Nietzsche e a maratona

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Amanhã será o último dia do estado de emergência. Uma notícia que ficará para a história deste ano de 2021. Após quase meio ano neste estado, os números da pandemia permitiram, finalmente, terminar com esta medida drástica. O Presidente da República decretou o fim do mesmo após dia 30, mas também deixou o aviso de que não hesitará em avançar com novo estado de emergência, se necessário for. Ainda não estamos livres da covid-19 e o risco de novas variantes persegue-nos. Aliás, hoje mesmo o Conselho de Ministros reunir-se-á para discutir ainda as medidas para o plano de desconfinamento em curso (com a última fase marcada para 3 de maio).

Até aqui foram 172 dias vividos numa democracia diferente daquela a que estávamos habituados desde o 25 de Abril de 1974, com muitos direitos, liberdades e garantias suspensos. Foram tempos de preocupação, tristeza, cólera, desilusão. Em alguns casos atravessaram-se momentos de depressão, desemprego, falências. Em tantos outros, de oportunidades, resistência e reinvenção.

Nunca como hoje fez tanto sentido a expressão "o que não nos mata torna-nos mais fortes" (cuja autoria é atribuída a Friedrich Nietzsche, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão do século XIX). Muitos portugueses fizeram sacrifícios, abdicaram de parte das suas vidas pessoais e familiares para ajudar a salvar os outros, deram o melhor de si para que chegássemos aqui. A força interior é determinante para enfrentar os meses que ainda faltam para vencer a pandemia, a crise económica e social e a tremenda crise de valores que paira no ar e que poderá ainda agudizar-se.

Os portugueses sentem-se exaustos, como se tivessem acabado de correr uma maratona. No desporto é uma das mais longas, desgastantes e difíceis provas de atletismo e é, tradicionalmente, o último evento dos Jogos Olímpicos. Para a correr sem parar, sem lamúrias nem queixumes, foi preciso muito treino durante longos e penosos anos de trabalho árduo, suor e, às vezes, lágrimas para tantos atletas. Um maratonista, como é o povo português, não se deixa abater pelos buracos no caminho, as curvas e contracurvas do coronavírus. Só a esperança e a capacidade de reinvenção ajudarão Portugal a sair do ventilador.

O fim do estado de emergência é uma boa notícia para as famílias e para muitas empresas que ainda têm sangue nas veias para poder reagir e acreditar em Nietzsche: o que não nos mata torna-nos (mesmo) mais fortes.

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