O rio separa-a do Porto, mas o reflexo é de proximidade: os rabelos já não transportam vinho, mas turistas; as caves abrem-se agora a visitas, concertos e provas de enoturismo. Gaia, uma das maiores cidades do país, carrega consigo o paradoxo das margens: estar ao lado de tudo e, ao mesmo tempo, à parte. Cresceu depressa — em população, em prédios, em ambição —, e a velocidade deixou cicatrizes visíveis. No centro urbano, junto ao El Corte Inglés ou à Avenida da República, o trânsito é espesso, o ruído constante. Nas freguesias mais altas, a vista é ampla, a mobilidade difícil; nos bairros antigos, ainda há casas que caem aos poucos; nos novos condomínios, as rendas sobem sem travão. A paisagem urbana de Gaia é, hoje, o retrato das suas desigualdades: torres residenciais de traçado cosmopolita convivem com prédios degradados; elegantes bairros sustentáveis nascem a poucos quilómetros de zonas ainda marcadas por carências estruturais. Entre o Douro e o Atlântico, há uma cidade que cresce, muito, mas cresce de forma desigual. Gaia não é apenas o prolongamento do Porto. Tem personalidade própria, feita de contradições e de orgulho. É industrial e turística, marítima e ribeirinha, urbana e rural. Senhora do seu tempo: na broa de Avintes, nos cabos de rede dos pescadores da Afurada. Na Serra do Pilar, o miradouro revela uma das vistas mais célebres do país - a ribeira portuense, as pontes em arco, o rio que divide e une. A cidade, crescentemente autónoma e empoderada, enfrenta porém, desafios menos fotogénicos. O problema da habitação é talvez o mais urgente: muitas famílias esperam por soluções dignas, e os programas públicos lançados pela edilidade avançam, é certo, mas lentamente. O preço da renda encosta cada vez mais as pessoas às margens — e muitas dessas margens são, ironicamente, as de Gaia. Que vive num equilíbrio frágil entre passado e futuro: tenta preservar o que a tornou única — o vinho, o mar, o trabalho —, enquanto se reinventa como cidade contemporânea, desafiada a guardar a identidade. Falamos do maior concelho da Área Metropolitana do Porto e o terceiro mais populoso de Portugal, depois de Lisboa e Sintra. Situado na margem sul do rio Douro, estende-se da foz até às serras interiores, paisagem de contrastes: zonas urbanas densas junto ao Douro e ao Atlântico convivem com áreas rurais, vinhas e florestas. 170 km² para 304.000 habitantes (INE, Censos 2021). 15 freguesias (após a reorganização administrativa de 2013). Tem o Porto a norte, separado pelo Douro, Espinho a sul, e fronteiras interiores com Santa Maria da Feira e Gondomar. Nas autárquicas de 2025, debatem para a presidência da câmara Luís Filipe Meneses, 71 anos, médico natural de Ovar dono de quatro maiorias absolutas (1997, 2001, 2005 e 2009) como presidente da edilidade, e o gestor João Paulo Correia, de 49 anos, socialista, que se apresenta depois de doze anos de PS marcados por processos judicias que levaram à perda de mandato do presidente, Eduardo Vítor Rodrigues, condenado por um crime de peculato de uso. Alheia a isso não é seguramente uma das medidas distintivas apresentadas pelo antigo secretário de estado da Juventude e do Desporto de António Costa no programa eleitoral ”Gaia merece Futuro”: a criação de uma divisão municipal para transparência, destinada acompanhar todos os procedimentos de contratação e de realização de despesa pública. .O metro do Porto e as vias rápidas (A1, A44, VCI, IC23) aproximaram as margens e aceleraram o crescimento urbano, que trouxe desafios: mobilidade, habitação, serviços públicos e coesão social. Desafios do futuro que marcaram a campanha eleitoral, levando os oito candidatos a coincidir nos propósitos: Habitação acessível, mobilidade integrada, equilíbrio territorial, sustentabilidade ambiental, emprego qualificado, cooperação com o Porto para políticas integradas.. As sondagens colocam Luís Filipe Meneses à frente. Líder da coligação que junta PSD, CDS- PP e Iniciativa Liberal, o social-democrata havia prometido afastar-se de vez das corridas autárquicas. Rendido à muita insistência de um homónimo, o primeiro-ministro, Meneses assume a quinta "maioria absoluta" e, para isso, tenta colar o adversário direto a “anos de estagnação da cidade”. De volta, recebe a acusação de ter deixado uma câmara falida, afogada em dívidas, de mão estendida. Correia, em intensa campanha rua a rua, Meneses mais centrado nas redes e nos bairros sociais, falam para cerca de 270 mil eleitores. Desses, 128 mil votaram nas autárquicas de 2021 (abstenção de 52%) e 185 mil nas legislativas de maio passado (abstenção pouco acima dos 30%). Há pouco mais de um ano, AD recebeu 31, 8 por cento dos votos, contra 24,83 por cento para um PS com o Chega no encalço: 20,65 para o partido de Ventura. Num ponto concordam: autárquicas e eleições nacionais não partilham a mesma lógica. Em Gaia, joga-se, para PS e PSD, uma câmara fundamental. A candidatura de Meneses dá a vitória como certa. Dúvidas apenas quanto à obtenção da maioria absoluta. O adversário, porém, promete duelo até ao fim. Em democracia, Gaia tem-se dividido sempre entre o PSD e o PS, com os socialistas na dianteira nos últimos anos. E nem a entrada do Chega em cena – com António Barbosa como candidato – parece, por agora, romper esta dinâmica autárquica. Há ainda outras cinco candidaturas: o especialista em jazz e criação artística André Araújo, 26 anos, da CDU; o professor de História João Martins, 56 anos, pela coligação que junta Bloco de Esquerda e Livre; Daniel Gaio, 26 anos, economista, em nome do Volt, o consultor industrial Rui Sequeira, 53 anos, do ADN, e Catarina Costa, 32 anos, gestora de recurso humanos, em representação do estreante Partido Liberal Social. .A escassez de habitação acessível é, há anos, o problema mais premente de Gaia. Nos bairros sociais, há listas de espera. Nas freguesias periféricas, algumas casas devolutas esperam reabilitação. Nas zonas ribeirinhas, os alojamentos locais transformaram o perfil do território. A autarquia tem projetos em curso — no âmbito do programa 1.º Direito, com apoio do PRR — para construir ou reabilitar habitação acessível. Mas as obras demoram enquanto o mercado privado acelera.. Os oito candidatos apresentam-se a uma cidade vitalizada por um crescimento indesmentível, porém assimétrico. O núcleo urbano forma uma continuidade com o Porto, o litoral tornou-se área residencial e turística, com praias, restaurantes e turismo de curta duração. O interior do concelho mantém traços rurais, industriais e suburbanos. O metro do Porto e as vias rápidas (A1, A44, VCI, IC23) aproximaram as margens e aceleraram o crescimento urbano, que trouxe desafios: mobilidade, habitação, serviços públicos e coesão social. Desafios do futuro que marcaram a campanha eleitoral, levando os oito candidatos a coincidir nos propósitos: Habitação acessível, mobilidade integrada, equilíbrio territorial, sustentabilidade ambiental, emprego qualificado, cooperação com o Porto para políticas integradas. Com a invicta, a rivalidade de sempre. “A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia terá de ter um orçamento equiparado, pelo menos, ao orçamento da Câmara do Porto. E digo isto porque esta é uma das minhas grandes causas. 450 milhões no Porto para 285 milhões em Gaia. 165 milhões de euros é uma diferença inaceitável”, diz João Paulo Correia. O antigo secretário de estado do Desporto lembra ainda que Vila Nova de Gaia tem quatro vezes o território e mais 50.000 habitantes do que o Porto. Quem casa, não tem casa; e quem não casa, também não tem “O aumento do preço do metro quadrado teve a ver com o crescimento drástico, nos últimos dez anos, de dois setores que se entrecruzam: o imobiliário e o turístico. A pressão sobre a habitação no Porto tem vindo a passar para o centro urbano de Vila Nova de Gaia. Essa procura está ligada à melhoria da qualidade de vida no centro urbano de Gaia. Porque quando se constroem grandes parques verdes, quando se constroem linhas do metro, quando se reabilitam os arruamentos, quando se constroem boas escolas, a procura aumenta”, diz João Paulo Correia, reclamando obra feita enquanto o adversário acusa o executivo camarário de ter esquecido escolas, espaços públicos e equipamentos municipais. E, sobretudo, as urbanizações sociais. Vila Nova de Gaia é um lugar em expansão. Prédios novos erguem-se a cada esquina, destacam-se guindastes e gruas, os muros das avenidas exibem anúncios de “empreendimentos de luxo com vista rio”. Mas por detrás desta paisagem de progresso há outra cidade. A oferta não cresce ao mesmo ritmo da procura e a casa é para muitos uma miragem. “Ainda vivo com os meus pais. Não consigo comprar uma casa, nem sequer alugar um T0. Se nada mudar, nem aos 40 anos vou ter uma casa”, diz ao DN Pedro G. de 24 anos. Na encosta de Oliveira do Douro, a renda de um T2 ronda 700 euros. Emília Teixeira queixa-se. A zona era das mais acessíveis. “Dizem que é o preço do mercado, um mercado que não sabe que existimos”. A renda subiu, o ordenado não. Aos 58 anos, mãe, avó, paira sobre ela a incerteza. Sabe que não pode ir além dos 350 euros por mês. Pede um milagre. Segundo o diagnóstico municipal, cerca de 3.200 agregados familiares em Gaia vivem em situação de carência habitacional. São famílias que enfrentam sobrelotação, rendas incomportáveis ou casas em condições precárias. O preço médio das rendas subiu mais de 30% em quatro anos. Para muitas famílias gaienses, morar na própria cidade está a tornar-se inviável. A escassez de habitação acessível é, há anos, o problema mais premente de Gaia. Nos bairros sociais, há listas de espera. Nas freguesias periféricas, algumas casas devolutas esperam reabilitação. Nas zonas ribeirinhas, os alojamentos locais transformaram o perfil do território. A autarquia tem projetos em curso — no âmbito do programa 1.º Direito, com apoio do PRR — para construir ou reabilitar habitação acessível. Mas as obras demoram enquanto o mercado privado acelera. Gaia tornou-se um dos concelhos mais procurados da Área Metropolitana do Porto para compra e arrendamento, especialmente por quem trabalha do outro lado do rio. Os candidatos esforçam-se por garantir que os gaienses não ficam sem teto. Apesar das diferenças de escala e discurso, há consenso: Gaia precisa de aumentar a oferta pública, conter os preços e travar a fuga de residentes para concelhos vizinhos. Problemas de tal forma prementes que empurraram a segurança e a imigração, matérias centrais noutros municípios, desde logo no do Porto, para um plano mais discreto. O PS, com João Paulo Correia, aposta na continuidade da atual Estratégia Local de Habitação. O candidato promete 1.100 novos fogos até 2029 e 5.000 até 2035, com foco no arrendamento acessível e na reabilitação urbana. O plano inclui o aproveitamento de edifícios devolutos e incentivos à fixação de jovens. Nasceu no Porto em 1976 reside, desde sempre, em Vila Nova de Gaia. Foi presidente da junta de freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso. Conhece os problemas. Propõe-se reabilitar 600 habitações no parque municipal, duplicar, em dois anos, o número de famílias apoiadas com programas municipais de arrendamento, reduzir taxas municipais, nomeadamente IMI para o mínimo legal, extinguir taxas municipais, de maneira a aliviar encargos dos gaienses. .Na encosta de Oliveira do Douro, a renda de um T2 ronda 700 euros. Emília Teixeira queixa-se. A zona era das mais acessíveis. “Dizem que é o preço do mercado, um mercado que não sabe que existimos”. A renda subiu, o ordenado não. Aos 58 anos, mãe, avó, paira sobre ela a incerteza. Sabe que não pode ir além dos 350 euros por mês. Pede um milagre.. Luís Filipe Menezes responde com a promessa de 4.000 casas de renda acessível e controlada em quatro anos, 40% delas em freguesias do interior. Defende parcerias público-privadas e regras urbanísticas simplificadas para acelerar a construção. “É preciso recuperar o tempo perdido”, insiste. No programa eleitoral “Avançar Gaia 2025”, a construção nova terá papel importante. O antigo líder do PSD quer mobilizar verbas centralizadas e regionais, conjugar “investimento público e privado”, desenvolver políticas de incentivo para jovens e jovens casais, criar campus universitários residenciais, apoiar o arrendamento seguro para proprietários. O regresso das cooperativas e habitação partilhada O Volt, liderado por Daniel Gaio, apresenta um modelo cooperativo: a “Gaia Cooperativa”, onde cidadãos, autarquia e privados partilham custos e gestão. O partido defende que 10% da nova construção seja pública e as rendas 30% abaixo do mercado, com um teto de 500 euros para T1 a T3. O candidato recorre ao exemplo da freguesia onde nasceu. “Até agora vivi com os meus pais porque em Grijó um T2 pode chegar aos mil euros de renda mensal”. Recentemente, porém, o economista conseguiu “um achado”. Um T1, localizado perto dos progenitores, por 400.00 e poucos euros. “Finalmente, consigo viver com a minha namorada”. Dedicou-se ao Volt, desagradado com a experiência vivida no partido socialista e com os governos de António Costa, confessa ao DN. Elege a habitação como o problema maior de Gaia. “Há uns anos, Gaia era apetecível porque os preços eram mais baixos dos praticados no Porto. Isso está a acabar”. Propõe que 10% das novas construções no próximo mandato sejam públicas, rendas controladas ou com teto- cerca de 30% abaixo do preço médio local ou teto de €500 para tipologias como T1-T3, segundo os tais modelos cooperativos.A ideia de uma bolsa de casas privadas gerida pela Câmara, com rendas controladas, e reduções de IMI para jovens casais, é a principal proposta do ADN. Rui Sequeira tem 53 anos, é consultor de gestão industrial, mora em Valadares, olhando para o Porto de soslaio: “Os do Porto têm um complexo de inveja em relação a nós”. Coordenador da concelhia do Partido em Vila Nova de Gaia e “assumidamente de direita” faz questão de dizer que adere sem problema “às boas propostas da esquerda”. relevando como ponto forte da candidatura “não fazer parte de um sistema político, não dever favores a ninguém e nunca ter dependido do estado”, apresenta-se pela primeira vez, tal como o partido, a umas eleições autárquicas a nível nacional. No lado oposto do espetro, João Martins, candidato de uma coligação que junta o Livre e o BE, enumera casos de quem teve de largar casas por falta de meios económicos. Eleito para a Assembleia Municipal nas Autárquicas de 2021, sendo o BE, com 4,61 por cento dos votos, era a terceira força política da oposição ao PS, o candidato promete bater-se para que até 2030 20% por cento de habitação do concelho seja pública. “É um dos meus maiores objetivos. Seja em construção efetiva, em aquisição de edificado, em reabilitação ou em reconversão de edifícios devolutos para habitação”. Concorre a 10 das 15 freguesias e apesar da queda do BE nas legislativas de 2024, aposta no reforço do partido na Assembleia Municipal. Enquanto o Chega, com António Barbosa, e menos específico, fala em construir nas periferias e reabilitar no centro, o Partido Liberal Social, de Catarina Costa, e que apenas concorre a dois municípios do país - Porto e Gaia -, quer experimentar “modelos de habitação partilhada e intergeracional, que juntem seniores e jovens em residências adaptadas”, e aposta em “construção modular e licenciamento simplificado”. Catarina Costa, de 32 anos, nascida no Porto, vive em Oliveira do Douro. A gestora de recursos humanos começou por aderir à Iniciativa Liberal até perceber que faltava ao partido a “palavra social”. Daí ao PLS foi um passo. Apresenta-se nesta campanha prometendo “sustentabilidade e revalorização dos residuais”, propondo a criação a construção de uma incineradora para a zona de Gaia, “ copia do modelo norueguês”. André Araújo enuncia ao DN a posição programática dos comunistas. “A habitação é antes de mais um problema que tem de ser resolvido pelo estado central”. O jovem releva a Carta Municipal de Habitação, bate-se pela revisão do PDM, “o PDM da especulação imobiliária, da desregulação e da falta de planeamento urbanístico”, quer a mobilização dos “4.732 fogos devolutos no concelho para renda acessíveis”. O candidato que toca saxofone e flauta aderiu à Juventude Comunista “porque eram os únicos que estavam à porta da secundária a exigir melhor escola”. Traz uma batalha diferente a terreiro: a urgência em baixar a fatura da água e reinternalizar o serviço da recolha de lixo “entregue por Meneses à Mota Engil” na década de 2000. Ainda a morar com os pais, elege, no entanto, a mobilidade como principal preocupação. Desunir para melhorar “É muito difícil: nunca sabemos a que horas passam, sequer se vão passar, está-se ali, nas paragens, ao frio ou ao sol, com a vida parada, sujeitos a falhar o trabalho ou a escola”. Alexandre M., de 58 anos, queixa-se. “Andar de autocarro em Gaia é o maior inferno”. Os problemas de mobilidade são os provocam maiores críticas ao executivo camarário socialista, que agora cessa funções. A principal linha de tensão é o desempenho da UNIR, a rede responsável pela mobilidade de transportes públicos de 17 municípios da área metropolitana do Porto, e que em Gaia apresenta taxas de cumprimento de horários de apenas 66%. Não é por acaso que, acima da habitação, João Paulo Correia enfatiza propostas de solução, desde logo a mais radical: rescisão do contrato. “Para mim, neste momento, é a minha grande prioridade, resolver o problema da UNIR”, diz ao DN, reforçando que “atrasos, interrupções ou incumprimento de horários são inadmissíveis”. Luís Filipe Meneses, propõe-se criar uma empresa de transportes de capitais mistos para Gaia, que permita um serviço “ articulado e de qualidade”, como alternativa ao modelo atual, em contraste com a proposta da CDU. Defendendo a gratuitidade dos transportes para pessoas em situação de fragilidade social, André Araújo quer que a STCP passe a ser a “operadora interna em toda a área metropolitana do Porto”, considerando que o modelo “desenvolvido pelo PS e pelo PSD não funciona”. E que qualquer proposta que passe por contratar novos operadores, como defendem PS e PSD “é um remendo”. Anda à esquerda, João Martins, da coligação BE/Livre discorda, considerando que os STCP não são uma resposta a urgência necessária. “É preciso um plano B, ou seja, uma operadora que tenha disponíveis, de imediato, 200 motoristas e 150 autocarros”, diz, partilhando a reivindicação do socialista João Paulo Correia. À pouca fiabilidade nos transportes públicos acrescente-se o drama do trânsito. O tempo que se perde em filas desgasta e exaspera muitos dos que a12 de outubro vão fazer uma escolha. João Paulo Correia alerta para a conjuntura. As obras para construção da Linha Rubi (Metro do Porto), têm grande impacto grande no trânsito, especialmente na via Edgar Cardoso e na Avenida da República, artéria muito importante em Gaia, já de si com problemas estruturais de capacidade. Esses pontos estavam condicionados há muito. A Ponte da Arrábida e a do Freixo, duas das principais ligações entre Gaia e Porto, são zonas temidas à hora de ponta. Zona das Devesas e Coimbrões, igualmente. A mobilidade é um dos temas mais sensíveis em Vila Nova de Gaia — um concelho extenso, com uma dependência histórica do automóvel. Às portas das eleições autárquicas, todos os candidatos à Câmara apresentam soluções para enfrentar os congestionamentos, melhorar o transporte público e ligar melhor as freguesias ao Porto. Em alguns casos, por caminhos propostos distintos. O candidato João Paulo Correia aposta na continuidade e na expansão da rede intermodal. O atual executivo quer consolidar a integração de Gaia no sistema de metro, nomeadamente com a nova linha Rubi (Santo Ovídio–Casa da Música). O socialista quer ainda a abolição as portagens nas autoestradas A29, A32, A41, reforçar os transportes públicos de proximidade, com circuitos locais nas freguesias mais afastadas, e investir em mobilidade suave, com ciclovias seguras, passeios requalificados e a criação de zonas de emissões reduzidas no centro urbano. Menezes considera que Gaia precisa de uma visão “pragmática e não ideológica” que reconheça o papel do automóvel, sem descurar o transporte coletivo. Recuperar 250 km de vias em seis anos, incluindo requalificação de infraestruturas de drenagem, iluminação, saneamento, asfaltos, são outras das medidas apontadas para reordenar o trânsito. .Não é por acaso que, acima da habitação, João Paulo Correia enfatiza propostas de solução, desde logo a mais radical: rescisão do contrato. “Para mim, neste momento, é a minha grande prioridade, resolver o problema da UNIR”, diz ao DN, reforçando que “atrasos, interrupções ou incumprimento de horários são inadmissíveis”. O Chega, com António Barbosa, propõe uma abordagem de “mobilidade territorial equilibrada”. Quer reforçar a ligação entre as freguesias rurais e o centro urbano através de autocarros municipais e melhorar os horários e a frequência dos transportes existentes. Defende também a criação de corredores dedicados ao transporte público e mais fiscalização ao estacionamento ilegal, um dos fatores que, diz, agrava o caos no trânsito. Sustentabilidade tem cor: verde O Volt, liderado por Daniel Gaio, aposta fortemente numa mobilidade sustentável. O partido propõe a criação de um plano de mobilidade intermodal verde, com prioridade para ciclovias, transportes elétricos e partilhados. Propõe um “passe Gaia Verde”, que integraria metro, autocarros e bicicletas elétricas, e defende os incentivos fiscais às empresas que promovam transportes coletivos dos trabalhadores. Uma das batalhas: ter mais paragens de autocarros cobertas. O ADN, com Rui Sequeira, propõe medidas mais centradas na eficiência urbana. Quer modernizar a frota municipal de transportes com veículos elétricos, promover zonas 30 km/h nos centros urbanos e introduzir aplicações digitais para planear deslocações dentro do concelho. Defende ainda a reabilitação das estações ferroviárias secundárias, como Valadares e Granja, para promover o uso do comboio nas deslocações diárias. .Menezes considera que Gaia precisa de uma visão “pragmática e não ideológica” que reconheça o papel do automóvel, sem descurar o transporte coletivo. Recuperar 250 km de vias em seis anos, incluindo requalificação de infraestruturas de drenagem, iluminação, saneamento, asfaltos, são outras das medidas apontadas para reordenar o trânsito.. Por fim, o Partido Liberal Social, representado por Catarina Costa, sugere a “mobilidade inteligente”. “Todos os dias demoro cerca de 45 minutos a chegar de Oliveira do Douro ao Porto. Quando poderia demorar dez”, diz ao DN. O programa inclui projetos-piloto de transporte partilhado por app, incentivos à micromobilidade elétrica (trotinetes e bicicletas) e parcerias com empresas tecnológicas para recolha de dados de tráfego em tempo real. A candidata fala em transformar Gaia num “laboratório de mobilidade urbana” com soluções experimentais e de baixo custo. Apesar das diferenças, há pontos de convergência: todos reconhecem que Gaia precisa de melhor ligação ao Porto, de reduzir a dependência do automóvel e de reforçar a rede de transportes públicos. “Uma cidade industrial” pedem empresários Historicamente associada ao Vinho do Porto, a cidade transformou-se nas últimas décadas num polo diversificado. No comércio e serviços, com forte presença de centros comerciais, retalho e empresas de logística, no turismo, com as caves do vinho do Porto, a zona ribeirinha, a ponte D. Luís I, praias e parques naturais, no grande dinamismo da construção e imobiliário, na indústria leve e na logística, ainda relevantes em Pedroso, Seixezelo e Avintes. A proximidade ao Porto cria efeitos mistos: oportunidade de emprego, mas também dependência funcional, na medida em muitos habitantes trabalham do outro lado do rio. Os candidatos à Câmara de Gaia reconhecem que, para valorizar o concelho, em que rendimento médio por habitante está ligeiramente abaixo da média da Área Metropolitana - não basta construir casas ou melhorar ruas. As propostas divergem nos métodos, mas convergem num objetivo comum: fazer de Gaia um território mais competitivo e com oportunidades para empreendedores. O Volt insiste na implementação de startups, pequenas e médias empresas que com custos mais baixos, impulsionem a atividade económica local e ocupando espaços urbanos hoje subutilizados. Luís Filipe Menezes (PSD/CDS-IL) apresentou um programa de desenvolvimento económico para o período 2025-2030 com vários vetores: criar uma agência de inovação e investimento, chamar investimento alinhado com os objetivos de transição ecológica e digital, reindustrialização inteligente, valorização do talento, e apoio concreto às empresas. Este plano inclui também uma aposta forte na inovação, transição digital e modernização, com vista a incorporar Gaia nos círculos de competitividade tecnológica. O PS, via João Paulo Correia, embora com foco frequentemente em habitação, mobilidade e serviços públicos, propõe medidas que podem beneficiar o ambiente empresarial. Entre estas, está a redução da Taxa de Imposto Municipal (IMI) para o mínimo legal, que pode aliviar a carga fiscal sobre proprietários de empresas ou de imóveis usados para atividade económica. Num perfil mais ligado à cultura económica e ao papel da comunidade, a CDU quer uma política económica que integre identidade cultural, coesão territorial e social, valorizando os espaços locais, as feiras, os centros de artes e cultura como potenciais dinamizadores de economia local. Sobre este ponto, o DN ouviu o presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Vila Nova de Gaia (ACIGaia) que avança com uma proposta, “resultado das muitas conversas” tidas com os cerca de 2000 associados. Diz Francisco de Oliveira, de rajada: “Um dos maiores anseios das empresas instaladas em Gaia é a criação de um parque industrial de raiz, configurando uma cidade empresarial. E que além das empresas de acolher as empresas e prover as estruturas básicas fosse servido por transportes públicos, e vários serviços: farmácias, creches, escolas, cantinas para os trabalhadores, restaurantes para clientes e onde pudéssemos fazer negócios, e que o projeto fosse construído nas freguesias do interior – Dever, Olival, Crestuma – para dinamizar, simultaneamente, o interior e libertar o centro de Gaia para espaços destinados à habitação”. Fica a ideia. Vila Nova de Gaia ao raio-xAtual presidente: Marina Mendes (PS) - após renúncia de Eduardo Vítor RodriguesDistrito: PortoPopulação residente: 311 223 (2023)Área geográfica: 168 km2 (2022)Densidade populacional: 1.831,5/km2População com mais de 65 anos: 22,7%Taxa bruta de natalidade: 7,5 por mil habitantesAutárquicas 2021PS:57,79%PSD/CDS/PPM: 17,57%CDU: 4,83%Bloco de Esquerda: 4,61%Chega: 4,21%Iniciativa Liberal: 2,95%PAN: 2,73%PDR-MPT: 0,48%Livre: 0,46%Legislativas 2025AD (PSD/CDS): 31,8%PS:24,83%Chega: 20,65%Iniciativa Liberal: 6,69%Livre: 4,89%CDU: 2,54%Bloco de Esquerda: 2,25%PAN: 1,83%*Rui Frias