São rosa-choque e amarelo-elétrico, com pinceladas esmeralda, e são... peixes. É isso mesmo. Trata-se de uma nova espécie para a ciência, que foi descoberta por cientistas brasileiros e americanos durante uma expedição da Academia de Ciências da Califórnia, no arquipélago de São Paulo, um grupo de ilhas atlânticas que pertence ao Brasil..A descrição da nova espécie, a única do género até hoje identificada em águas atlânticas, acaba de ser publicada na revista científica Zookeys e vem mostrar, uma vez mais, que a diversidade da vida continua a surpreender - e a maravilhar - os próprios cientistas..Maravilhar é a palavra certa, confirma o biólogo brasileiro Luiz Rocha, curador da coleção de peixes da Academia de Ciências da Califórnia e colíder da expedição. "É um dos peixes mais bonitos que alguma vez vi", confessa. "Quando mergulhámos, estávamos tão encantados com eles que ignorámos tudo o resto à volta", conta divertido..Hoje pode rir-se desse episódio memorável. Na altura, o colorido espampanante destes pequenos peixes, que vivem nos recifes junto ao arquipélago, a cerca de mil quilómetros do continente, e a profundidades de 170 metros, onde a luz já praticamente não chega, captou de tal forma a atenção dos cientistas durante o mergulho que eles nem repararam num tubarão de respeitáveis dimensões que ali andava, mesmo por cima das suas cabeças..O estudo do peixe, que foi realizado posteriormente no laboratório, na Califórnia, incluiu análises de ADN (a informação genética) e confirmou que se trata de uma nova espécie, que a equipa batizou como Tosanoides aphrodite, numa referência direta a Afrodite, a deusa grega do amor e, claro, da beleza..A nova espécie, cujas fêmeas diferem dos machos pelos seus tons cor de laranja, faz parte de um grupo de peixes chamados Anthiadinae, que se caracterizam por possuir cores igualmente psicadélicas, mas que até agora apenas se conheciam nas águas do Pacífico. Um deles é um peixe do Havai, ao qual foi dado o nome do presidente Obama.."Os peixes que vivem a estas profundidades, na chamada zona twilight, tendem a ter cores em tons de rosa ou laranja", explica Hudson Pinheiro, outro dos cientistas brasileiros que participou na expedição. "Como a luz vermelha não penetra até estas profundidades, eles acabam por ser invisíveis, a menos que levemos luz connosco, como nós fizemos.".Para além do seu valor científico, a descoberta acaba por ser importante também pela esperança que uma nova espécie representa para o ambiente e a vida no planeta. Identificar uma nova espécie neste ecossistema marinho acaba por ser o contraponto ao diagnóstico negativo sobre estes recifes de grande profundidade que esta mesma equipa assinou há meses na revista Science..Na sequência do seu programa de estudo sistemático em vários locais do mundo destes ecossistemas localizados na zona oceânica de transição entre o fim da luz e o início da escuridão profunda, a equipa descobriu que aqueles recifes também estão em risco e precisam de medidas de proteção.."Num tempo de crise global dos recifes de corais, ganhar novos conhecimentos sobre estes habitats e os seus coloridos habitantes é decisivo para podermos perceber como vamos protegê-los", conclui Luiz Rocha.