Depois de dois anos em que as maiorias republicanas no Congresso estenderam a passadeira a Donald Trump, pode um Congresso de maiorias distintas limitar o poder executivo e influenciar o rumo da administração até 2020? Poder, pode, mas tudo dependerá da habilidade política dos democratas, ainda sem uma agenda percetível e uma renovação dos seus quadros capaz de gerar a dinâmica imprescindível para galvanizar as primárias do partido e, depois, derrotar Trump..É certo que o grosso da ação legislativa precisa da intervenção das duas câmaras, o que em muitas matérias externas e orçamentais dá um poder decisivo ao Senado, com maioria republicana reforçada e sem ninguém que pegue no legado de John McCain para fazer frente a Trump. Neste sentido, vale a pena acompanhar o equilíbrio que os democratas tentarão exercer na câmara baixa, sobretudo nos comités de intelligence e de relações externas. O primeiro tinha em Devin Nunes um escudo às investigações sobre a intromissão russa na campanha de 2016, mas a alteração dessa liderança para o democrata Adam Schiff vai endurecer o cerco a Trump. Já o comité de relações externas pode fazer o que evitou nestes dois anos, fiscalizando sem tréguas as orientações da administração em áreas ausentes de debate sério, como o Irão, a Coreia do Norte, a Rússia, a Arábia Saudita ou a desvalorização dos aliados da NATO..É de esperar que o número de audições dispare, bem como a fiscalização de desgaste diário. Normalmente, quando isto acontece, os presidentes tendem a desviar atenções com ações militares externas, forjando um consenso bipartidário que vem balizando a política de segurança nacional. Mesmo que esta administração não seja adepta de investidas militares, Trump já mostrou estar confortável com um ou outro ataque cirúrgico unilateral. A retirada da Síria reabre-lhe essa margem..Os democratas não estarão à altura do mandato dado em novembro se não inverterem a delegação de poderes concedida pelo Congresso ao executivo nestes dois anos, se não travarem a própria abdicação de responsabilidades constitucionais e se não exercerem uma diplomacia paralela que contenha os danos cometidos pela administração. Isto já sucedeu no passado e deve voltar a repetir-se. A avaliação política aos democratas começa agora. 2020 é já ali..Investigador universitário