A corrida à Casa Branca domina as conversas na contagem decrescente para as eleições de 3 de novembro, mas o resultado da renovação de um terço do Senado também poderá deixar marca nos EUA. Seis anos depois de terem perdido a maioria, os democratas estão lançados na reconquista, apoiados pelos bolsos fundos dos doadores e pelo facto de a rejeição ao presidente Donald Trump estar a afundar os republicanos..Em jogo na noite eleitoral está também a renovação da totalidade da Câmara dos Representantes (435 congressistas), com os democratas favoritos a manter a maioria conquistada em 2018 (232 democratas contra 197 republicanos, havendo ainda um libertário e cinco lugares vagos). São ainda eleitos 13 governadores (incluindo os dos territórios da Samoa Americana e de Porto Rico), mas aqui a corrida só está renhida num estado, o Montana..No Senado, além dos 33 senadores que chegam ao fim do mandato de seis anos, há mais dois lugares em disputa: um no Arizona, por causa da morte do senador John McCain em 2018, e outro na Geórgia, após a demissão de Johnny Isakson, por motivos de saúde, em finais de 2019. A atual maioria é de 53 republicanos contra 47 democratas (incluindo dois independentes que têm votado com a minoria)..Feitas as contas, os republicanos têm de defender 23 lugares a 3 de novembro. Já os democratas têm de defender 12, bastando manter os que têm e ganhar três ou quatro lugares aos adversários para recuperar a maioria. A diferença depende de Joe Biden ganhar as presidenciais, visto que o vice-presidente tem o poder de desempatar as votações no Senado..Com o Senado à mão de semear (o site FiveThirtyEight dá-lhes 74% de probabilidade), os candidatos democratas têm conseguido um recorde de financiamento. Nos oito estados onde a competição é maior, os democratas angariaram no terceiro trimestre do ano 261,8 milhões de dólares coletivamente, contra apenas 96 milhões dos adversários republicanos..O próprio presidente já admitiu que será muito difícil manter o Senado, segundo o The Washington Post, explicando ainda que não quer ajudar alguns deles. Mas muitos dos que têm o lugar em risco também não querem o apoio do presidente, tento procurado algum tipo de distanciamento para não caírem junto com Trump, ao mesmo tempo que não o querem irritar para não ser alvo dos seus ataques no Twitter e arriscar antagonizar os eleitores que ele ainda tem..Estas são algumas das corridas a ter em conta no Senado..Não são só os republicanos que arriscam perder lugares. Um dos estados que todos os analistas e as sondagens mostram que vai mudar de cor é o Alabama, do atual azul democrata para o vermelho republicano..Doug Jones está no cargo desde 2018, tendo ganho as eleições especiais que foram convocadas após Jeff Sessions ter ido para procurador-geral dos EUA. Não era o favorito, mas a um mês das eleições no estado conservador, o adversário republicano Roy Moore foi acusado por três mulheres de crimes sexuais (duas delas eram menores na altura dos factos)..Apesar de ter recebido o apoio de Trump, Moore perdeu. Mas Jones tem agora poucas hipóteses de manter-se no cargo, apesar de ser considerado um dos democratas mais conservadores no Senado..Trump ganhou em 2016 por 28 pontos de diferença neste estado e, segundo as sondagens, o presidente está com uma diferença de 20 pontos percentuais para o democrata Joe Biden..Além disso o adversário republicano, o ex-treinador de futebol americano, Tommy Tuberville, é muito popular e surge nas sondagens com uma diferença de dois dígitos para Jones..A atual senadora, a republicana Martha McSally, enfrenta um adversário de outro mundo: o antigo astronauta da NASA Mark Kelly, que é casado com a antiga congressista Gabrielle Giffords (que ficou com graves lesões após ser atingida a tiro em 2011, durante um evento de campanha)..McSally perdeu em 2018 a corrida diante da democrata Kyrsten Sinema, mas acabou por ser chamada pelo governador para preencher o lugar que ficou vago com a morte do senador John McCain, em 2018..Apesar de tradicionalmente conservador, o Arizona tem assistido a uma mudança demográfica (o aumento da população latina e uma tendência para o voto democrata nos subúrbios de Phoenix) à qual se junta o descontentamento crescente com Trump entre os republicanos moderados..Isso abre a porta a Kelly, que em algumas sondagens chega a ter uma vantagem de dois dígitos. Caso vença, será a primeira vez em 60 anos que os democratas têm os dois lugares no Senado reservados ao Arizona..Cory Gardner é outro dos republicanos que as sondagens colocam quase de certeza de fora do Senado, depois de ter ganho em 2014 com uma margem de apenas 2,5 pontos percentuais (num estado que Trump perdeu em 2016)..O senador não conseguiu, nos últimos anos, afastar-se da imagem de Trump (votou com o presidente em 72 das 78 vezes em que ele defendeu uma posição), apesar de estar à frente de um estado que está a pender para os democratas. Após anos de domínio republicano (ganhavam presidenciais, governadores, senadores e a maioria dos congressistas), o estado tem agora mais eleitores democratas registados e venceu nas últimas três presidenciais..O adversário é John Hickenlooper, que foi governador durante dois mandatos e que chegou a ser candidato à nomeação democrata para a corrida à Casa Branca. O site FiveThirtyEight dá-lhe 84% de oportunidades de vitória, enquanto o The Cook Political Report coloca o Colorado com tendência para votar democrata..Senadora desde 1997, a republicana Susan Collins ganhou sempre com uma diferença de dois dígitos. Agora, enfrenta a corrida mais difícil de sempre contra a líder do congresso estadual, Sara Gideon. A democrata está à frente das sondagens desde meados de setembro..Collins não tem escondido as diferenças em relação a Trump, logo desde as eleições de 2016: afirmou publicamente que não votaria nele. No Senado, votou contra o fim do Obamacare e já por sete vezes foi declarada como a senadora mais bipartidária desta câmara..Foi a única republicana a votar contra a nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal, mas isso poderá não bastar aos eleitores, que não gostaram do apoio que deu ao anterior juiz nomeado por Trump, Brett Kavanaugh, em 2018..O presidente deixou claro no Twitter que ela "não valia o trabalho", deixando claro que não iria fazer nada para ajudar na sua corrida ao Senado e sem os votos dos apoiantes do presidente, Collins tem um caminho ainda mais difícil pela frente..O senador Thom Tillis procura um segundo mandato consecutivo, mas tem estado atrás do democrata Cal Cunningham nas sondagens. E nem mesmo um escândalo parece abalar as suas hipóteses, já que o site FiveThirtyEight lhe dá 64% de probabilidade de vitória..Casado e pai de dois adolescentes, Cunningham confessou ter enviado mensagens de cariz sexual a outra mulher, tendo mais tarde uma investigação da Associated Press revelado que o caso foi além disso, com pelo menos um encontro íntimo em julho..O democrata, veterano do Exército, tem procurado que o escândalo e a sua vida pessoal não afetem as eleições, tendo já numa ocasião recusado responder à questão sobre se tinha tido outras relações extramatrimoniais..O escândalo rebentou no mesmo dia em que Tillis testou positivo para a covid-19, ficando por alguns dias afastado da campanha enquanto recuperava..O líder da comissão judicial do Senado, Lindsey Graham, beneficiou da plataforma que foram as audiências para a confirmação da juíza Amy Coney Barrett..Senador desde 2003, Graham conseguiu angariar cerca de um milhão de dólares por dia na primeira quinzena de outubro. Mas não chegou aos calcanhares do adversário democrata, Jaime Harrison, que no terceiro trimestre angariou 57 milhões de dólares (mais do que qualquer candidato em algum estado)..Harrison, afro-americano, tem feito campanha a alertar para o facto de haver um terceiro candidato que é "demasiado conservador" e apoiou Trump desde o primeiro dia. Mas o candidato em causa, Bill Bledsoe, já deixou a corrida e apoiou Graham (mas o seu nome está no boletim de voto)..A ideia é dividir o voto conservador, especialmente entre os apoiantes de Trump que põem em causa Graham, dando-lhe mais possibilidades. Por enquanto, o FiveThirtyEight dá ao republicano 79% de hipóteses de vencer..Os dois lugares no Senado que correspondem à Geórgia (um deles uma eleição especial por causa da demissão de Johnny Isakson por motivos de saúde) estão em risco nestas eleições, segundo o The Cook Political Report. Um estado considerado conservador durante décadas, tem visto a demografia mudar, nomeadamente com a expansão dos subúrbios de Atlanta..As sondagens têm vindo a alternar entre o senador republicano David Perdue, no cargo desde 2014, e o seu adversário Jon Ossoff, jornalista de investigação que já em 2017 perdeu uma eleição especial no estado..Na eleição especial deste ano, a republicana Kelly Loeffler (nomeada em janeiro pelo governador Brian Kemp para assumir o cargo de Isakson) tem pela frente vários adversários, entre eles outro republicano, o congressista Doug Collins. Quem espera poder ganhar com a divisão é o democrata Raphael Warnock (o principal nome entre os candidatos democratas)..Caso um candidato não consiga uma maioria de votos, os dois mais votados (independentemente do partido) irão a uma segunda volta em janeiro.