Legislativas. Todos na estrada, chegou o momento do tudo ou nada
Rentrées do PS e do CDS hoje, ambas na Madeira. E amanhã de Rui Rio, em Monchique. Debates televisivos entre os líderes dos partidos parlamentares que começam na segunda-feira e se prolongam até 23 de setembro. Neste fim de semana, o país vai entrar definitivamente em modo de campanha eleitoral para as legislativas de 6 de outubro. Todas as sondagens põem o PS à frente e todas indicam a possibilidade de resultados desastrosos para o PSD e para o CDS. Parece haver uma única incógnita: os socialistas conseguirão ou não maioria absoluta?
Há uma certeza: à esquerda só uma pessoa não usará a expressão - o próprio António Costa. O próprio explicou porquê, nesta semana, numa entrevista na TVI: "Não tenho dúvida nenhuma de que os portugueses não gostam de maiorias absolutas e têm má memória delas, quer as do PSD quer as do PS." Portanto: Costa quer mas Costa não diz. Pede apenas que "o PS saia reforçado destas eleições, para garantir estabilidade". Insiste em agitar o fantasma da ingovernabilidade, recordando a situação espanhola. "Temos de evitar uma situação de impasse à espanhola, com um PSOE fraco e um Podemos [o BE espanhol] forte." Também promete que no essencial da política económica tudo se manterá, gostem ou não gostem os bloquistas e os comunistas: objetivo do défice zero para diminuir a dívida pública. Admite, quando muito, uma nova prioridade ao investimento público (sobretudo no SNS e nos transportes). No debate na TVI admitiu: "O grande esforço de investimento nesta legislatura não foi investimento público, foi investimento privado, empresarial."
À esquerda do PS, nem Bloco nem PCP rejeitam uma nova geringonça. Mas não abrem jogo sobre quais serão as suas exigências - embora em ambos os casos pareça que o Código do Trabalho (cuja revisão foi aprovada no final da legislatura devido à abstenção da direita) seja uma matéria central. Ambos os partidos centram o discurso numa ideia: é preciso terem força para obrigarem o PS a prosseguir políticas de recuperação de rendimentos e direitos. O Bloco acrescenta uma outra: é um partido da estabilidade, ao contrário do PS, que durante a legislatura teve "ziguezagues e recuos". "Nunca inventamos crises", disse Catarina Martins.
Em 2015, o acordo do PS com o BE incluiu o salário mínimo nacional e uma definição muito concreta da sua progressão ao longo da legislatura (em 2015 era de 505 euros e atualmente está em 600 euros). O BE quer que a progressão na próxima legislatura seja a mesma: 5% ano ano. Mas Costa já disse que, desta vez, quer um acordo na Concertação Social. Pelo meio, o crescimento do PAN poderá baralhar as contas de todos.
À direita, PSD e CDS partem em perda - e enfrentando a emergência de novas forças, como o Aliança, o Chega ou a Iniciativa Liberal. Assunção Cristas já não diz que quer o CDS mais forte do que o PSD - o resultado das europeias (6,19% e um eleito apenas) providenciou um banho de humildade.
Ambas os partidos dizem que a prioridade da próxima legislatura é reforçar o investimento público no SNS e baixar os impostos sobre as empresas. Nenhum dos dois revogará medidas da geringonça (a recuperação dos feriados ou a redução das tarifas nos transportes públicos, por exemplo).
22 círculos eleitorais. 8 no continente, dois nas regiões autónomas e dois na emigração (Europa e fora da Europa). Por diminuição na população, os círculos da Guarda e de Viseu perdem um deputado cada (passando para três e oito, respetivamente). Crescem os círculos eleitorais de Lisboa (de 47 para 48) e Braga (de 18 para 19). Está em causa a eleição de 230 deputados.
10, 8 milhões. Número de eleitores recenseados. Mais precisamente: 10 811 436. Em 2015 eram 9,6 milhões (9 682 823). Os círculos que mais crescem em número de eleitores (mas não em número de deputados) são os da emigração, como já tinha acontecido nas Europeias, por via do recenseamento automático de todos os emigrantes portugueses maiores de 18 anos registados nos consulados portugueses espalhados pelo mundo inteiro. O círculo da Europa passa de 78,2 mil eleitores em 2015 para 895 mil agora; no Fora da Europa esse aumento é de 164,2 mil para 570 mil.
8,1 milhões de euros. Despesa total que todos os partidos concorrentes contam ter na campanha eleitoral. O PS é o partido com maior orçamento: 2,4 milhões de euros. Depois o PS (2,05 milhões), CDU (1,2 milhões), BE (980 mil euros), CDS (700 mil) e PAN (138 mil) - só para falar nos números das formações com assento parlamentar. Em 2015, os partidos parlamentares gastaram 10,2 milhões de euros.
21. Número que se prevê de formações candidatas às legislativas (embora não em todos os círculos). Um número recorde. Apenas 15 apresentaram listas em todos os círculos eleitorais. Fazem esse pleno as forças já com assento parlamentar e ainda o Aliança, Chega, Iniciativa Liberal, PNR, PDR, PCTP-MRPP, PPM, PTP e o Livre. Os partidos que concorrem a menos círculo são o MAS (uma dissidência do BE), que apenas apresentou listas em oito dos 22 círculos, e o JPP, partido que tem sede na Madeira e se candidata em dez círculos. Em 2015, foram 16 as formações concorrentes. Destas, só sete conseguiram eleger deputados: PSD (89 deputados), PS (86), BE (19), CDS (18), PCP (15), PEV (2) e PAN (1). Quatro apresentaram-se: PSD+CDS e PCP+PEV.
Novos partidos. No boletim de voto deverão constar pelo menos quatro novos partidos (quando se faz a comparação com as legislativas de 2015): o Aliança, de Pedro Santana Lopes; o Chega, de André Ventura; o RIR, de Tino de Rans (que não concorrerá nos círculos da emigração) ; e a Iniciativa Liberal. Destes, só o Aliança e a Iniciativa Liberal já foram a votos, nas Europeias, obtendo respetivamente 1,86% e 0,8% dos votos (e portanto não conseguindo nem um nem outro eleger qualquer eurodeputado). A Iniciativa Liberal tem mais seguidores nas redes sociais do que teve votos nas eleições de junho (29,1 mil).
Ausências. Em relação à lista de partidos que consta da página da internet do Tribunal Constitucional, não se apresentam ao sufrágio de 06 de outubro três partidos: POUS, PLD e PPV, tendo este último declarado publicamente o seu apoio ao Chega.