Dois meses depois de ter vencido as eleições espanholas sem uma maioria suficiente para governar sozinho, o líder socialista, Pedro Sánchez, vai anunciar nesta terça-feira a data em que se sujeitará ao debate de investidura no Congresso. Isto apesar do impasse das negociações com o líder da aliança Unidas Podemos (UP), Pablo Iglesias, com quem se reuniu pelo menos quatro vezes. Este insiste em ter ministros no executivo, além do chamado acordo programático, mas Sánchez só estará disposto a dar-lhe cargos secundários. A não ser que haja uma abstenção surpreendente do Ciudadanos e do Partido Popular (PP), Sánchez arrisca levar a decisão só para depois do verão.."O acordo está mais próximo do que parece, embora seja preciso esperar dois meses e meio", disse Iglesias na terça-feira, após um encontro com Sánchez. Deixava claro que qualquer investidura já em julho - as datas em cima da mesa serão 9 ou 23 - não irá contar com o apoio dos 42 deputados da UP (que junta o Podemos e a Esquerda Unida). A aliança defende um governo de coligação, enquanto os socialistas apostam num executivo minoritário apoiado pela UP, alegando que a soma dos representantes dos dois partidos (o PSOE elegeu 123) ainda fica a 11 votos da maioria absoluta de 176. Esta é necessária para uma investidura à primeira (na segunda votação basta maioria simples), mas também para garantir uma legislatura sem problemas.."Estamos decididos a trabalhar profundamente para que a investidura se substancie em julho", disse nesta sexta-feira a ministra da Educação e porta-voz do governo, Isabel Celáa. "É necessário concentrarmo-nos nisto porque nenhum bom aluno leva as notas para setembro", acrescentou, no final do Conselho de Ministros..Uma reunião semanal na qual Iglesias quer ter lugar, mostrando-se irredutível em relação a essa possibilidade. "Há coisas que são óbvias e claro que falámos disso, mas sobre estes conteúdos da negociação e como se vão fazer estas coisas permitam-me que seja discreto", disse numa entrevista à agência EFE ainda em maio, antes das regionais, municipais e europeias que atrasaram as negociações. Na mesma ocasião falou na hipótese de ficar com a pasta do Interior, para acabar com o que apelidou de "esgoto", mas mais recentemente virou a sua atenção para o Trabalho ou a Segurança Social, segundo a imprensa espanhola..Proposta "razoável e sensata".Sánchez considera que a proposta que fez a Iglesias é "razoável, ambiciosa e sensata". E explicou: "Estamos a oferecer-lhes um acordo como sócio preferencial no Congresso, um acordo programático para pôr a andar avanços sociais e uma cooperação institucional onde o Podemos tem todo o direito a estar representado no âmbito da administração pública." Em causa estariam direções-gerais ou secretarias de Estado. Contudo, Iglesias quer mais e não confia no líder socialista: "Fiar-se na palavra de um político é a coisa mais imprudente que se pode fazer na vida. Não se fiem em nenhum político, nem em nós. Fiem-se só nas garantias. A única garantia é que em Espanha haja um governo de coligação." Iglesias acusa o líder socialista de querer procurar o apoio da direita para a investidura, nomeadamente do Ciudadanos - algo que o PSOE nega. Depois das eleições de 2016, Albert Rivera e Sánchez chegaram a acordo para a investidura que permitiria afastar o então primeiro-ministro Mariano Rajoy. Mas este falhou por não conseguir a abstenção do Podemos. Desde então, a relação entre os dois esfriou e o líder do Ciudadanos tem sido perentório a negar qualquer apoio à investidura. "Se há alguém que pense que o sanchismo tem de andar à solta, que apresente o seu partido político", disse nesta sexta-feira, numa reunião do conselho geral do Ciudadanos, reiterando a sua posição de dizer "não" a um governo de Sánchez..Também Pablo Casado, do PP, afasta a hipótese de uma abstenção. "Sánchez não pode estar a pedir aos partidos constitucionalistas que favoreçam a sua investidura quando ao mesmo tempo não quer clarificar se vai ou não indultar os que quiseram romper a democracia espanhola", afirmou, mostrando-se aberto apenas para os chamados "pactos de Estado" com o PSOE. "Não posso ser mais generoso com Sánchez", disse na quinta-feira. De acordo com a imprensa espanhola, haverá vozes dentro do PP (há quem diga até do ex-primeiro-ministro José María Aznar) que defendem a hipótese de uma abstenção..Outros partidos.Quanto aos restantes partidos (mesmo com o apoio do Podemos, o PSOE precisa de mais votos), o Partido Nacionalista Basco (seis deputados), o Compromís (um) e o Partido Regionalista da Cantábria (um) devem dar o voto, deixando ainda assim os socialistas com três em falha. É aí que entram os independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha (15 deputados), que têm dito que não serão um entrave a um governo de esquerdas. Mas foram eles que, ao votar contra o Orçamento, obrigaram a antecipar eleições..A 28 de abril, nem esquerda nem direita (mesmo com a extrema-direita do Vox, que se estreia no Congresso) conseguiram uma maioria suficiente para governar. Além do diálogo com a Unidas Podemos, o líder socialista tem feito um apelo aos restantes grandes partidos para que facilitem a investidura, garantindo que "a única alternativa ao PSOE é o bloqueio". O anúncio da data da investidura servirá para dar o tiro de partida na contagem decrescente para uma eventual repetição das eleições - que poderá ser em finais de outubro ou já em novembro. Um cenário que já aconteceu após as legislativas de dezembro de 2015 (foi preciso repeti-las em junho de 2016) e que Sánchez alega "ninguém quer". Com o início da contagem decrescente, o socialista espera pressionar os restantes partidos a alguma cedência..O QUE SE SEGUE?.Legislativas foram a 28 de abril, mas as autárquicas, regionais e europeias atrasaram as negociações. A marcação da data da investidura põe a correr os prazos legais que podem culminar em novas eleições..MARCAÇÃO DA DATA O líder socialista, Pedro Sánchez, que foi convidado pelo rei Felipe VI para formar governo, anuncia nesta terça-feira numa reunião com a presidente do Congresso, Meritxell Batet, a data escolhida para a investidura. Segundo os media espanhóis, há duas datas prováveis, ou 9 ou 23 de julho..INVESTIDURA O processo de investidura passa pela apresentação do plano de governo de Sánchez diante do Congresso, procurando conseguir o apoio da maioria absoluta dos deputados - isto é, 176 votos em 350 possíveis. Caso não consiga esse apoio numa primeira votação, Sánchez irá novamente a votos 48 horas depois, necessitando então apenas de uma maioria simples, isto é, mais votos a favor do que contra..DOIS MESES Caso falhe a investidura, já está a correr desde a primeira votação o prazo de dois meses durante os quais Sánchez (ou outro qualquer candidato) poderá voltar a apresentar-se diante dos deputados para conseguir o apoio. Caso esse prazo chegue ao fim, o rei irá dissolver o Congresso e o Senado e convocar novas eleições..47 DIAS A partir do momento em que o rei dissolve o Congresso, começa a contar o prazo de 47 dias para a realização de eleições. Depois de em 2016 os espanhóis terem sido obrigados a ir novamente às urnas por os partidos não chegarem a acordo, o prazo foi reduzido (era antes de 54 dias), já que a campanha durará apenas uma semana e não as habituais duas..NOVAS ELEIÇÕES Caso a data de 9 de julho seja a escolhida para a investidura e decorram todos os prazos, Espanha volta às urnas a 27 de outubro. A investidura a 23 de julho, que dá mais espaço para negociações, implica eleições a 10 de novembro. A data intermédia, a de 16 de julho, está à partida posta de lado, visto que implicaria a realização de eventuais eleições a 3 de novembro, que apanharia o fim de semana prolongado do feriado do Dia de Todos-os-Santos e podia influenciar a participação.
Dois meses depois de ter vencido as eleições espanholas sem uma maioria suficiente para governar sozinho, o líder socialista, Pedro Sánchez, vai anunciar nesta terça-feira a data em que se sujeitará ao debate de investidura no Congresso. Isto apesar do impasse das negociações com o líder da aliança Unidas Podemos (UP), Pablo Iglesias, com quem se reuniu pelo menos quatro vezes. Este insiste em ter ministros no executivo, além do chamado acordo programático, mas Sánchez só estará disposto a dar-lhe cargos secundários. A não ser que haja uma abstenção surpreendente do Ciudadanos e do Partido Popular (PP), Sánchez arrisca levar a decisão só para depois do verão.."O acordo está mais próximo do que parece, embora seja preciso esperar dois meses e meio", disse Iglesias na terça-feira, após um encontro com Sánchez. Deixava claro que qualquer investidura já em julho - as datas em cima da mesa serão 9 ou 23 - não irá contar com o apoio dos 42 deputados da UP (que junta o Podemos e a Esquerda Unida). A aliança defende um governo de coligação, enquanto os socialistas apostam num executivo minoritário apoiado pela UP, alegando que a soma dos representantes dos dois partidos (o PSOE elegeu 123) ainda fica a 11 votos da maioria absoluta de 176. Esta é necessária para uma investidura à primeira (na segunda votação basta maioria simples), mas também para garantir uma legislatura sem problemas.."Estamos decididos a trabalhar profundamente para que a investidura se substancie em julho", disse nesta sexta-feira a ministra da Educação e porta-voz do governo, Isabel Celáa. "É necessário concentrarmo-nos nisto porque nenhum bom aluno leva as notas para setembro", acrescentou, no final do Conselho de Ministros..Uma reunião semanal na qual Iglesias quer ter lugar, mostrando-se irredutível em relação a essa possibilidade. "Há coisas que são óbvias e claro que falámos disso, mas sobre estes conteúdos da negociação e como se vão fazer estas coisas permitam-me que seja discreto", disse numa entrevista à agência EFE ainda em maio, antes das regionais, municipais e europeias que atrasaram as negociações. Na mesma ocasião falou na hipótese de ficar com a pasta do Interior, para acabar com o que apelidou de "esgoto", mas mais recentemente virou a sua atenção para o Trabalho ou a Segurança Social, segundo a imprensa espanhola..Proposta "razoável e sensata".Sánchez considera que a proposta que fez a Iglesias é "razoável, ambiciosa e sensata". E explicou: "Estamos a oferecer-lhes um acordo como sócio preferencial no Congresso, um acordo programático para pôr a andar avanços sociais e uma cooperação institucional onde o Podemos tem todo o direito a estar representado no âmbito da administração pública." Em causa estariam direções-gerais ou secretarias de Estado. Contudo, Iglesias quer mais e não confia no líder socialista: "Fiar-se na palavra de um político é a coisa mais imprudente que se pode fazer na vida. Não se fiem em nenhum político, nem em nós. Fiem-se só nas garantias. A única garantia é que em Espanha haja um governo de coligação." Iglesias acusa o líder socialista de querer procurar o apoio da direita para a investidura, nomeadamente do Ciudadanos - algo que o PSOE nega. Depois das eleições de 2016, Albert Rivera e Sánchez chegaram a acordo para a investidura que permitiria afastar o então primeiro-ministro Mariano Rajoy. Mas este falhou por não conseguir a abstenção do Podemos. Desde então, a relação entre os dois esfriou e o líder do Ciudadanos tem sido perentório a negar qualquer apoio à investidura. "Se há alguém que pense que o sanchismo tem de andar à solta, que apresente o seu partido político", disse nesta sexta-feira, numa reunião do conselho geral do Ciudadanos, reiterando a sua posição de dizer "não" a um governo de Sánchez..Também Pablo Casado, do PP, afasta a hipótese de uma abstenção. "Sánchez não pode estar a pedir aos partidos constitucionalistas que favoreçam a sua investidura quando ao mesmo tempo não quer clarificar se vai ou não indultar os que quiseram romper a democracia espanhola", afirmou, mostrando-se aberto apenas para os chamados "pactos de Estado" com o PSOE. "Não posso ser mais generoso com Sánchez", disse na quinta-feira. De acordo com a imprensa espanhola, haverá vozes dentro do PP (há quem diga até do ex-primeiro-ministro José María Aznar) que defendem a hipótese de uma abstenção..Outros partidos.Quanto aos restantes partidos (mesmo com o apoio do Podemos, o PSOE precisa de mais votos), o Partido Nacionalista Basco (seis deputados), o Compromís (um) e o Partido Regionalista da Cantábria (um) devem dar o voto, deixando ainda assim os socialistas com três em falha. É aí que entram os independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha (15 deputados), que têm dito que não serão um entrave a um governo de esquerdas. Mas foram eles que, ao votar contra o Orçamento, obrigaram a antecipar eleições..A 28 de abril, nem esquerda nem direita (mesmo com a extrema-direita do Vox, que se estreia no Congresso) conseguiram uma maioria suficiente para governar. Além do diálogo com a Unidas Podemos, o líder socialista tem feito um apelo aos restantes grandes partidos para que facilitem a investidura, garantindo que "a única alternativa ao PSOE é o bloqueio". O anúncio da data da investidura servirá para dar o tiro de partida na contagem decrescente para uma eventual repetição das eleições - que poderá ser em finais de outubro ou já em novembro. Um cenário que já aconteceu após as legislativas de dezembro de 2015 (foi preciso repeti-las em junho de 2016) e que Sánchez alega "ninguém quer". Com o início da contagem decrescente, o socialista espera pressionar os restantes partidos a alguma cedência..O QUE SE SEGUE?.Legislativas foram a 28 de abril, mas as autárquicas, regionais e europeias atrasaram as negociações. A marcação da data da investidura põe a correr os prazos legais que podem culminar em novas eleições..MARCAÇÃO DA DATA O líder socialista, Pedro Sánchez, que foi convidado pelo rei Felipe VI para formar governo, anuncia nesta terça-feira numa reunião com a presidente do Congresso, Meritxell Batet, a data escolhida para a investidura. Segundo os media espanhóis, há duas datas prováveis, ou 9 ou 23 de julho..INVESTIDURA O processo de investidura passa pela apresentação do plano de governo de Sánchez diante do Congresso, procurando conseguir o apoio da maioria absoluta dos deputados - isto é, 176 votos em 350 possíveis. Caso não consiga esse apoio numa primeira votação, Sánchez irá novamente a votos 48 horas depois, necessitando então apenas de uma maioria simples, isto é, mais votos a favor do que contra..DOIS MESES Caso falhe a investidura, já está a correr desde a primeira votação o prazo de dois meses durante os quais Sánchez (ou outro qualquer candidato) poderá voltar a apresentar-se diante dos deputados para conseguir o apoio. Caso esse prazo chegue ao fim, o rei irá dissolver o Congresso e o Senado e convocar novas eleições..47 DIAS A partir do momento em que o rei dissolve o Congresso, começa a contar o prazo de 47 dias para a realização de eleições. Depois de em 2016 os espanhóis terem sido obrigados a ir novamente às urnas por os partidos não chegarem a acordo, o prazo foi reduzido (era antes de 54 dias), já que a campanha durará apenas uma semana e não as habituais duas..NOVAS ELEIÇÕES Caso a data de 9 de julho seja a escolhida para a investidura e decorram todos os prazos, Espanha volta às urnas a 27 de outubro. A investidura a 23 de julho, que dá mais espaço para negociações, implica eleições a 10 de novembro. A data intermédia, a de 16 de julho, está à partida posta de lado, visto que implicaria a realização de eventuais eleições a 3 de novembro, que apanharia o fim de semana prolongado do feriado do Dia de Todos-os-Santos e podia influenciar a participação.