As contas parecem favoráveis ao líder socialista, Pedro Sánchez, que espera com as eleições deste domingo legitimar pelas urnas o cargo a que chegou através de uma moção de censura a Mariano Rajoy. As sondagens dão-lhe a maioria no Congresso, mas sem a maioria absoluta de que necessita. O que o deixará dependente de uma geringonça que na melhor das hipóteses contará só com a Unidas Podemos, mas que poderá ser alargada para incluir os independentistas catalães que o ajudaram a afastar o Partido Popular. Mas, com quase 30% de indecisos, a hipótese de uma geringonça de direita também não está totalmente afastada.."Há uma lição destes dez meses, que a esquerda pode entender-se quando quer e fazer coisas boas para a maioria social deste país", disse o candidato socialista numa entrevista ao El País, dizendo só ter "palavras de gratidão" para com o Podemos de Pablo Iglesias. Contudo, deixou o aviso quanto a uma eventual aliança entre PP, Ciudadanos e a extrema-direita do Vox, à semelhança do que aconteceu na Andaluzia: "É evidente que existe uma ameaça real e eu não posso ocultar algo que me parece que é importante que os espanhóis tomem conhecimento.".A repartição dos votos à direita irá custar caro ao PP, que arrisca perder deputados em regiões conservadoras devido à forma como está feita a divisão em círculos eleitorais e ao método de Hondt, usado para calcular os deputados. Se antes os eleitores das regiões conservadoras só tinham uma opção, agora a divisão em três pode colocar o PSOE na liderança e garantir-lhes o deputado extra de que necessitam. Uma conta que só após serem conhecidos os resultados oficiais será possível fazer, com as sondagens a tornarem difícil estas previsões. Estima-se que a maioria dos quase 30% de indecisos esteja à direita, pelo que o PP tem apelado ao voto útil, lembrando que só o partido têm capacidade para travar os socialistas e os aliados..Podemos.Nas últimas eleições, em junho de 2016, o Podemos alcançou 21,1% dos votos, já em coligação com a Esquerda Unida de Alberto Garzón - na prática menos um milhão de votos do que nas eleições de dezembro de 2015, quando concorreram separados. Desde então que o partido de Iglesias tem vindo a cair nas sondagens. A questão catalã, e a posição de defender uma consulta popular legal, custaram votos ao Podemos, assim como polémicas e divisões internas - desde o chalet que o líder do Podemos comprou por 600 mil euros nos arredores de Madrid ou, já no início do ano, a rutura com Iñigo Errejón..Em 2016, Iglesias exigiu o cargo de vice-primeiro-ministro para apoiar um governo socialista, que viria a não se concretizar, com o Podemos a votar contra um executivo liderado pelo PSOE com o apoio do Ciudadanos. Desde que Sánchez chegou à Moncloa que o PP alega que Iglesias já está a atuar como um vice na sombra. Desconhece-se se haverá algum cargo para o líder do Podemos num eventual governo socialista, mas a dúvida é saber se o PSOE conseguirá a maioria suficiente só com o apoio de Iglesias ou precisará dos independentistas catalães - como aconteceu para conseguir derrubar Rajoy..Independentistas catalães.Depois de terem forçado Sánchez a antecipar as eleições, ao rejeitar aprovar o seu Orçamento sem um plano concreto para a Catalunha, os independentistas catalães surgem divididos nestas eleições. As sondagens indicam que a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), do detido Oriol Junqueras, será mais votada do que a lista Junts per Catalunya, que inclui o partido do ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont, que optou por auto exilar-se em Bruxelas..Ambos os partidos admitem apoiar Sánchez, que defende o diálogo para a Catalunha mas rejeita totalmente um referendo, desde que o líder socialista não ponha de lado essa hipótese de consulta e jogando com a necessidade de este garantir o apoio dos independentistas. ERC e Junts consideram que a opção do "tripartido" de direita é a pior solução para a região. PP, Ciudadanos e Vox defendem voltar a recorrer ao artigo 155.º da Constituição para suspender a autonomia..Ciudadanos.A moção de censura de Sánchez contra Rajoy em 2018, sem a convocação imediata de eleições, prejudicou o Ciudadanos e Albert Rivera, que até então surgiam inclusive em primeiro lugar nas sondagens. O partido que nasceu na Catalunha, inicialmente pensado para ser um partido social-democrata, de centro-esquerda, que até chegou a acordo de governo com o PSOE após as eleições de 2015, tem-se vindo a aproximar mais à direita.."Com o tempo, o Ciudadanos distanciou-se da esquerda, sobretudo porque se sentiu traído, porque Sánchez estragou a estratégia de Rivera quando apresenta a moção de censura sem convocar eleições logo a seguir", disse ao DN o analista político Filipe Vasconcelos Romão. "No poder, Sánchez ganhou uma dimensão institucional, uma aura de poder, que não tinha até aí", acrescentou. Com a queda nas sondagens, o Ciudadanos tentou capitalizar e a galvanizar o discurso nacionalista espanhol e chegou-se à direita. Daí ter afastado a hipótese de um novo pacto com Sánchez..Partido Popular.Depois de 14 anos com Rajoy como líder, o PP ainda a recuperar dos escândalos de corrupção e do desgaste do poder chega a estas eleições com Pablo Casado ao leme. Que não hesitou em chegar-se mais à direita, para travar a ascensão do Vox, tendo por vezes dificuldade em diferenciar-se do outro partido que se posicionou à direita, o Ciudadanos..A campanha de Casado ficou marcada por algumas frases polémicas, desde a suposta ideia de permitir que imigrantes ilegais grávidas fossem autorizadas a ficar em Espanha se depois dessem os filhos para adoção ou a declaração de que iria reverter a decisão de Sánchez de aumentar o salário mínimo para os 900 euros, planeando um aumento apenas para os 850, que já tinha sido aceite por Rajoy..Vox.Independentemente do resultado, a extrema-direita será a grande vencedora das eleições - porque vai estrear-se no Congresso espanhol e poderá estar até numa posição de garantir uma maioria de direita, como acontece na Andaluzia, em que dá o apoio parlamentar ao governo de coligação entre PP e Ciudadanos. Santiago Abascal poderá estrear-se com mais de 30 deputados..O partido saltou para a ribalta pelas medidas polémicas, como a criação de quotas de imigrantes privilegiando as nacionalidades que partilhem laços de cultura com Espanha, a revogação da lei de violência de género, que consideram discriminar o sexo masculino, e o fim dos estados autonómicos..OS CINCO CANDIDATOS.Pedro Sánchez - PSOE Depois de ter sobrevivido às lutas internas no partido, Pedro Sánchez, de 47 anos, está prestes a conseguir a primeira vitória socialista em 11 anos. Isto depois de menos de um ano no Palácio da Moncloa, onde chegou após a moção de censura a Rajoy..Pablo Casado - Partido Popular Mariano Rajoy liderou o PP durante 14 anos, dando lugar em julho de 2018 a Pablo Casado, de 38 anos. Uma mudança geracional no partido que esteve envolto em escândalos de corrupção, mas também um discurso mais à direita..Albert Rivera - Ciudadanos Líder do Ciudadanos desde 2006, Albert Rivera, de 39 anos, conseguiu transformar um partido nascido na Catalunha num partido nacional. E aspira a mais, esperando surpreender o PP..Pablo Iglesias - Unidas Podemos O Podemos surgiu no rescaldo do movimento dos indignados, em 2014, com Pablo Iglesias, 40 anos, na liderança. Mas as polémicas e as divisões internas estão a custar votos à alternativa de esquerda..Santiago Abascal - Vox Ex-deputado regional do PP, Santiago Abascal, de 43 anos, esteve na formação do Vox em finais de 2013, chegando à liderança em setembro de 2014. Após o sucesso na Andaluzia, parte à "reconquista" de Espanha.