O espectáculo a solo O Salvado já estreou no Porto e está agora no Teatro São Luiz, em Lisboa. Como foi a receção do público? Foi muito boa. Acho que as pessoas ficaram surpreendidas com aquilo que o solo transmite. Que reações é que ele provoca? Tem a ver um bocadinho com a emoção, um coisa mais íntima e o humor, entre o riso e o choro. E isso é bonito, toca muito as pessoas. E deve ser uma mistura, talvez, de quem eu sou. Mas também pessoas que não me conhecem, nem por dentro, nem por fora, nem privaram e eventualmente até nem viram nenhum espetáculo meu, conseguem comover-se na mesma. Não tem a ver com um conhecimento da pessoa que estão a ver agora, já depois de tanto tempo, outra vez no palco. Não tem a ver com essa nostalgia, mas com uma outra coisa, com a construção do próprio espetáculo.Quem é o público da Olga Roriz?Acho que é um público muito vasto e muito eclético, que vai desde receber uma mensagem lindíssima de um menino de 20 anos, rapaz, até uma geração mais ativa, dos 30 anos, até às pessoas da minha idade. Não há grande distinção. São pessoas que gostam de arte, que gostam de ver espetáculos, artes performativas, que gostam de ver dança também.E às vezes o meu trabalho toca também aquelas pessoas que gostam muito de dança, mesmo que seja clássica, mas que de repente encontram uma ponte que tem a ver com as histórias, com uma dramaturgia. Há um público de dança que não gosta do lado muito concreto e abstrato da dança, que não está a perceber nada do que se está a passar, não se revê na linguagem. E não quero dizer que aquilo que eu faço esteja datado, penso que não está, está sempre em evolução, mas que tem esse pendor emocional, teatral, mesmo que não tenha palavras – por acaso este espetáculo tem –, mas mesmo sem palavras, como no caso do Peter Handke, A hora em que não sabíamos nada uns dos outros, que tinha também essa reação unânime de um público muito vasto.Toca guitarra em O Salvado e disse numa entrevista que o espetáculo tinha mesmo de ter guitarra. Porquê?Tem um pouco a ver com um dos textos que escrevi sobre a minha geração, e com uma frase que aparece a meio, onde eu digo que sou o eco de uma bomba atómica e o som de uma guitarra elétrica, que tem a ver com a geração dos anos 60, 70. E depois, talvez, porque aquilo que eu não me via nunca a fazer era a tocar uma guitarra elétrica. Procurar algo que - nunca toquei nenhum instrumento, muito menos guitarra - algo que fosse inusitado.Não tem medo de sair da sua zona de conforto?Eu tenho medo é de não sair da zona de conforto. Disso é que eu tenho medo. Sair da zona de conforto é a aventura, é o risco, é a viagem. Senão, não há viagem.Como é que tem conseguido manter esse espírito ao longo de 50 anos de carreira e 30 anos de Companhia Olga Roriz?Tem a ver com o meu espírito interior de artista. Parece simplório dizer isto, mas, na realidade, o que é que diferencia um artista, um criador, das outras pessoas? É essa urgência de imaginar, urgência de criar, urgência da utopia, de estar sempre com a cabeça a fervilhar de ideias ou à procura delas ou a observação do mundo de uma forma diferente. Isso alimenta-me imenso. E é isso que faz a locomotiva estar sempre a andar, porque está sempre a ser alimentada. Seja de dentro para fora ou de fora para dentro. No texto de apresentação de O Salvado fazem-se várias perguntas: “O que não morreu ainda nela e do que conseguiu, afinal, libertar-se? Que corpo é este agora? Que histórias restam para contar?” ....Essas questões eram questões primordiais que eu teria que fazer. Esse texto foi escrito há muito tempo. Agora, não escreveria o mesmo sobre o espetáculo. Mas essas foram mesmo as primeiras questões que eu me pus na primeira residência que fiz. Fiz seis residências ao longo do ano de 2024. E na primeira, em Aveiro, eu sozinha naquele estúdio perguntei-me: O que é que vais fazer agora? E o que é que queres fazer?. As questões foram postas no ar, mas eu não tinha respostas e não sei se tenho respostas. A resposta que tenho é o espetáculo que fiz. Agora, se me perguntar que corpo é este, é o corpo de uma mulher de 70 anos, que teve a carreira que teve, que teve a vida que teve a nível físico, onde certas coisas estão muito mais capacitadas do que na maior parte das pessoas, enquanto outras estão degeneradas por causa dos seus maus-tratos ao longo dessa vida. Do que é se libertou ao longo destes anos?Do que é que me libertei? Uma coisa específica: do pudor. Eu dispo-me neste espetáculo. Integralmente. Uma coisa que era impensável para mim quando tinha um corpo todo bonito dos 30 anos, 40, até mesmo dos 50. Agora era mesmo o sítio? Não, agora é que não te vais despir... Mas, de alguma forma, o ano de 2023 foi muito importante também pelo cruzamento de pessoas que conheci, até de novos amigos, que me trouxeram outras maneiras de me ver e de ver, de aceitar o corpo de uma outra forma. Não sei, deixei-me ir. Foi na residência dos Açores, acabei por fazer uma cena que me interessou imenso. Porque faço muitas improvisações. Há coisas que podem ser ideias para desenvolver, há outras que têm princípio, meio e fim, deixo passar o tempo, olho para trás, e digo: isto é maior do que aquele momento e interessa-me para pôr no espetáculo. E foi isso que aconteceu quando fiz aquela cena e me despi, e que depois comentei, como se fosse outra pessoa, o disparate que é aquela mulher de 70 anos estar ali no palco, naqueles preparos... É o humor de que falou... Achei isso muito engraçado. Antes que alguém comece a dizer, mas agora pôs-se nua... ainda nem sequer o pensou e já eu estou a dizê-lo. E essa forma de estar, que também tem a ver com aquilo que eu decidi a meio das residências - de que ia fazer um espetáculo sobre esse material e tudo aquilo com que me estou a confrontar agora - , fez com que este espetáculo tenha uma matéria do tempo, e do brincar com o tempo e o espaço. A matéria da feitura, da criação, do processo criativo. Este é um espetáculo que tanto está completamente na poesia, como, logo a seguir, és confrontado por aquela mesma pessoa que nos estava a dar uma imagem super poética, com um corte, e a pedir outra música porque não gosta daquela. Mas essa aproximação do público e o conseguir esse afastamento ao mesmo tempo foi uma coisa com que fiquei muito feliz. E consegui, porque houve este trabalho de introspeção ao longo do tempo. E continuo com as questões, não trouxe respostas.Na parte da nudez, sente alguma reação diferente do público?A música está muito alta na altura e aquilo é muito fugaz. Não, eles riem-se às gargalhadas quando eu começo a falar da velhinha que está ali a passar. Portanto, não sinto nada quando estou nua. Sinto logo a seguir, quando já estou vestida, já pus um casaco em cima e falo sobre o momento anterior.Não há desconforto no momento da nudez?Não me sinto muito confortável, mas sei que estou muito bem defendida com a luz. Pedi à Cristina Piedade [responsável pelo desenho de luz] para me defender. Quer dizer, eu sou o que sou, vai-se ver, mas não é preciso mostrar de mais (risos). Portanto, a luz defende-me de alguma forma, aquilo que faço também, aquilo que danço, e é só mesmo um bocadinho. Não, não me sinto muito mal. E, sobretudo, gosto muito de fazer a cena a seguir. . O Salvado está agora em Lisboa e depois segue em digressão para outras cidades do país, mas a Olga já está a trabalhar noutros projetos...O que lhe interessa explorar agora?Interessam-me várias coisas. Tenho dois pratos da balança. Um deles é a criação e a produção de espetáculos, que é o caso deste, e eu gostava muito neste espetáculo de poder sair para fora de Portugal, porque é um espetáculo mais pequeno, tem só um intérprete. Ele é falado em inglês e português, pode ser tudo passado para inglês, tudo passado para português, tudo passado para francês, desde que seja uma língua que eu consiga dominar, está tudo bem. Estamos a trabalhar muito com o Brasil. Espanha também, Madrid, vamos tentar. Este espetáculo ainda vai ter uma carreira. Agora, a companhia todos os anos faz uma nova criação, já tenho o elenco para o Oásis, que é a próxima, e uma proposta de projeto de uma tetralogia de 2027 a 2030.O que nos pode dizer sobre o Oásis? Eu gosto sempre de preparar o próximo espetáculo quando acabei o anterior. Pronto, já acabei este, mas o novo ainda tem que macerar. Ideias posso pô-las no papel, e já pus algumas em relação a esse oásis interior. O que é esse oásis, é o WhatsApp? É uma coisa que tocamos e desaparece? Para onde é que temos que fugir para sentir aqui ou ali alguma tranquilidade? É no mundo em que estamos agora? É esse trabalho de que já pus uma série de questões aos bailarinos.Como é esse processo de desenvolvimento? Já escrevi imenso sobre isso, já fiz uma espécie de questionário para os bailarinos poderem pensar, já dei referências de filmes, de livros, etc. E já lhes pedi um diário sonoro. Desta vez foi sonoro, não escrito. Procurarem, no vizinho, dentro de si, em casa, na rua, procurarem em vários sítios o que é que são esses oásis, o que é que existe entre eles e as outras pessoas, e depois fazer uma espécie de pequeno arquivo, mas sonoro, e muitas outras coisas que eu pedi. E só vamos começar em março de 2026. Até lá eles estão a trabalhar sobre isso, cada um está a fazer a sua pesquisa.Trabalha muito com improvisação.Trabalho só improvisação. Faço sempre improvisação. E depois é uma trabalheira muito grande. E cada processo encaminha-nos para um modo de operar durante a criação. O início é quase sempre uma ideia que se vai pesquisar, de que dou referências, eles trazem referências, etc. Nunca começamos pela música. A música para nós não tem interesse nenhum. Não é essa a ideia, é só depois. Mas é o próprio projeto em si que nos encaminha no percurso de construção do espetáculo. Às vezes tem muito mais a ver com câmaras, com gravações, outras vezes com muita escrita... Às vezes o espetáculo acaba por ser maior do que nós. Maior no sentido em que é autónomo. De repente parece que é ele que comanda. Tomou um rumo e nós temos de ir. E isso é muito interessante.E quanto à tetralogia?Esse projeto ainda está mesmo muito na escrita. Ele chama-se Manual Incompleto da Humanidade. E então, em cada ano há um erro, o erro 1, o erro 2, o erro 3, e construir um manual sobre pequenas coisas que têm a ver muito com o nosso estar como seres humanos, da mentira, do amor... Não quero o amor, tem que ser outra coisa. Coisas que não sejam as óbvias. Mas que, no fundo, são a grande base do ser humano. E brincar com isso. Neste momento, o humor é muito importante, porque não há muito para rir neste momento. Estamos com receio de tudo o que possa vir aí. Das guerras que sempre existiram, mas que estão muito à vista.Será um reflexo do mundo em que vivemos na atualidade?É mais o reflexo em mim. Mas como também trabalho sempre com um grupo de pessoas com idades diferentes, entre os 20 e os 50 anos, vai acontecer nesta peça, no Oásis também, há sempre um cruzamento de gerações e de estares, quase de colisão, que a mim me interessa muito. Perceber o que uma pessoa de 20 anos ou de 30, 40, ou 50 possa sentir neste momento. O que é que nos une e o que é que nos é estranho. Sinto que há uma geração estranha. Há uma geração que está um bocado perdida. Sinto-o, a nível da educação, uma geração sem muita vontade. Em geral e mesmo na dança, que estamos a falar de arte, de vocações, de pessoas que estão ali porque querem. Disse que havia dois pratos da balança na sua atividade. Qual é o outro?Por um lado, eu tenho essa produção e criação artística e, por outro, há todo um projeto de atividades da própria companhia. O projeto social, o projeto de apoio aos artistas, o projeto de formação, de residências artísticas, que é uma parte significativa da companhia e que leva imenso de mim. Se eu quero algum futuro em continuidade e que exerça uma diferença, será exatamente a parte da formação, do apoio, das residências. Mais importante do que o seu repertório, será a continuidade desse trabalho “expandido”, como já se referiu a ele? Exatamente. Cada uma dessas atividades tem já uma pessoa responsável. Quase que eu podia ter já uma direção artística formada pela Catarina Câmara, o Yonel Serrano, o Bruno Alexandre e, eventualmente, a Sara Carinhas, estando ao meu lado, como adjunta da direção. São ideias.O que representa para si o projeto Corpoemcadeia?É um projeto muitíssimo importante. No início, quando a Catarina veio falar comigo e viu o meu interesse e eu comecei a perceber o que é que a a filosofia da Gestalt [modelo de intervenção terapêutica que privilegia a consciência corporal] mais o meu método criativo, com aquela intérprete – ela também tem o curso da Gestalt – juntos, o que é que ela poderia fazer e, depois, o que foi mesmo feito... Porque uma coisa é um projeto escrito que foi proposto e que teve o apoio da Gulbenkian. Mas depois é a mudança daqueles homens e a mudança em nós. Quando eu fiz o A Minha História Não É Igual à Tua foi fortíssimo. Não esqueço mais a relação com aqueles homens. A minha relação, inclusive, com a arte em si. Não sei se modificou ou não, mas ficou um bocado abalada.E tem visto impacto real na vida dessas pessoas na prisão?Existe impacto, tanto na maneira como eles modificaram o tratamento entre eles, na relação do corpo com o corpo do outro, de cada um deles com a própria família, com os próprios amigos, dos guardas com eles, deles com os guardas, de uma perspetiva de futuro... Alguns começaram a estudar lá, já saíram, um deles foi para a minha companhia, depois acabou por ir para a França. Como está esse projeto neste momento? Houve aquela grande greve dos guardas prisionais que nunca mais acabava, que neste momento está a acalmar, e podemos recomeçar outra vez o projeto. A Catarina e o Yonel vão agora, eles sim, fazer um novo espetáculo também para apresentar na Gulbenkian, com um novo grupo. E a perspetiva é abrir a outros estabelecimentos prisionais, trabalhar com adolescentes também, que estão nas mesmas situações. Mas primeiro - estou sempre a dizer isso à Catarina -, temos que formar pessoas, temos que formar dezenas de 'Catarinas' para poder ampliar o projeto.Trabalham só com um estabelecimento prisional?Trabalhamos com o Estabelecimento Prisional do Linhó e o Centro Educativo Padre António Oliveira, em Caxias. E em relação ao apoio aos artistas, tem o programa Interferências que terá uma nova edição este ano. Como é que avalia os projetos que têm aparecido? Há coisas muito boas. Há anos com mais qualidade do que outros, mas uma coisa que me toca muito e que se sente imenso é 'help, ajuda-me'. A vontade que eu tenho é de abraçar cada uma daquelas pessoas que escreveu aquele projeto, com todo o amor e carinho, com toda a vontade e com falta de condições mínimas, que às vezes é só um espaço para trabalhar. O que aconselha a esses artistas emergentes?Continuar, obviamente.Sair do país?Não, porque lá fora também não é assim tão fácil quanto isso. Não, é insistir aqui. É insistir, é perceber com os programadores, com os diretores dos teatros...É preciso abrir os teatros, os teatros fechados não. É preciso um espaço de trabalho. Um palco é um espaço de trabalho também. Não estou a falar dos grandes teatros que estão sempre com programação. Eu estive no Teatro de Ourém três semanas e não estava ninguém no teatro. Tanto no estúdio como no palco. Foi fantástico. Eu tive o palco do Teatro de Ourém durante não sei quantos dias e foi muito importante para fazer este espetáculo [O Salvado].Há muitos cineteatros e bons teatros no país. Alguns, como estão nas mãos das câmaras municipais ou das freguesias... É complexo, porque não têm programadores, porque depois é o presidente da câmara que faz a programação ou o vereador da cultura... Nós não conseguimos perceber de tudo, temos que delegar.Ainda gostava de ter uma sala própria?Isso já foi o meu sonho há muito tempo, lembram-se? Tenho outras coisas agora que são muito importantes. Tudo aquilo de que já falámos atrás, que não precisam de teatros e há espaços alternativos, mesmo ao ar livre, e consegue-se fazer muitas coisas.E a permanência no Palácio Pancas Palha, está garantida?Está garantida. Não é fácil o diálogo com a câmara, porque esta Câmara Municipal de Lisboa deve ter imensa coisa para fazer. Quando se pede qualquer coisa, demora o seu tempo. É muito burocrático. Estamos com problemas estruturais no telhado, que só a câmara pode resolver. É-nos proibido fazer obras estruturais, mas estamos com medo de infiltrações, das coisas poderem começar a ficar decadentes e não podermos continuar lá. Por enquanto não é isso que se passa, temos um novo protocolo com a câmara, ajudam-nos imenso. Estão a tentar dar-nos alguns apoios, de forma a que possa haver uma tranquilidade neste estar dentro desse sítio, porque neste momento já não é só o local para a Companhia Olga Roriz, é um local para muitas dezenas de artistas. No ano passado foram 180 artistas que por ali passaram e dezenas de espetáculos que foram ali feitos. Ou iniciados, ou acabados. Isso é muitíssimo importante, porque há muito poucos espaços em Lisboa para artistas que não têm uma residência própria para poderem criar os seus espetáculos. A Olga Roriz tem uma carreira singular no panorama da dança em Portugal. Quando uma porta se fecha vê as janelas que se abrem?Acho que tem a ver com um trabalho contínuo, com uma disciplina também. O trabalho e a disciplina são super importantes, seja para o que for. E não se fecharam assim tantas portas. Fechei mais eu. Na Companhia de Dança de Lisboa - foi aí o início do meu método de trabalho - só tive um ano e meio, e depois desse ano e meio, não me dei bem com a direção, tive que sair, e a única hipótese era criar a minha companhia. Não foi nenhum grito do Ipiranga, foi o normal. Os bailarinos vieram comigo e fundei a minha companhia e foi até agora. Foi um percurso a avançar.Tem-se sentido apoiada pelas entidades públicas nestes anos?Sim, é óbvio que sim. Tenho tido sempre o apoio do Ministério da Cultura, que é muito importante, da PLMJ, que foi muito importante também, e este ano da la Caixa. Temos um apoio e esperamos mantê-lo nos próximos anos, porque estes apoios extra ao do grande apoio do Ministério da Cultura são igualmente importantes, porque estamos num espaço com muitas coisas a passarem-se, é muito equipamento que se desgasta, já é uma estrutura relativamente pesada.Quais foram os momentos mais marcantes destes 50 anos de carreira?Eu destaco sempre um, que eu acho maravilhoso, que foi a Casta Diva, ou as três áreas para Maria Callas. Eu fiz primeiro a Casta Diva para a Gulbenkian, para a Graça Barroso, e o Rui Esteves, que era o diretor do serviço de Música da RTP, na altura, convidou-me logo para eu fazer uma continuidade. Era uma área da Norma do Bellini e o convite era para fazer mais quatro áreas de outras obras do Bellini, com outros solos, e fazer um solo maior, para o centenário de Maria Callas. E foi incrível. Foi uma semana de trabalho na Tobis. Eu ainda fui ao estúdio, comecei a trabalhar com as áreas que tinha, eram todas lindíssimas, comecei a mexer-me, até me vieram lágrimas aos olhos e disse não, eu não vou coreografar isto, vou improvisar, logo se vê, isto está cá dentro. Passa um ano, e lá estamos nós na Tobis, cenário do Nuno Carinhas, os figurinos, cabelos, tudo. Íamos gravar uma área por dia, e mais dois dias para o que fosse preciso. E lá estávamos, o produtor, o cenógrafo, o realizador e pediram para ver a primeira área. Eu disse, não tenho nada para mostrar, vou improvisar. Foi um silêncio, saíram, foram reunir-se e depois voltaram. E eu disse: Já estou a começar a ficar fria, como é que é? Disseram está bem, mas muito a medo. E fizemos. Acabei e disse: está bom para vocês? E eles dizem que está. Para mim também. Até amanhã. E foi assim a semana toda. Um take só de cada coisa. Ainda hoje, quando o vejo... Está na RTP Play, Casta Diva. Ninguém acredita que é improvisado.E depois houve marcos na minha própria companhia, peças como a Propriedade Privada, que foi muitíssimo importante para mim. O Pedro e Inês, na Companhia Nacional de Bailado, acho que foi muito importante para toda a gente. Se é um marco para a dança é para mim também. E depois costumo dizer que o último espetáculo é o mais importante. .O Salvado: o novo solo de Olga Roriz