Depois de perder o referendo do Brexit, David Cameron demitiu-se da liderança do Partido Conservador e deixou o cargo de primeiro-ministro, abrindo caminho para que Theresa May assumisse o poder e liderasse a negociação para a saída do Reino Unido da União Europeia. Que devia acontecer hoje..Mas face às dificuldades de os deputados (incluindo os conservadores) aprovarem o acordo que negociou com Bruxelas, a primeira-ministra anunciou na quarta-feira que vai demitir-se depois de este ter a luz verde do Parlamento britânico. Esta sexta-feira, haverá um novo debate e votação apenas sobre o acordo de saída (e não com a declaração política que o tem acompanhado até agora), na esperança de cumprir a exigência da União Europeia e permitir adiar o Brexit até 22 de maio..Se May conseguir aprovar o acordo e houver um Brexit (resta saber se a 12 de abril, 22 de maio ou depois), isso abre caminho a uma nova luta pela liderança dentro dos Tories, cabendo ao próximo líder do partido negociar a segunda fase do processo do Brexit: a relação futura com a União Europeia..Nessa luta, surgem vários nomes - alguns de que já se fala há anos, mais ou menos conhecidos a nível internacional -, numa lista dominada pelos candidatos do sexo masculino. Tal como quando May foi eleita, os críticos lembram que o futuro do país ficará nas mãos de uma pessoa escolhida não através de eleições gerais mas de uma eleição interna dentro do Partido Conservador - que poderá ou não incluir uma consulta aos militantes..Boris Johnson, o eterno candidato.O ex-chefe da diplomacia britânica e antigo presidente da Câmara de Londres foi um dos rostos da campanha pelo Brexit e há muito que é apontado para a liderança do Partido Conservador..Em 2006, após o referendo e a decisão de Cameron de se afastar, o seu nome era um dos mais falados. Mas Johnson recuou no dia em que deveria apresentar a candidatura, depois de uma aparente facada nas costas do aliado da campanha para a saída da União Europeia. Michael Gove, atual ministro do Ambiente, antecipou-se e anunciou a sua própria candidatura..Johnson, de 54 anos, acabaria por ser convidado por May para a chefia da diplomacia, apesar de ser um dos seus maiores críticos em relação ao Brexit. Demitiu-se em julho de 2018, em protesto pela forma como a primeira-ministra estava a empreender as negociações, depois de esta ter apresentado o plano de Chequers..Na última conferência dos Tories, em outubro, Johnson revelou a sua visão para o partido - num discurso para o qual alguns militantes fizeram filas durante horas. Apelou ao regresso aos valores tradicionais do partido para combater a "cabala de marxistas antiquados, admiradores de Hugo Chávez e defensores do Kremlin" que estão à frente do Labour, de chegar ao poder no Reino Unido..Boris Johnson tem sido um crítico do acordo de May, com quem se encontrou pelo menos três vezes na última semana. E foi um dos que passou a mensagem de que podia mudar de opinião se a primeira-ministra se demitisse. "Se as pessoas como eu vão apoiar este acordo, então precisamos de provas de que a segunda fase das negociações será diferente da primeira", indicou num evento público na terça-feira..Dominic Raab, o ex-ministro do Brexit.O deputado assumiu a pasta do Brexit após a saída de David Davis do governo (na mesma altura que Boris Johnson), mas nem chegou a estar cinco meses no cargo, tendo-se demitido após May ter visto o seu governo aprovar o acordo de Brexit que negociou com a União Europeia. Um plano que embateu contudo na rejeição dos deputados..Raab considera que o acordo não cumpre as promessas que o Partido Conservador fez nas eleições de 2017 e foi por isso que se demitiu. Apesar de só ter sido ministro durante cinco meses, tem estado em cargos menores no governo desde que foi eleito deputado, em 2010..Raab, de 44 anos, fez campanha pelo Brexit no referendo e é visto como o principal adversário de Boris Johnson dentro da ala defensora de um Brexit mais radical. Esteve no domingo na reunião com May em Chequers, a casa de campo da primeira-ministra, durante a qual ela tentou convencer os críticos do Partido Conservador a apoiá-la..Jeremy Hunt, o chefe da diplomacia.Era, tal como May, um defensor do Remain (continuar na União Europeia), tendo até chegado a defender um novo referendo sobre o acordo de Brexit. Uma ideia que agora rejeita, indo até mais longe, ao querer manter a hipótese de uma saída sem acordo em cima da mesa..Jeremy Hunt sucedeu a Boris Johnson na chefia da diplomacia britânica, depois de seis anos no Ministério da Saúde, e é visto por alguns como o único que pode parar o ex-ministro..Numa entrevista ao Evening Standard, mostrou nesta quinta-feira a sua lealdade a May, numa crítica indireta a Johnson. "O Brexit é bem mais importante do que a ambição de muitas pessoas que podem querer suceder a Theresa May", afirmou, alegando que os britânicos não tiveram oportunidade nos últimos anos de ver "o que uma nação conservadora pode ser". Isto porque Cameron ficou a mãos com a austeridade após a crise e May teve de lidar com o Brexit..Sajid Javid, o ministro do Interior.O ministro do Interior é outro dos nomes que se fala para suceder a May, mas por causa de algumas decisões que tomou nas últimas semanas, perdeu algum fôlego na corrida. Em causa, por exemplo, a decisão de retirar a cidadania britânica a Shamina Begum, uma jovem que viajou para a Síria para se juntar ao Estado Islâmico e pediu para voltar, porque estava grávida e temia pela vida do bebé. Este acabou por morrer..O antigo banqueiro, filho de um imigrante paquistanês que chegou ao Reino Unido só com uma libra, defendeu o Remain no referendo mas agora é um defensor do Brexit e está também preparado para manter a ideia de uma saída sem acordo na mesa. Tem sido uma das vozes mais críticas contra May dentro do próprio Conselho de Ministros..Michael Gove, ministro do Ambiente.Depois de ter estragado os planos de Boris Johnson na corrida para suceder a Cameron, Michael Gove perdeu apoio dentro do partido. Tem defendido a primeira-ministra, o que também lhe custou votos, mas para alguns poderia ser um líder capaz de unir o partido - completamente dividido em relação à futura relação do Reino Unido com a União Europeia..O antigo rosto da campanha do Brexit no referendo de 2016, voltou ao governo em 2017 (depois de May o ter despedido de ministro da Justiça quando chegou ao poder) e o seu percurso na pasta do Ambiente tem sido considerado positivo. Mas com o público continua a ser impopular por causa do tempo que passou à frente da Educação..David Davis, à terceira é de vez?.Foi o primeiro ministro do Brexit de Theresa May, tendo deixado o governo na mesma altura que Boris Johnson, após a primeira-ministra apresentar o plano de Chequers..David Davis, de 69 anos, já foi candidato à liderança dos Tories em duas ocasiões: em 2001 ficou pela segunda votação entre os deputados do partido (se há vários candidatos, vão sendo eliminados em sucessivas votações entre os deputados conservadores); já em 2005, perdeu para David Cameron (que viria a tornar-se primeiro-ministro) na votação dos militantes, tendo chegado a ganhar o primeiro voto entre os deputados conservadores..Será que à terceira é de vez? O nome do eurocético Davis continua a ser falado..Amber Rudd, a ministra do Trabalho.Um dos poucos nomes femininos na lista, defendeu o Remain e foi contra a primeira-ministra ao defender publicamente a sua oposição a um Brexit sem acordo. Ministra do Trabalho e das Pensões desde novembro, tinha sido obrigada a demitir-se em abril da pasta do Interior por causa do escândalo de deportações Windrush..Mas há quem considere que tem pouco capital político para liderar o país, podendo contudo ficar num importante cargo dentro do governo..Andrea Leadsom, a ex-adversária de May.Depois de ter chegado com May ao final da corrida para substituir Cameron, em 2016, Andrea Leadsom optou por abandonar a candidatura, em vez de enfrentar May no voto dos militantes. Hoje é o rosto do governo na Câmara dos Comuns, uma espécie de ministro dos Assuntos Parlamentares..A sua luta constante com o presidente da Câmara dos Comuns, o ex-conservador John Bercow, tem-lhe rendido apoios. Leadsom, que também tem sido crítica de May mas em público sai sempre em sua defesa, diz que ficou no executivo para lutar por um "melhor Brexit", defendendo uma saída sem acordo bem gerida.