCP foi notificado a 19 de abril de 2024, mas só a 17 de maio a decisão da UEFA foi conhecida oficialmente. O hiato entre as datas, que coincidiu com a as eleições para a presidência dos dragões, levou Villas-Boas a acusar, na época, o seu antecessor de ter “estrategicamente omitido” a situação financeira do clube que, admitiu, estar a causar “muita pressão na atual gestão”.Depois de ter destronado o antigo dirigente nas eleições de 27 de abril de 2024, com 80% dos votos, o recém-empossado líder do FCP viu-se a braços com a tesouraria deficitária do clube da Invicta, mergulhada numa situação de falência técnica.No exercício de 2022/2023, as contas da SAD portista registaram o terceiro maior prejuízo da sua história, com um resultado líquido negativo de 46,7 milhões de euros. Pinto da Costa garantiu ser redutor olhar “unicamente para um número” e lamentou ainda que a transferência de Otávio para o clube saudita Al Nassr tenha derrapado para agosto, impossibilitando, desta forma, o reflexo na caixa do negócio de 60 milhões de euros no exercício terminado a 30 de junho.No ano seguinte, 2023/2024, e apesar de ter melhorado os resultados líquidos, a SAD dos dragões somou prejuízos de 21 milhões de euros. No último exercício da responsabilidade Jorge Nuno Pinto da Costa foram reportados capitais próprios negativos de 113,8 milhões de euros que comparam com os 176 milhões de euros do ano anterior. O ativo subiu 51 milhões de euros para um total de 407,1 milhões de euros à boleia da valorização do Estádio do Dragão, avaliado em 213 milhões de euros.Ainda assim, e face ao passivo apresentado de 521 milhões de euros (que recuou 11,4 milhões de euros) o cenário de falência técnica manteve-se com uma diferença negativa entre ativos e passivos de 114 milhões de euros..Pinto da Costa. O “homem solto” que fez a “mudança radical” no futebol nacional.Auditoria coloca a nu 10 anos da gestão de Pinto da Costa.A promessa de passar a pente fino as contas da última década foi feita ainda durante a campanha eleitoral. André Villas-Boas assegurou que, caso conseguisse colocar fim aos 42 anos de presidência de Pinto da Costa, iria entrar “de forma agressiva” nas malhas da anterior gestão. O objetivo, justificou, passava por “identificar e corrigir irregularidades passadas para garantir uma gestão ética, responsável e transparente”.A palavra foi cumprida e a 15 de janeiro a nova administração dos dragões apresentou as conclusões da auditoria forense, realizada pela consultora Deloitte. Olhando para as 879 transações das épocas entre 2014/15 e 2023/24, constatou-se que foram pagas comissões inflacionadas em mais de metade das contratações, com valores acima dos referenciais da FIFA, o que resultou numa perda de 50 milhões de euros para o clube. No período em análise, foi contabilizado um montante total de 158 milhões de euros pagos em comissões acordadas, sendo que metade desta fatia foi direcionada para oito agentes.O FCP perdeu ainda 5,1 milhões de euros que resultaram de irregularidades na venda de bilhetes para os jogos à claque dos Super Dragões. A auditoria coloca ainda a nu gastos indevidos da antiga administração, e que carecem de documentação justificativa, em despesas com veículos, joias, refeições e viagens.Naquela que foi a sua última manifestação pública, Pinto da Costa acusou a investigação de ir “ao encontro do que pretendia quem a encomendou” difundindo uma “série de informações descontextualizadas”. Sobre as comissões acrescentou, em comunicado, “esperar” e “desejar”que a investigação prossiga para que possa apurar-se se o tão relevante valor referido pela auditoria como indevido”.No mesmo documento negou ainda as acusações da atual administração dos “azuis e brancos” de que deixou apenas 8 milhões de euros nas contas do FCP. “Desejo um FC Porto ganhador (...) esteja quem estiver a dirigi-lo”, concluiu.