Exclusivo As ambições neo-otomanas de Erdogan
O envolvimento no conflito do Nagorno-Karabakh é a mais recente aventura militar lançada pela Turquia nos últimos anos numa área que se estende da Síria ao Mediterrâneo Oriental ou ao Cáucaso.

© Adem ALTAN / AFP
Mal se ouviram os primeiros disparos no Nagorno-Karabakh, a 27 de setembro, reacendendo um conflito mais ou menos adormecido há quase três décadas, a Turquia assumiu sem rodeios o lado do Azerbaijão. Ancara apoia o objetivo azeri de retomar "as suas próprias terras" no Nagorno-Karabakh - disse o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, numa visita a Moscovo.
E enquanto a Rússia, a França e os Estados Unidos multiplicavam apelos a um cessar-fogo imediato, Erdogan incentivava abertamente o presidente azeri, Ilham Aliyev, repetindo que a paz só seria possível quando todos os arménios tivessem abandonado "até ao último pedaço" o território azeri.
Ao longo dos últimos meses a Turquia acelerou o fornecimento de equipamento e a assistência militar ao Azerbaijão. As autoridades arménias denunciaram a participação direta de soldados turcos no conflito, e a presença de mercenários sírios mobilizados pela Turquia para apoiar as forças azeris.
A Turquia foi já várias vezes acusada de utilizar mercenários sírios em várias frentes, em particular a Líbia. "É claro que os mercenários sírios da Turquia se tornaram parte das ambições externas do país permitindo evitar mobilizar as próprias forças armadas turcas" - diz Noah Agily, um perito de Washington, citado pela Deutsche Welle.
O envolvimento no conflito do Nagorno-Karabakh é apenas a mais recente das aventuras militares lançadas pela Turquia nos últimos anos numa área que se estende da Síria ao Mediterrâneo Oriental ou ao Cáucaso.
A Turquia envolveu-se desde 2011 no conflito da Síria e ocupa de facto uma área no norte do país a pretexto do combate às milícias curdas da região. Empenhou-se diretamente no conflito líbio em socorro do GNA (Governo de Acordo Nacional) do primeiro ministro Fayez al-Serraj. Intensificou as ações contra o PKK no norte do Iraque e abriu bases militares no Qatar, no Iraque e na Somália.
Ancara insiste ao mesmo tempo na exploração de gás natural, em águas reconhecidas pela comunidade internacional como pertencendo à Grécia e Chipre, numa ação apoiada por vasos de guerra turcos.