Carlos Bruno esteve na origem do Laboratório de Otimização do Rendimento (LOR) do Sporting na inauguração da Academia leonina, em Alcochete, em 2002. Assistiu às fugas de Ronaldo para o ginásio e ao crescimento físico e futebolístico de dezenas de jogadores. Mas os recordes são de alguns ilustres desconhecidos, como Gonçalo Costa, Gil Santos ou Welinton Matos. Cédric Soares foi o jogador que mais o impressionou..Segundo o chefe do Laboratório leonino "é muito difícil" projetar o sucesso na formação. Nos iniciados e nos juvenis até há uns que não se dá nada por eles e acabam por ser atletas de excelência: "Já vi por aqui passarem jogadores portentosos fisicamente, com uma capacidade de trabalho extraordinária, resiliência, mas depois falta alguma capacidade no tratamento com a bola, falta inteligência tática, falta alguma capacidade psicológica e não dão jogadores.".CR7 foi uma exceção. "Ele era realmente muito franzino, mas no caso dele já se notava que o talento estava lá. Talento cognitivo, técnica que ele aprimorou com o trabalho", lembrou o preparador físico leonino sobre aquele que ainda hoje é o expoente máximo da Academia e do trabalho físico. Mas, acredite-se ou não, o capitão da seleção portuguesa e quatro vezes eleito o melhor do mundo já foi superado por muitos no ginásio leonino..Os quadros com os recordes são exibidos no ginásio como uma espécie de quadro de honra. A lista dos que se destacaram nos testes de força dos membros superiores (levantaram mais peso) é liderada por Welinton Matos, atualmente no Vizela. Não chegou à equipa principal, mas levantou 130 quilos, mais dez do que Henrique Gomes, Pedro Ferreira e Mica Pinto..Quanto à resistência, a lista é liderada por Pedro Empis, seguido de Filipe Chaby e Iuri Medeiros. João Moutinho e Nani também aparecem no quadro de honra. Nas elevações na barra, "Jovane Cabral é fortíssimo"..Gonçalo Costa, o mais veloz da Academia.O jogador que revelou maior capacidade de aceleração aos dez metros foi Gonçalo Costa, com a impressionante marca de 1,51 segundos, seguido de Thierry Correia - o jovem lateral-direito que já faz parte do plantel leonino correu os dez metros em 1,63 segundos..Se passarmos para os 30 metros (revelam a velocidade máxima de cada atleta), o mais veloz ainda é Gonçalo Costa. O defesa-esquerdo dos juniores correu os 30 metros em 3,80 segundos, enquanto Ilori (central que regressou esta semana a Alvalade) precisou de 3,90 segundos para completar a distância. "Fala-se muito do Ilori, mas se eu lhe disser quem é o mais veloz da Academia provavelmente não o conhecem, porque ainda não chegou à equipa principal (Gonçalo Costa). A velocidade só por si é apenas um fator. Wilson Eduardo, que está no Sp. Braga, era um jogador rapidíssimo, Eric Dier, Edgar Ié e Rafael Leão, por exemplo, são jogadores que estão no top", recordou Carlos Bruno..O CMJ (counter movement jump), que dá o valor do salto vertical de cada atleta em centímetros e que "é um ótimo indicador de potência muscular", é liderado por Gil Santos, seguido de Jefferson Encada, João S. Gomes e Thierry Correia, numa lista que também tem Wilson Eduardo..A base de dados já é considerável e está a ser ultimada para ficar disponível a quem de direito na Academia: "A ideia é criar um sistema integrado de informação. Agora temos umas tabelas dos melhores atletas nas avaliações físicas que fomos fazendo ao longo dos anos. E eles vão querendo bater as marcas de Nani, Moutinho ou Adrien. É uma competição saudável. Comparam-se com eles e pensam 'será que Nani era melhor do que eu na resistência...' ou 'será que eu consigo bater Cédric no teste da força?'".Cédric: de patinho feio a campeão da Europa.Depois de Ronaldo, houve dois atletas que impressionaram o chefe do Laboratório de Otimização do Rendimento do Sporting. Um mais do que outro. Rafael Leão, que "tem uma capacidade física brutal, apesar da resistência e do espírito cognitivo não o acompanharem". E Cédric Soares, atualmente no Inter de Milão: "Não fosse toda a capacidade mental que ele tem e física, de trabalho e querer muito, não era o jogador que é. Está a fazer uma carreira muito bonita. Lembro-me quando ele chegou à equipa principal e era o patinho feio. Um jogador desta altura no futebol moderno... muitos treinadores o vetaram e não viram para além da estatura. Depois foram reparando que era pequenino mas era melhor do que os outros. Hoje é campeão da Europa. É um jogador que me impressiona muito pela capacidade de trabalho que eu não consigo desassociar à capacidade mental.".Na formação, segundo Carlos Bruno, a responsabilidade de um bom treino físico é maior. É uma altura de muitas mudanças no crescimento físico, mental e psicológico: "É preciso orientá-los mas também é preciso deixá-los ser crianças." Na opinião do preparador físico leonino, os amigos, a escola e a diversão são fatores muito importantes: "Tudo o que é atividade extra deve ser valorizada em determinado contexto. Nós temos 64 miúdos na Academia e a sala de lazer está vazia. Antes quase andavam à estalada pela vez de jogar pingue-pongue, agora os tempos são outros e os meios tecnológicos ganham. Mesmo assim a ocupação de tempos livres destes miúdos é jogar futebol entre eles, sem regras, às vezes descalços nos relvados aqui à volta... Serão melhores jogadores e melhores homens se experienciarem outras coisas. Por um lado, temos de não os deixar descambar, por outro, temos de os deixar viver. A Academia não pode ser uma prisão."