Ainda sem um novo acordo de Brexit à vista e com o relógio a continuar a andar, a primeira-ministra britânica antecipou-se para evitar uma nova derrota e a demissão de vários membros do governo, propondo um calendário que inclui a hipótese de votar numa saída sem acordo e num adiamento de todo o processo. Do lado da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn quer passar o seu plano alternativo e, caso isso não aconteça, está disposto a defender um segundo referendo ao Brexit..Theresa May enfrentava o risco de uma nova derrota nesta quarta-feira no Parlamento britânico, caso a emenda proposta pela deputada trabalhista Yvette Cooper - exigindo que o governo alargasse o prazo do artigo 50 e afastasse o cenário de um Brexit sem acordo - fosse aprovada. A mesma emenda já foi debatida no mês passado e perdeu por 23 votos, mas agora parecia ter até o apoio de vários membros do governo de May..Antecipando-se a essa eventual derrota, a primeira-ministra apresentou ontem no Parlamento o seu plano. Este permite precisamente que os deputados optem pelo acordo que vier a negociar com a União Europeia até dia 12 de março, reiterando que "essas negociações ainda estão a decorrer", escolham sair a 29 de março sem um acordo ou decidam pedir mais tempo a Bruxelas..Para Corbyn, esta é a última tentativa de May de deixar correr o relógio até ao último dia do Brexit. "É a obstinação da primeira-ministra que está a bloquear uma resolução", reiterou no debate no Parlamento. O líder do Labour defende o seu plano alternativo, lembrando que, caso este não passe no Parlamento, irá apoiar um segundo referendo ao Brexit..Mas antes apoiará a emenda de Yvette Cooper, que se congratulou com as cedências de May mas promete manter a pressão. "A primeira-ministra ainda não disse como é que ela ou o governo vão votar na moção sobre uma saída sem acordo. Isso é irresponsável, porque uma saída sem acordo seria prejudicial para a indústria, para o fornecimento de medicamentos e para os preços dos alimentos." Não é claro se manterá ou não emenda ao texto de May, só se sabendo que emendas serão escolhidas pelo presidente do Parlamento, John Bercow, antes do início do debate nesta quarta-feira..Mas afinal, o que defendem Theresa May e Jeremy Corbyn?.Plano de May: três votações em três dias.A primeira-ministra quer votar num novo acordo de saída até ao dia 12 de março, no qual espera ter resolvido os problemas com o backstop (mecanismo de salvaguarda) para evitar uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. As negociações com a União Europeia, que já disse que não reabriria o acordo, ainda estão a decorrer..Caso este acordo volte a ser chumbado, como aconteceu com o que apresentou em meados de janeiro, May pedirá aos deputados que se pronunciem sobre duas opções, nos dias seguintes..No dia 13 de março, os deputados terão oportunidade de votar para dizer se optam por uma saída da União Europeia sem acordo a 29 de março..Caso rejeitem essa hipótese, no dia 14 de março os membros da Câmara dos Comuns votam uma eventual extensão do artigo 50 do Tratado de Lisboa. Se esta falhar, o cenário é de um Brexit sem acordo a 29 de março. Se passar, May terá de pedir à União Europeia essa extensão, sendo que do lado europeu há quem defenda que esta pode ser uma boa solução, enquanto outros lembram que o Reino Unido terá de explicar muito bem para que é que quer essa extensão..Mas também é preciso saber por quanto tempo será essa extensão - a primeira-ministra defende que deve ser "o mais curto possível". Uma das datas alternativas que se fala é a de 18 de abril, o último dia em que o Parlamento Europeu pode proceder a votações (o acordo também tem de ter luz verde dos eurodeputados) antes do fim do mandato atual e das eleições europeias de maio..Outra data citada pela BBC é a de 23 de maio, antes dessas mesmas europeias (que serão de 23 a 26 de maio, consoante o país). Esta data daria tempo para o Parlamento britânico passar o acordo de saída para a lei, algo que normalmente demora meses e que teria ainda assim de ser sujeito a um processo acelerado. Sair em finais de maio daria mais tempo para um melhor escrutínio..Se houver o compromisso de o Reino Unido sair até 1 de julho, então não haverá necessidade de os britânicos elegerem novos eurodeputados. Mas, caso esse prazo não possa ser garantido (e há quem defenda adiar até 2021 para negociar já a futura relação e assim evitar os problemas com o backstop), os britânicos podem ter de eleger os seus representantes para o Parlamento Europeu (eventualmente numa data diferente do resto da UE)..Outra solução pode passar por os atuais eurodeputados britânicos receberem um estatuto de observadores, sem direito de voto, ou por deputados nacionais serem enviados para Bruxelas, como Roménia e Bulgária fizeram durante quatro meses após terem aderido em 2007..Plano de Corbyn: união aduaneira e novo referendo.O plano alternativo de Brexit de Corbyn passa por ficar numa união aduaneira, manter a proximidade com o mercado único, assegurar a proteção dos trabalhadores, garantir um compromisso na participação nas agências europeias em programas como o ambiente ou a educação, e reforçar um acordo em relação ao acesso ao mandado de captura europeu e às bases de dados de segurança..É este plano que faz parte da emenda que Corbyn vai apresentar nesta quarta-feira, tendo o líder do Labour dito que se não passar (e não parece haver apoio nesse sentido) vai defender um segundo referendo sobre o Brexit - algo que até agora tinha recusado fazer abertamente, apesar de o partido ter votado nesse sentido na última convenção. Mas nem todos dentro do Labour defendem esta solução..Outra das emendas apresentadas nesta quarta-feira será do recém-criado Grupo Independente, que inclui precisamente ex-deputados trabalhistas e conservadores que se demitiram em parte por causa do Brexit. Vão defender que May tem de tomar medidas para voltar a dar uma voz ao público, num segundo referendo.