Vacinar, vacinar, vacinar... e estar atento a quaisquer sinais da doença é o que recomenda a Direção-Geral da Saúde, particularmente nesta altura de verão em que a propagação do sarampo é mais propícia. De acordo com Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, o risco aumenta nesta época porque há uma maior circulação de pessoas vindas de outros países onde a doença ainda não está erradicada ou onde há baixas taxas de vacinação.."Quanto maior movimento de pessoas houver, maior é a probabilidade de alguma pessoa vir doente, mesmo que não o saiba", diz, adiantando que nesta altura estão identificados dois casos em Portugal, ambos no Algarve, um adulto e uma criança que não são da mesma família mas que frequentam os mesmos sítios, locais muito turísticos. Os doentes estão a ser vigiados e não correm riscos..Graça Freitas afirma mesmo que só há casos de sarampo em Portugal por importação. "À nossa conta o vírus não circula, se fôssemos um país fechado não tínhamos sarampo." Na semana passada, o nosso país voltou a ganhar o estatuto de eliminação do sarampo e da rubéola pela Organização Mundial da Saúde (OMS)..A propagação do sarampo tem estado na ordem do dia, nomeadamente quando se fala muito da opção de alguns pais por não vacinarem os filhos. A OMS divulgou há uma semana um relatório em que alertava para o aumento recorde do número de casos na Europa nos últimos seis meses deste ano: 41 mil casos, quando no ano passado foram contabilizados 23 mil. Ou seja, quase o dobro..De acordo com Graça Freitas, isso acontece não apenas devido à entrada do vírus por países pobres, nomeadamente africanos, mas também porque em alguns Estados europeus as coberturas vacinais baixaram nos últimos anos. "Esse é que tem sido o problema.".Para a diretora-geral da Saúde, a diminuição da taxa de vacinação na Europa, que deriva sobretudo de opções pessoais, não se deve apenas aos movimentos mais radicais de pais que recusam ministrar a vacina aos filhos por temerem os seus efeitos. Deve-se muito, explica, a uma questão de complacência. "As pessoas deixaram de ter medo, antes quando tinham receio da doença faziam tudo certinho, agora dão a primeira dose da vacina aos 2 ou 3 anos, não dão a segunda dose..." De acordo com o Plano Nacional de Vacinação, a primeira dose da vacina do sarampo deve ser ministrada aos 12 meses e a segunda dose aos 5 anos..Os lemas da Direção-Geral da Saúde são "vacinar, vacinar, vacinar" e "prevenir, prevenir, prevenir". Para isso, diz a diretora-geral, muito tem contribuído o plano em vigor, que, desde o ano passado, tem levado as direções regionais, através dos centros de saúde, a descobrir e a convocar quem não está vacinado. Por outro lado, há uma redobrada atenção dos profissionais à mínima suspeita. Esses casos são imediatamente isolados, mesmo que no domicílio, até qualquer confirmação..Além de recomendar a vacinação em todas as situações, a DGS pede ainda que quem tem suspeitas de estar infetado não se dirija às urgências, onde poderá contaminar outras pessoas. Deve em primeiro lugar contactar a linha de saúde 24 - 808 24 24 24 -, que tratará do reencaminhamento..Sarampo e rubéola eliminados.Em Portugal a taxa de vacinação da primeira dose atinge quase 98%, a da segunda dose é mais baixa - menos de 96%. Apesar da boa cobertura e de Portugal ter a doença erradicada, só neste ano já se registaram três surtos, com 114 casos notificados entre fevereiro e abril - o maior surto está ligado ao Hospital de Santo António, com 103 casos..Na semana passada, Portugal voltou a ganhar da OMS o estatuto de eliminação do sarampo e da rubéola relativo a 2017. Esta classificação foi obtida pelo nosso país pela primeira vez em 2015. A elevada cobertura vacinal e uma resposta célere dos serviços de saúde são critérios que sustentam esta classificação..Há dados históricos que ajudaram a fazer este caminho. Portugal foi atingido por duas grandes epidemias de sarampo entre 1987 e 1989 quando foram notificados mais de 12 mil casos e 40 mortes e depois em 93-94, com três mil casos mas nenhuma morte. Depois disso, um estudo permitiu perceber que havia muita gente que ainda não tinha feito as duas doses e foi realizada uma campanha de vacinação (1993). "Milhares de pessoas foram repescadas. Não voltámos a ter surtos com a doença selvagem", ou seja, temos casos importados..Ucrânia no top.De acordo com a OMS, no primeiro semestre deste ano foram registados 41 mil casos de sarampo, um recorde face aos números do ano passado, quando foram contabilizados 23 927 casos. O relatório avalia 53 países Europa (os 28 da União Europeia, a Rússia e a Europa de Leste), num total de cerca de 900 milhões de habitantes..O número mais baixo, adianta o documento, foi registado em 2016, quando os casos de sarampo contabilizados se ficaram pelos 5273..Há sete países a registarem mais de mil casos, estando a Ucrânia está no top, com mais de 23 mil notificações - praticamente o total dos números do ano passado no mesmo período para os mesmos países. Os outros países são a França, Grécia, Itália, Rússia, Sérvia, Geórgia e Ucrânia..Para erradicar a doença no planeta, explica Graça Freitas, era necessário que durante três anos não houvesse um único caso em todo o mundo. Foi o que aconteceu com a varíola nos anos 80 do século passado.