No dia 28 de setembro de 1974 não se publicou o DN, por deliberação do governo. Mas no dia seguinte o jornal não só pedia desculpa aos leitores por esse "dia em branco" como explicava tudo o que se tinha passado.."A reação não passou. A vigilância conjunta das massas populares e das Forças Armadas fez abortar a grave ameaça que durante algumas horas impendeu sobre a jovem democracia portuguesa." Era assim, em tom determinado, que começava o texto publicado na capa do Diário de Notícias de 29 de setembro de 1974 (há precisamente 45 anos), dando conta da manifestação fracassada de alguns setores conservadores e nacionalistas da direita portuguesa. O título do DN não podia ser mais claro: "Malogrou-se a tentativa reaccionária contra o M.F.A. e o Governo Provisório.".A manifestação da chamada "maioria silenciosa", de apoio ao Presidente da República, o general Spínola, tinha sido organizada por elementos do Partido Liberal (PL), do Partido da Democracia Cristã (PDC) e do Partido do Progresso/ Movimento Federalista Português (PP-MFP) e autorizada pelo governador civil de Lisboa. Mas acaba por ser interditada pelo Movimento das Forças Armadas, que denuncia o "movimento reacionário" e apela à vigilância popular. São levantadas barricadas populares nos acessos a Lisboa e são detidos vários elementos da organização da iniciativa.."A maioria silenciosa provou ser uma tenebrosa minoria que foi no entanto capaz de convencer espíritos menos bem informados das suas 'boas intenções' - e os acontecimentos que se desenrolaram na madrugada de sábado vieram bem demonstrar até que extremos a reação é capaz de ir para alcançar os seus sinistros desígnios", escreve o DN. "O armamento de várias espécies apreendido aos 'inocentes manifestantes' que se dirigiam para Lisboa e em que predominavam armas de fogo de diversos tipos, catanas, sabres, facas, mocas, etc., era para ser utilizado contra o povo, contra as Forças Armadas, contra a democracia iniciada em 25 de abril, numa tentativa de fazer ressurgir a negra noite de 48 anos a que o MFA pôs termo há cinco meses."."Mas o povo não o permitiu", conta o DN. "A manifestação fora já denunciada, sobretudo através dos órgãos de informação, como manobra da reação que utilizava abusivamente o nome do Presidente da República para cumprir os seus objetivos.".Na sequência dos acontecimentos de 28 de setembro de 1974, o governo provisório, presidido por Vasco Gonçalves, anuncia "medidas concretas para reforçar e garantir a democratização do país", como relata o DN.