Michael Jordan. Uma superestrela também nos negócios
Michael Jordan fez o seu último jogo como basquetebolista profissional no dia 16 de abril de 2003, mas passados mais de 17 anos continua a colher os frutos de ter sido um ícone na sua modalidade e, acima de tudo, um dos melhores jogadores de todos os tempos. De acordo com a revista Forbes, tem uma fortuna avaliada em 1900 milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), o que faz dele ainda hoje, aos 57 anos, o desportista mais rentável de sempre, integrando o lote das 1500 pessoas mais ricas do mundo.
A sua fortuna foi consolidada durante os 16 anos de carreira na NBA - a liga profissional norte-americana de basquetebol -, durante os quais arrecadou qualquer coisa como 93,8 milhões de dólares (80,5 milhões de euros). Mas foi depois de terminar a sua carreira de sucesso que multiplicou os milhões graças a um conjunto de negócios, dos quais se destaca o estabelecido com a marca de artigos desportivos Nike, com a qual tem um contrato vitalício que lhe permite ter a sua própria linha de roupa e calçado, denominada Air Jordan. Esta parceria permite-lhe encaixar cerca de cem milhões de dólares (86 milhões de euros) anuais, sendo também superlucrativa para a própria Nike, que em 2019 faturou só com a marca Jordan qualquer coisa como 3,1 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros) brutos.
Este será um dos mais lucrativos dos vários negócios de Michael Jordan, que nesta semana anunciou a entrada no mundo do automobilismo, mais concretamente nas corridas Nascar. Juntamente com o piloto Denny Hamlin criou a equipa His Airness, que em 2021 vai começar a competir no popular campeonato de carros de turismo dos Estados Unidos, para o qual escolheu o piloto Bubba Wallace, o único negro da competição, sendo assim mais uma forma de promover a luta pela igualdade racial no país. Para já, não é conhecido o montante investido por Jordan, mas, mais do que uma forma de ganhar dinheiro, será uma forma de ajudar a promover um desporto que sempre admirou.
Michael Jordan também tem investimentos noutros desportos, nomeadamente no basquetebol, pois claro, e no basebol. Em 2010, adquiriu 90% das ações dos Charlotte Hornets, equipa da NBA, por 275 milhões de dólares (236 milhões de euros). Aqui o facto de se tratar de uma equipa do estado da Carolina do Norte, onde fez a sua carreira universitária, também terá pesado sentimentalmente, mas a realidade é que MJ já recuperou o investimento inicial, pois em setembro de 2019 vendeu 20% da franquia da equipa por 1,5 mil milhões de euros (1,3 mil milhões de euros). Para esta grande valorização contribuiu um novo acordo, muito mais lucrativo, estabelecido pela NBA para a venda dos direitos de transmissão televisiva dos jogos. Os Hornets tornaram-se, até ao momento, o maior negócio de Jordan, tendo em conta o retorno que, para já, já lhe proporcionou... agora só faltam os resultados desportivos, pois desde 2010 apenas por duas vezes atingiu os playoffs.
Além do basquetebol, em 2017, integrou o grupo de acionistas maioritários dos Miami Marlins, da liga de basebol MLB, que adquiriu a equipa por 1,2 mil milhões de dólares (mil milhões de euros). É certo que Jordan apenas tem 1% do capital social, mas a ligação aos Marlins terá também uma questão sentimental, pois o ex-basquetebolista sempre foi fã de basebol, tendo inclusive jogado pelos Chicago White Sox em 1994 - numa liga secundária, é certo -, numa altura em que deixou os Chicago Bulls, durante um ano, após o homicídio do pai.
As novas tendências do desporto também não foram desprezadas por Jordan, que em 2018 investiu na empresa de tecnologias aXiomatic, proprietária da equipa de e-sports Team Liquid, que já foi avaliada em 320 milhões de dólares (275 milhões de euros).
Ainda no âmbito do desporto, Michael Jordan integrou um consórcio que, em 2015, adquiriu uma participação na empresa de estatísticas desportivas Sportradar. Esta entidade, com sede na Suíça, fornece dados para as principais competições desportivas americanas, como a NBA, NFL (futebol americano), NHL (hóquei no gelo) ou Nascar. De acordo com notícias dessa altura, esse grupo de investidores injetou qualquer coisa como 44 milhões de dólares (38 milhões de euros).
Os negócios de Michael Jordan são, no entanto, bastante diversificados e o sucesso que tem alcançado comprova que, afinal, o toque de Midas que tinha para jogar basquetebol se estendeu ao mundo empresarial. Além de ser proprietário de um concessionário de automóveis, MJ tem uma parceria na empresa Cornerstone Restaurant Group, que administra sete restaurantes, dos quais três com o seu nome, entre os quais o famoso Michael Jordan's Steakhouse, em Chicago, mas também o MJ Restaurant, em Oak Brook, no estado de Illinois, e o MJ23, na cidade de Uncasville, Connecticut.
Mas há mais. As novas tecnologias também são um terreno fértil para o antigo basquetebolista, afinal investiu em algumas empresas de Silicon Valley, a meca da alta tecnologia dos Estados Unidos, situada na baía de São Francisco. Entre essas participações, destaca-se o investimento na Gigster, que se dedica a ajudar outras empresas a desenvolver projetos tecnológicos e a criar software personalizado.
Quem acompanhou a carreira de Michael Jordan recorda-se por certo que antes dos jogos ele surgia nos pavilhões com auscultadores nos ouvidos. A música, confirmou ele no documentário The Last Dance, exibido no Netflix, era uma forma de descontrair antes das grandes batalhas que travou nos campos de basquetebol. Aliás, a moda de ouvir música através dos headphones antes dos jogos surgiu durante a década de 1990 e MJ terá mesmo sido um dos pioneiros. Por isso mesmo, não estranhou que na primavera de 2019 se tivesse associado à marca de Muzik Headphones, fazendo parte de um grupo de famosos que investiram qualquer coisa como 70 milhões de euros para ajudar a desenvolver a empresa.
Um dos investimentos mais surpreendentes de Michael Jordan foi em tequila, popular bebida alcoólica mexicana, numa parceria com os proprietários de três equipas da NBA - Jeanie Buss (Los Angeles Lakers), Wes Edens (Milwaukee Bucks), Emilia Fazzalari e Wyc Grousbeck (Boston Celtics).
Em 2019, lançaram a marca premium Cincoro (designação com origem na junção das palavras cinco e ouro). São desenvolvidos quatro tipos de tequila que custam 70 dólares (60 euros), a garrafa mais barata, sendo a mais cara vendida por 1600 dólares (1400 euros). Dizem os entendidos que esta tequila premium é de excelente qualidade, ou não fosse Jordan um grande apreciador desta bebida e, claro está, da excelência.
Se havia dúvidas quanto à popularidade de Michael Jordan, 17 anos depois de ter dado por concluída a sua carreira profissional de basquetebolista, elas ficaram dissipadas com o documentário The Last Dance, uma coprodução da ESPN Filmes e da Netflix que aborda a carreira daquele que é considerado o melhor jogador da história do basquetebol.
Ali foram revelados alguns segredos da sua carreira e da sua exigente personalidade, mas também dos bastidores dos Chicago Bulls, e da forma como ele conseguiu incutir nos companheiros uma cultura de vitória e conduzi-los ao sucesso. Este documentário foi num autêntico êxito mundial, o que vincou bem o valor incalculável da marca Jordan.
Contudo, o ex-basquetebolista deixou bem claro que esta produção não é mais um dos seus investimentos para fazer aumentar a fortuna, uma vez que doou a instituições de solidariedade social os seus direitos relativos a este documentário, que rondam os quatro milhões de dólares (3,4 milhões de euros). Um dos beneficiários é a organização sem fins lucrativos Friends of the Children, que se dedica a criar oportunidades de carreira a crianças de comunidades marginalizadas pela sociedade americana, nomeadamente os negros.
Michael Jordan é, além de empresário de sucesso, alguém muito sensível a causas solidárias. Aliás, no início da pandemia de covid-19, foi dos primeiros a criar um movimento dentro da NBA para que continuassem a ser pagos os salários de todas as pessoas que trabalham nos pavilhões, que ficaram sem jogos. E, além disso, ainda fez donativos a instituições da Carolina do Norte e do Sul que procuravam ajudar os infetados com o novo coronavírus.
Estas foram apenas as últimas ações de filantropia de Jordan, que já assinou cheques de sete dígitos para ajudar vítimas dos furacões que atingiram os Estados Unidos ou as Bahamas. Além disso, nos últimos anos foi um colaborador assíduo da fundação Make-a-Wish, com donativos ou simplesmente ajudando as pessoas a cumprir os seus sonhos.
Mas a grande obra solidária deste ícone do basquetebol mundial foi a criação de duas clínicas - Novant Health - para dar apoio médico às pessoas mais carenciadas do estado da Carolina do Norte. Trata-se de um projeto que vive sobretudo de donativos e para o qual MJ contribuiu com sete milhões de dólares (seis milhões de euros). Refira-se que, durante a pandemia, estas unidades foram transformadas em centros de avaliação de doentes com sintomas respiratórios.
Michael Jordan estreou-se na NBA em 1984 ao serviço dos Chicago Bulls, na altura uma equipa com pouca expressão na liga, catapultando-a para seis anéis de campeão - os únicos da história da equipa. É o tal toque de Midas que muitos atribuem a MJ e que foi transportado para o mundo empresarial, a ponto de ser ainda hoje o desportista mais rico do planeta.