O DN quis saber o que é que o país precisa de melhorar e nada melhor do que perguntar a algumas das pessoas que mais se destacam nas diferentes áreas. A palavra é dada aos protagonistas..Seixas da Costa: "O que tem faltado a Portugal é o sentido de compromisso"."Em 2020, devíamos sair um pouco das trincheiras. As pessoas estão entrincheiradas nas suas perspetivas pessoais, políticas e, até, culturais. Se nos deixarmos conquistar por uma cultura de extremismo que está a aparecer e a ter protagonistas, se as pessoas se deixarem conquistar por esses extremismos, o país não vai melhorar. O meu voto para 2020 é que as pessoas possam encontrar o sentido de compromisso, aliás, tem sido essa a mensagem do Presidente da República. O que tem faltado a Portugal é o sentido de compromisso e a capacidade para encontrar soluções de diálogo.".Ex-diplomata, professor universitário.Lídia Jorge: "Gostava que houvesse uma reconciliação com os professores"."Teria várias sugestões na área da cultura, mas a questão da educação ainda me parece prioritária. Para este ano, gostava que houvesse uma reconciliação com os professores. O governo devia investi-los de mais autoridade, desburocratizar as suas funções e proceder a uma formação contínua permanente. Além disso, devia procurar uma reconciliação na questão do tempo de serviço perdido. A cultura é essencial no nosso país, todas as áreas da cultura, mas, no meu entendimento, a que está na base de tudo é esta questão da educação. Outro aspeto relacionado com este, é que devia haver um reforço no plano geral da leitura. Devia haver um movimento de modo que a leitura e o livro fossem valorizados, isto como complemento à formação digital. Devia associar-se a formação tecnológica a um plano global de leitura, mostrar à nossa sociedade que os dois campos têm de estar profundamente ligados. Neste momento há um desequilíbrio, há um forte investimento na formação tecnológica e descura-se o que é o plano global de leitura.".Escritora.Carlos Fiolhais: "Deixem de alimentar bancos falidos com o dinheiro dos contribuintes"."Deixo para outros os desejos de melhoria na saúde, na justiça e na regionalização, três dos grandes problemas nacionais. Precisamos, como é óbvio, de uma mais rápida administração da justiça, de acesso mais fácil a cuidados de saúde e de mais equilibrada ocupação do território. E escolho três questões mais a montante, talvez menos óbvias, cuja resolução ajudaria decerto a que os outros problemas fossem solucionados..Portugal tem de melhorar a educação, a ciência e a cultura. Por uma herança pesada, somos o país europeu com pessoas menos qualificadas: a maioria (50,2%) da população ativa não tem o ensino secundário. Precisamos não só de continuar a combater o abandono escolar no básico e secundário, mas também de formar mais gente no ensino superior (entre os 30 e 34 anos só temos 33,5% com o ensino superior) e tratar a sério da educação de adultos (ainda há 5,2% de analfabetos)..A ciência cresceu mas não o suficiente: investimos 1,4% do produto interno bruto, quando a média europeia é 2,1%. O emprego científico, que é a parcela que devia absorver mais investimento, continua incipiente, vendo-se muitos jovens obrigados a procurar emprego lá fora..Finalmente, a cultura é uma miragem: muito pouco se poderá fazer com os 0,55% do Orçamento do Estado para 2020, o que inclui a RTP (cerca de metade). O património, as artes e as bibliotecas continuarão miseravelmente destapadas. Se me perguntarem de onde deve vir a cobertura, respondo: deixem de alimentar bancos falidos com o dinheiro dos contribuintes. Os pagamentos em 2020 ao BPN e ao Novo Banco, por cima dos que já foram feitos ao longo da década, são escandalosos.".Professor de Física na Universidade de Coimbra.Vitalino Canas: "Materializar a desburocratização e melhoria da prestação dos serviços públicos"."Portugal precisa de concretizar este projeto que está a ser seguido há alguns anos de consolidação orçamental. E, agora, com a diminuição da dívida pública, começar a materializar o desagravamento da carga fiscal na classe média, que é a que tem sido mais sobrecarregada. Ao nível da administração pública, materializar a desburocratização e melhoria da prestação dos serviços públicos, designadamente ao nível da saúde e da educação.".Advogado, professor na Faculdade de Direito de Lisboa.Leonor Freitas: "O que gostaria era que houvesse muita saúde, paz e bons investimentos"."A minha grande preocupação é estabilidade no país para podermos continuar a crescer, continuar a ser um país seguro. Espero, também, que continuemos a saber receber bem as pessoas e aproveitar este país, que é maravilhoso, para contribuir para que o turismo continue a crescer. O turismo acaba por ajudar a desenvolver todos os setores da sociedade portuguesa. Ao fim e ao cabo, o que gostaria era que houvesse muita saúde, paz e bons investimentos, para criar bons postos de trabalho e, assim, todos os portugueses terem um nível de vida com dignidade. Se tudo isto acontecer, é bom para todos, nomeadamente para a Casa Ermelinda Freitas.".Empresária, Casa Ermelinda Freitas.Naide Gomes: "Devia haver um plano para que os atletas pudessem estudar e treinar ao mesmo tempo"."A nível do desporto, ainda falta muito no apoio aos nossos jovens, na medida em que, além de treinarem, têm de pensar nos estudos e estes não estão preparados para que um atleta possa conciliar as duas coisas. É, por isso, que não conseguimos melhores resultados. Devia haver um plano de estudos para que os atletas pudessem estudar e treinar ao mesmo tempo. Os atletas começam muito bem a sua carreira, mas quando entram na universidade têm de meter na balança os estudos ou o desporto. Ou são mesmo muito bons no desporto ou, então, optam pelo estudo..Tentei conciliar o atletismo e os estudos e foi muito difícil. Demorei algum tempo para concluir o curso [Fisioterapia], o que fiz com muito esforço. Há anos em que temos de apostar nos Jogos Olímpicos ou nos Mundiais, e as prioridades mudam, uma pessoa tem de apostar na medalha..Falta uma orientação, um acompanhamento, para que estes jovens possam pensar: se fizer desporto, vou conseguir terminar o meu curso; se faltar às aulas, consigo repô-las. E isso devia existir não apenas na universidade, mas para todo o ensino, desde os mais novos. A realidade é que, muitas vezes, os treinos não são compatíveis com os horários das aulas, as provas com a realização de testes exames, etc.".Ex-atleta olímpica, fisioterapeuta das modalidades.Manuel Villaverde Cabral: "É preciso melhorar tudo"."É preciso melhorar tudo. Começa na organização do próprio governo e no seu plano. Independentemente de haver mais 1% ou menos 1% no Orçamento, para a esquerda ou para a direita (os orçamentos só se conhecem no fim), há um problema da própria organização do governo, há um número disparatado de responsáveis governamentais, por exemplo. Falta uma visão global do país..Num governo com 70 membros, não há um único para a questão do envelhecimento, o que a meu ver não é por acaso. A questão do envelhecimento, com a questão da saúde e das reformas, corresponde a metade do Orçamento. E esses números só poderão aumentar, já que a população está a envelhecer e não há soluções para o aumento da natalidade. Começa-se por não admitir o problema, continua a negar-se o problema das pensões, e, depois, não há soluções. As pessoas estão a viver mais, mas com mais problemas..Uma parte do problema - na saúde, como noutros setores - é que falta é um plano, um investimento nas diferentes áreas, o que não existe. O investimento que existe é distribuído de forma clientelar. O ideal seria uma reforma político-constitucional.".Sociólogo, investigador jubilado.Isabel do Carmo: "É preciso diminuir as desigualdades sociais, só se diminui a pobreza diminuindo as desigualdades"."Logo à cabeça, é preciso diminuir as desigualdades sociais, só se diminui a pobreza diminuindo as desigualdades sociais. E, no Serviço Nacional de Saúde, contratar profissionais e equipar os hospitais para prestarem serviços que agora são comprados ao exterior. No mundo, dar força aos movimentos sociais para derrubarem a ignorância. E perceber melhor que os focos de guerra, que estão a matar pessoas e a empurrar os refugiados para fora das suas terras, são provocados pela indústria do armamento. É preciso ir direito a esta evidência para combater a origem do sofrimento.".Médica reformada, professora na Faculdade de Medicina de Lisboa