Pode a frase sobre o Chega ser lateral, um apontamento à margem, uma resposta a uma pergunta repetida mil vezes, que a frase é puxada para título. Não sei de onde vem essa ânsia dos media em fazer do tema um centro de gravidade - e logo a seguir aparece quem se sente vítima, como se o autor da frase dormisse e acordasse a pensar no assunto. Não aconteceu comigo, mas é o que vejo em entrevistas, nas perguntas insistentes para garantir que o assunto vem à baila. E se calha a pessoa, alerta, esquivar-se, logo o gesto tem leitura imediata, dando azo a nova indignação - o tal centro de gravidade..Se calhar o tema vende e dá audiências, e cada jornal ou televisão é livre de noticiar o que entender. Quando chegar a minha vez, logo vejo como evitar que uma pergunta lateral seja elevada a título - porque o título é a única coisa que hoje se lê, a que se reage, e que supostamente resume o que dizemos..Se não tenho de interferir nas opções de quem pergunta e titula, posso ao menos tentar centrar a mensagem no que para mim é relevante, que é o espaço da direita das liberdades. E porque nos próximos tempos escreverei e falarei sobre esse espaço, esclareço já o assunto, deixando no futuro o espaço livre para o que importa, e que é o centro da gravidade do meu pensamento..Convoco para o efeito o valor da dignidade da pessoa, que é alicerce da nossa Constituição. Quando se é pessoa, tem-se toda a legitimidade e toda a dignidade do mundo: não há nada mais acima disso nem nada mais que possa somar-se a isso..Nessa circunstância se funda a igualdade: temos todos, sejamos quem formos, a mesma dignidade, e por isso somos iguais - filhos de Deus, para os crentes..E porque iguais, igualmente dignos, tem cada um a liberdade de seguir os nossos projetos de vida, sem superioridade nem inferioridade. É nisso em que acredito, e entre identidade e liberdade eu escolho sempre a liberdade..Quando se exalta uma característica identitária, está a acrescentar-se uma camada de dignidade à pessoa. Sucede que não há mais dignidade do que a que está reservada à pessoa por ser pessoa. Quem o faz, exclui outros, discrimina, diz que um é mais do que o outro. E não é. Ninguém é Deus..É por isso que me afasto dos projetos coletivistas, à direita e à esquerda (estes sempre mais tolerados, mesmo quando nacionalistas), que pretendam dar ao coletivo (a que eu até posso pertencer ou por quem tenha simpatia), uma legitimidade ou dignidade especial - esquecendo a pessoa, a sua dignidade e a sua liberdade individual..Não sei por onde vai andar a atividade do Chega, porque os partidos são dinâmicos, revelam-se no quotidiano, e combinará com certeza acertos com desacertos. O tempo o dirá. Sei que não tenciono prescindir desta minha conceção e de a colocar simultaneamente como fronteira e impulso mobilizador. E é tudo..Advogado