O segundo mandato e o futuro político da nação

O combate à pandemia e aos seus efeitos económicos e sociais será um dos desafios do segundo mandato do reeleito Presidente da República.

Da esquerda à direita, essa é a principal preocupação dos portugueses. Como alerta o presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia, "temos de mudar o nosso chip de vida. A pandemia vai durar". Marcos López Hoyos alerta: "Esta pandemia é crónica e vai durar" e temos de nos convencer disso. "Devemos esquecer a Páscoa neste ano. Devemos esquecer e devemos ser já claros sobre isso", defende o imunologista.

A Espanha já registou mais de 42 mil novos casos e 400 mortes por dia. O alerta relativo ao período da Páscoa é péssimo para os hoteleiros e toda a economia, mas é preciso ter os pés assentes na terra e não adiar decisões duras, como sucedeu no Natal. Talvez por isso, Marcelo tenha começado e terminado o seu discurso de vitória com o desafio de vencer a covid-19.

A crise sanitária, económica e política marcará, pelo menos, o primeiro e o segundo ano dos cinco de mandato presidencial. É preciso "unir", como apelou Marcelo, mas será tudo menos fácil.

Desunida está a direita e a esquerda, como ficou à vista nestas eleições. Já muito se disse e escreveu sobre o último ato eleitoral. Para memória futura, no meu bloco de notas registei vários dados a reter e que nos dão pistas sobre caminhos futuros que a política irá percorrer:

- Marcelo liderou nos concelhos onde há mais casos de covid-19 e mais área ardida. Esteve no terreno nos momentos chave e os portugueses, que lhe deram a vitória com 60,7% dos votos, valorizaram isso;

- o reeleito presidente, afinal, bateu um recorde de Mário Soares: venceu em todos os concelhos do país e tem legitimidade reforçada;

- Ana Gomes ficou perto do empate com Ventura e este superou 10% de votos, o que deve ser lido com preocupação face ao aviso ao líder do PSD de que qualquer solução de governo terá de passar pelo Chega;

- Ventura teve a melhor prestação onde há menos camas e pessoal nos hospitais, confirmando o voto do descontentamento;

- o PCP deixou fugir parte do Alentejo para a extrema-direita e tem de apostar tudo nas autárquicas para recuperar esse eleitorado;

- Marisa Matias caiu de terceiro para quinto lugar e perdeu 300 mil votos em relação a 2016, um rombo no Bloco de Esquerda;

- a esquerda - que não votou em Marcelo - perdeu mais de um milhão de votos e a direita dececionou nas reações: PSD e CDS desperdiçaram o tempo de antena na noite eleitoral, um focou-se em demasia na extrema-direita e o outro numa vitória que não é sua, em vez de apontarem caminhos futuros de ressurreição das lideranças dos dois partidos.

A abstenção não foi tão elevada como se chegou a temer e, na hora H, os portugueses deram mais uma lição de democracia, mas o combate à abstenção tem de estar no topo da agenda. Ministério da Administração Interna e Comissão Nacional de Eleições bem podem começar a preparar as autárquicas e as legislativas já, com eficácia e à medida do século XXI.

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