A 81.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta vai nesta quarta-feira para a estrada ainda sob o efeito de uma desistência forçada. E não se trata de uma ausência qualquer - Raúl Alarcón, o vencedor das duas últimas edições, lesionou-se e está impedido de participar. Uma baixa muito significativa para a W-52 FC Porto, equipa vencedora da prova nos últimos quatro anos. Os azuis e brancos continuam a reunir o favoritismo, mas equipas como o Sporting-Tavira, a Aviludo-Louletano e principalmente a Efapel, reúnem agora mais condições para lutar de igual para igual com os dragões..Alarcón fraturou uma clavícula há um mês, no Grande Prémio Abimota, e na segunda-feira as dúvidas ficaram desfeitas, com a equipa portista a confirmar a ausência do espanhol na Volta de 2019. O chefe de fila da W-52 FC Porto passou a ser o experiente Gustavo Veloso, vencedor das edições de 2014 e 2015, a primeira vez ao serviço da OFM-Quinta da Lixa e na segunda ocasião já representando a sua atual equipa..A Volta começa na quarta-feira com um prólogo de seis quilómetros em Viseu e termina a 11 de agosto com a décima etapa, um contrarrelógio entre Vila Nova de Gaia e o Porto. No total, vão ser 1531,3 quilómetros pelas estradas de Portugal e com a boa notícia das temperaturas serem menos quentes do que no ano passado. Quem não se lembra dos infernais primeiros dias da Volta de 2018, com temperaturas acima dos 40 graus? Ainda assim, em Viseu, na primeira etapa, os termómetros vão chegar aos 31 graus..A maior festa desportiva em Portugal no mês de agosto.Se há alguém habilitado a falar sobre a Volta a Portugal em Bicicleta é Marco Chagas. O recordista português em vitórias na prova (quatro, só batido pelo espanhol David Blanco, que triunfou em cinco) participou em 14 edições enquanto ciclista. E, depois de ter terminado a carreira em 1990, só falhou a presença in loco em 1996. Neste ano vai voltar a comentar a mais importante corrida velocipédica de Portugal para a RTP, a estação de televisão oficial da prova..Marco Chagas não concorda com a ideia de que a Volta a Portugal perdeu encanto nos últimos anos, embora reconheça alguma quebra de público nas estradas. "A Volta continua a ter um encanto único, é uma corrida como nenhuma outra, apesar de a Volta ao Algarve até ter um maior número de protagonistas internacionais de relevo. A verdade é que a Volta a Portugal acaba por tocar um pouco toda a gente, porque o pelotão passa perto das nossas casas, do local em que passamos férias ou de um sítio em que fomos felizes", sublinha..Sobre o facto de a "moldura humana nas estradas não ser a mesma de antigamente", avança com uma explicação: "A maioria das pessoas preferem assistir pela televisão porque veem melhor o que se passa e têm uma maior perspetiva das belas paisagens por onde o pelotão vai passando. Isso é preferível a ficarem confinadas a um determinado local, onde se limitam a ver passar os ciclistas", defende..De resto, na opinião do comentador da RTP, "o ciclismo continua a ser a segunda modalidade preferida dos portugueses, só superada pelo futebol, naturalmente". Por isso, e apesar da tal quebra de pessoas nas estradas, "voltará a ser a maior festa desportiva de Portugal no mês de agosto, como sempre acontece"..Poucas novidades num percurso sempre a norte do Tejo.Marco Chagas fala "num percurso sem grandes novidades face aos últimos anos". Ao todo, são 1531,3 quilómetros marcados por muita montanha - existem cinco chegadas em altitude - e poucas oportunidades de sprint. As etapas mais decisivas deverão ser a passagem pela serra da Estrela com a subida à Torre, na quarta tirada, a serra do Larouco, na sétima, e a incontornável Senhora da Graça, no penúltimo dia..Clique aqui para ver o mapa de todas as etapas..O percurso é praticamente todo feito a norte do rio Tejo. Santo António dos Cavaleiros, no concelho de Loures, será o ponto mais a sul por onde irá passar o pelotão. No caso do Alentejo, apenas os concelhos de Nisa e Gavião terão o privilégio de ver a Volta passar, na terceira etapa que irá ligar Santarém a Castelo Branco. Ou seja, serão apenas cerca de 40 quilómetros no Alto Alentejo. Algo que Marco Chagas minimiza.."São opções da organização que temos de respeitar. Relembro que a União de Ciclismo Internacional não permite que haja um número maior de etapas do que aquele que existe atualmente. E logo aí existe uma grande limitação. Essa história de a Volta ter de percorrer todo o país não faz sentido e, aliás, nem é possível devido a esta limitação. No ano passado até passou pelo Algarve, mas não é segredo para ninguém que não é fácil em termos logísticos que a Volta passe pela região em agosto. Aliás, não é uma prova propriamente bem recebida no Algarve nesse mês tão agitado e a organização tem de ir ao encontro das autarquias que lhes proporcionem condições para receber a prova. A Volta à França ou a Volta à Espanha, que têm três semanas de duração, também não passam por todo o país", referiu..Pela terceira vez em 81 edições, e terceira vez nesta década, a prova parte de Viseu, após 2010 e 2015, para um prólogo que definirá as primeiras diferenças entre o pelotão. O primeiro líder vai defender a camisola amarela numa ligação que parte de Miranda do Corvo até Leiria, com a primeira contagem de montanha na serra da Lousã a marcar o caminho até à 19.ª chegada leiriense. O dia mais longo liga a Marinha Grande, de volta após 29 anos de fora, a Santo António dos Cavaleiros, em Loures, com um final com ligeira ascensão a poder afastar os sprinters mais puros, com mais hipóteses na terceira etapa, entre Santarém e Castelo Branco (194,1 quilómetros), no primeiro sábado..Antes do dia de descanso, a 7 de agosto, há uma ligação entre Oliveira do Hospital e a Guarda, com uma escalada final que pode apresentar dificuldades aos mais afetados pela Torre. Torre de Moncorvo não recebe uma partida desde a segunda edição, em 1931, e regressa neste ano para uma ligação que começa naquele município e vai terminar em Bragança, com nova chegada ao sprint esperada..No final, o Porto regressa 30 anos depois para receber um contrarrelógio de 19,5 quilómetros que parte de Vila Nova de Gaia e atravessa o rio Douro para definir o vencedor final, em plena Avenida dos Aliados..A estrutura da União Ciclista de Sobrado, que em 2016 passou a ser designada por W52-FC Porto, venceu a prova desde 2013 e neste ano viu reforçado o seu estatuto, com a subida ao escalão Profissional Continental. É alias a única equipa portuguesa que faz parte do segundo patamar do ciclismo mundial..No entanto, na opinião de Marco Chagas, a já referida ausência de Raúl Alarcón poderá trazer dissabores aos dragões. "Continuo a achar que a W-52 FC Porto é a equipa favorita, mas menos do que se o seu melhor ciclista participasse. Obviamente que continua a ser uma equipa muito poderosa, com ciclistas como Gustavo Veloso, Ricardo Mestre, vencedor da Volta em 2011, António Carvalho e João Rodrigues.".Chagas aposta em Joni Brandão.Marco Chagas antevê que este pode ser o ano de Joni Brandão, o principal corredor da Efapel e que nesta época chegou do Sporting: "Está em boa forma e nas últimas edições da Volta tem dado muita luta aos vencedores. É a grande arma da Epafel, que considero o principal adversário da W-52 FC Porto na conquista da vitória coletiva.".O antigo ciclista, que no final de 2018 foi consultor para o ciclismo no Sporting, cargo que só ocupou durante dois meses, não acredita que o Sporting-Tavira possa ganhar esta Volta: "É uma equipa com pretensões, mas longe de ser um candidato como a Epafel e muito menos do que a W-52 FC Porto. É verdade que existe uma grande expectativa em torno do regresso do Tiago Machado [esteve nove anos no Wold Tour], mas além dele não vejo grandes alternativas na equipa. Existe o Alejandro Marque, mas já a acusar alguma veterania [completa 38 anos em outubro] e o Frederico Figueiredo, mas penso que a este último tem faltado algum arrojo para se assumir como um ciclista de nomeada." A equipa leonina, entretanto, recebeu ontem uma má notícia: o ciclista italiano Rinaldo Nocentini contraíu um vírus e foi substituído por David Livramento..No que toca ao Aviludo-Louletano, Marco Chagas destaca Vicente Garcia de Mateus, "o corredor português que mais evoluiu nos últimos anos, até se tornar um ciclista de primeiro nível". Defende que até ao momento a equipa algarvia "não tem dado grandes indicações de que pode fazer uma grande Volta, mas por vezes acontecem surpresas, por isso há que aguardar para se perceber qual será a sua prestação"..Questionado sobre se algum dia haverá algum ciclista português a bater a sua marca de quatro triunfos na Volta, sublinha que "os recordes são para ser batidos, mas não será fácil que nos próximos anos tal venha a acontecer". No entanto, não coloca de lado "a hipótese de a médio prazo aparecer uma grande revelação que consiga afirmar-se a esse ponto"..As principais figuras do pelotão.Gustavo Veloso, Esp (W52-FC Porto). Inscrito à última hora, após a lesão de Raúl Alarcón, os dragões chamaram o veterano, que também venceu duas edições, em 2014 e 2015, para ser uma das armas na prova. Embora já não seja o ciclista dominador de outros anos, aos 39 anos o espanhol tem a experiência necessária e o conhecimento dos pontos fulcrais da prova para liderar o esforço azul e branco na tentativa de prolongar um domínio vitorioso que se arrasta desde 2013..Jóni Brandão, Por (Efapel). Depois de dois anos no Sporting-Tavira e de um segundo lugar na Volta a Portugal em 2018, Jóni volta a ser o grande candidato português à conquista da prova, agora de regresso à Efapel, que já tinha representado por quatro temporadas. Aos 29 anos, venceu uma etapa no GP Beiras, que acabou no terceiro lugar, e foi quinto classificado na prova de fundo dos Nacionais, somando várias vitórias também no Grande Prémio Jornal de Notícias, num ano que terá nova prova de fogo e os olhos postos em si como a esperança para quebrar o domínio da W52-FC Porto..Alejandro Marque, Esp (Sporting-Tavira, Por). Excelente contrarrelogista - foi terceiro nos campeonatos de Espanha em 2012 -, o espanhol transformou-se num ciclista completo e venceu a Volta a Portugal de 2013, triunfo que lhe abriu as portas da Movistar. Contudo, o sonho do WorldTour virou pesadelo e um controlo antidoping, do qual foi absolvido, deixou-o sem competir um ano, regressando em 2015 para ser terceiro na Volta. Aos 37 anos, vai lutar pelo lugar de líder com Nocentini, Tiago Machado e José Mendes, no terceiro ano no Sporting-Tavira e após um desapontante 13.º posto em 2018, ano em que venceu a segunda parte da Volta à China, tendo conseguido, à porta da Volta, um oitavo lugar no Troféu Joaquim Agostinho..Sérgio Paulinho, Por (Efapel, Por). Um dos mais experientes ciclistas do pelotão nacional perdeu neste ano o estatuto de chefe de fila da Efapel para o regressado Joni Brandão. Nono na Volta de 2017 e medalha de prata nos Jogos de Atenas 2004, o terceiro mais velho em prova (39 anos), não deixa de ser importante para o conjunto de Lousa, depois de muitos anos a escudar Alberto Contador e a vencer etapas em grandes Voltas, no Tour (2010) e na Vuelta (2006)..Henrique Casimiro, Por (Efapel, Por). O veterano de afirmação tardia teve de esperar até aos 32 anos, em 2018, para conseguir a primeira vitória profissional, no alto de Montejunto, no Troféu Joaquim Agostinho. Neste ano fez ainda melhor e venceu a prova, num ano em que se mostrou também no Grande Prémio das Beiras. Oitavo na Volta em 2017 e sétimo em 2016, Casimiro deverá ser um dos grandes nomes da Efapel para tentar resgatar uma primeira vitória desde 2012, ao lado do líder Joni Brandão e de outro veterano, Sérgio Paulinho..Vicente García de Mateos, Esp (Aviludo-Louletano, Por). Seis etapas conquistadas nos últimos quatro anos e dois terceiros lugares consecutivos na geral final fazem de De Mateos um dos grandes candidatos à vitória final da prova. Depois de dar nas vistas em 2014, ao ser expulso da prova após trocar agressões com Enrico Rossi, o espanhol encontrou-se com o ciclismo e redimiu-se, tendo vindo a deixar as raízes do sprint para se assumir como um candidato às gerais finais, chegando à 81.ª edição com toda a equipa algarvia a protegê-lo..Domingos Gonçalves, Por (Caja Rural, Esp). Em ano de regresso à Caja Rural, o antigo campeão português de fundo pretende, pelo menos, igualar a prestação de 2018, quando venceu uma etapa e acabou em nono da geral final, após um ano discreto na equipa espanhola e o azar na Volta à Catalunha, que abandonou logo na primeira etapa, afetando a temporada do ciclista de Barcelos..Edgar Pinto, Por (W52-FC Porto, Por). Quarto classificado da Volta em 2018, Edgar Pinto teve neste ano, em que se mudou para os dragões, uma temporada com vários destaques, o maior de todos o quinto lugar final na Volta à Turquia, uma prova de escalão WorldTour. O quarto lugar na Volta às Astúrias e o quinto na Volta a Aragão atestam a boa forma do corredor, cuja experiência na Volta pode servir para colmatar a ausência do bicampeão Alarcón..Ricardo Mestre, Por (W52-FC Porto, Por). Vencedor da prova em 2011, Mestre é outro dos corredores que poderão beneficiar da ausência de Alarcón no seio da equipa W52-FC Porto, num ano em que foi vice-campeão nacional de fundo e tem sido peça importante para Nuno Ribeiro..Tiago Machado, Por (Sporting-Tavira, Por). Regressado a Portugal após quase uma década a correr na Europa no escalão WorldTour, é um nome a ter em conta em qualquer prova, tendo como objetivo vencer a Volta que escapa aos leões desde o regresso à modalidade, podendo beneficiar de uma estratégia aberta de Vidal Fitas no seio da equipa sportinguista, após um ano de regresso irregular..José Mendes, Por (Sporting-Tavira, Por). O vimaranense é outro dos regressos a Portugal para o pelotão de 2019, sagrando-se campeão nacional de fundo pela segunda vez em junho, chegando com o moral elevado à maior prova velocipédica portuguesa. Depois de um 22.º lugar na Vuelta de 2013, Mendes é outro dos nomes a dar garantias ao Sporting..João Rodrigues, Por (W52-FC Porto, Por). A jovem revelação dos dragões pode ser o joker do diretor desportivo Nuno Ribeiro face à ausência de Raúl Alarcón. Aos 24 anos, começou por dar nas vistas na Volta ao Algarve, que terminou em nono lugar de uma geral final preenchida por nomes do pelotão mundial, antes de vencer a Volta ao Alentejo em março..Brice Feillu, Fra (Arkéa Samsic, Fra). O veterano francês é uma das figuras das equipas estrangeiras que vão correr a Volta a Portugal, sobretudo por ter sido sexto classificado em 2012. Sete anos depois, o ciclista de 34 anos, vencedor de uma etapa da Volta à França em 2009, lidera um bloco da Arkéa que pode intrometer-se na luta pela geral..Óscar Sevilla, Esp (Medellín, Col). O mais velho corredor em prova é também o mais reputado, uma vez que foi já vice-campeão da Volta à Espanha, ainda que esse resultado tenha surgido há 18 anos, numa carreira profissional que arrancou em 1998. Nesta época já conseguiu quatro pódios em provas de dimensão similar à Volta a Portugal e quererá acrescentar novo brilho ao palmarés.