Foram muitas as vezes em que apresentei João Vasconcelos como o pai da startups em Portugal. Ele era isso mesmo: um pai para muitos empreendedores, que orientava, motivava, a quem abria os olhos, alertava para o que estava errado. Sem medos. Sempre com espírito crítico, com liberdade. A forma livre de falar e de pensar valeu-lhe muitos mais amigos, até de outras cores políticas, do que inimigos..João foi fundador da Startup Lisboa e deixa saudades no ecossistema dos fazedores, que tanto estimulou e promoveu. Mas deixa saudades também junto da indústria. Do CEO ao operário, sabia dirigir-se a todos, vestir-lhes a pele, sem a arrogância ou a distância a que muitos políticos nos habituaram..Como secretário de Estado da Indústria fez muito pelas empresas e pela diplomacia económica. Recordo uma missão empresarial que acompanhei a Marrocos, em que mal o conhecia e onde percebi a força da natureza que era o João..Um empreendedor e impulsionador nato, surpreendia a cada conferência, a cada discurso, a cada entrevista, com uma ideia nova, um exemplo internacional ainda desconhecido, uma provocação que poderia abanar a sala inteira... Num jeito sempre descontraído e eletrizante, percebeu cedo a importância do ecossistema de empreendedorismo para Portugal e da Web Summit, mas também a relevância da mobilidade inteligente, da descarbonização, da necessidade de reduzir o plástico no mar e na terra. Estes eram os temas que lhe eram caros, mas deixa uma legião de seguidores que, certamente, darão continuidade a muitos dos projetos que começou, o último dos quais a Flash, nova empresa de trotinetas elétricas adaptadas à calçada portuguesa..João era também um homem da família, orgulhoso dos seus dois filhos, da sua mulher, e sempre preocupado com a saúde do pai..A melhor forma de o recordarmos é continuarmos a contar histórias de empreendedores, de inovação, de indústria 4.0, de resiliência e superação..Até já, João.