Há 20 anos que não se levantava tão pouco dinheiro
Há pelo menos duas décadas que não se via nada assim. Há 20 anos que os portugueses não levantavam tão pouco dinheiro. As compras com cartão também caíram para mínimos de 11 anos em abril, devido ao confinamento forçado. Em média, os portugueses levantaram por dia menos 32,8 milhões de euros e efetuaram menos 52,8 milhões de euros de compras, comparando com o mesmo período de 2019.
A quebra deve-se ao confinamento da população e ao encerramento de empresas, lojas e serviços. O período em que esteve em vigor o estado de emergência em Portugal durou de 18 de março a 2 de maio. Os levantamentos de numerário caíram 51,9% em número, e 40,3% em valor, comparando com abril de 2019. Os portugueses fizeram em abril "apenas 17,2 milhões de levantamentos no valor de 1,5 mil milhões de euros", indicou o Banco de Portugal num relatório divulgado ontem. "Ao longo dos últimos 20 anos, não existe registo de um número tão reduzido de levantamentos de numerário", observou.
Em abril de 2020, os portugueses gastaram menos em compras as compras. O número de compras caiu 42,5% para 60,9 milhões de operações e o valor sofreu uma quebra de 39,7% para 2,4 mil milhões de euros. Trata-se dos valores mais baixos desde fevereiro de 2014 e fevereiro de 2015, respetivamente.
Os setores de atividade com maior proporção de compras com cartão tiveram quebras "significativas" nestas operações, que variaram entre 16% no comércio a retalho e 97% no alojamento. "Em termos absolutos, os setores mais afetados foram a restauração e o comércio a retalho, com reduções de, respetivamente, 354,4 milhões de euros e 316,3 milhões de euros face ao transacionado com cartão no período homólogo", adiantou o relatório.
O confinamento forçado da população fez cair em 42,9% o número de operações com cartões e em 28,8%, em termos de valor. "Para encontrar um número mais baixo de operações com cartão, é preciso recuar 11 anos, até fevereiro de 2009, e, em termos de valor, até fevereiro de 2015", referiu o Banco de Portugal no relatório divulgado esta segunda-feira (25 de maio) com os dados de pagamentos do mês de abril. No total, foram efetuadas 114,7 milhões de operações, no valor de 7,3 mil milhões de euros. O supervisor bancário explicou esta evolução "negativa" com a "forte redução nos levantamentos, compras e operações de baixo valor", como portagens e parques de estacionamento.
O uso de cheques caiu para mínimos de 20 anos e aumentaram os cheques carecas. Em abril, foram efetuados cerca de 1,2 milhões de pagamentos com cheques, no valor de 4,1 mil milhões de euros, o que corresponde a reduções de 44,9% em número e de 47,9% em valor relativamente a igual período do ano anterior. "Pese embora o decréscimo na utilização dos cheques, aumentou a percentagem de cheques devolvidos por insuficiência de provisão: 0,48% em número e 0,41% em valor, o que compara com taxas significativamente mais baixas no período pré-pandemia (em fevereiro, 0,27% em número e 0,23% em valor)", indicou o Banco de Portugal.
Quanto à utilização dos meios de pagamento sem contacto (contactless) e pagamentos online, registaram fortes aumentos no período de confinamento. O peso das compras com a tecnologia contactless no total de compras com cartão subiu também de forma expressiva: em fevereiro de 2020, 11,6% das compras com cartão foram efetuadas com tecnologia contactless e, em abril de 2020, 17,4%. Já o peso relativo das compras online no total de compras efetuadas com cartão passou de 7% em número e de 8,1% em valor, em fevereiro de 2020, para 11,2% e 10,8%, respetivamente, em abril de 2020.
As compras com a tecnologia contactless cresceram, comparativamente com o período homólogo, 44% em número e 123% em valor. O valor médio destas operações passou de 17,8 euros em março para 21,3 euros em abril de 2020, em resultado do aumento do limite máximo dos pagamentos contactless para 50 euros. "No que se refere às compras online, manteve-se a tendência verificada no período pré-pandemia para as compras online em sites de comerciantes portugueses, as quais aumentaram 21% em quantidade e 53% em valor em abril, face ao período homólogo", adiantou o supervisor. Explicou que as compras efetuadas em sites estrangeiros reduziram 18% em valor e cresceram 10% em quantidade".
O confinamento da população e o encerramento imposto a grande parte das empresas e atividades gerou uma grave crise económica. Vários países adotaram a mesma estratégia.
A epidemia do novo coronavírus começou na China, no final de 2019, e a alastrou a todo o mundo, causando milhares de vítimas mortais. Os dados que têm sido divulgados sobre número de mortes e contagiados abrangem apenas as pessoas que foram testadas.
Segundo o relatório do Banco de Portugal, "uma análise detalhada ao setor do comércio a retalho por comparação a abril de 2019 revela que as compras com cartão subiram 209% na aquisição de eletrodomésticos (mais 44,7 milhões de euros) e 109% no subsetor das frutas e produtos hortícolas (um aumento de 6,6 milhões de euros)". Explicou que, "em particular, a evolução verificada no setor das compras de eletrodomésticos terá resultado, numa primeira fase, de um crescimento na aquisição de equipamentos domésticos para apoio ao período de confinamento, como sejam frigoríficos e aspiradores, e, numa segunda fase, de computadores e impressoras, para permitir a realização de teletrabalho e o acesso ao ensino em casa".
A maior subida nas compras com cartão, em termos absolutos, registou-se nos supermercados e hipermercados, com um aumento de 144,9 milhões de euros. A maior queda foi assinalada no subsetor do combustível para veículos a motor, que registou uma descida de 67,6 milhões de euros. Com o fecho das lojas físicas, o subsetor do vestuário para adultos - que, em abril de 2019, era o segundo mais relevante no comércio a retalho - registou em abril de 2020 uma quebra de 99%, passando de 155,3 milhões de euros para apenas 1,6 milhões de euros.
No turismo, um dos setores mais afetados pela crise, foi evidente a paralisação registada em abril. Os levantamentos efetuados por estrangeiros em Portugal caíram 67% em número e 62,3% em valor, ocorrendo menos 743 mil operações no valor de 80,9 milhões de euros, em comparação com abril do ano passado. Nas compras, a queda foi ainda mais forte: 86,6% em número e 87% em valor, correspondendo a menos 6,1 milhões de compras no valor de 355,7 milhões de euros.