"Um adiamento é um adiamento, não resolve o problema", afirmou nesta segunda-feira a primeira-ministra britânica, Theresa May, reiterando que chegar a um acordo de saída do Reino Unido da União Europeia até 29 de março é possível. Mas, diante do risco de uma nova derrota no Parlamento que poderá até levar à queda do governo, May poderá prometer aos deputados que terão a possibilidade de votar num adiamento caso não seja aprovado um acordo até 12 de março..Nesta terça-feira, a primeira-ministra volta ao Parlamento britânico para informar os deputados sobre os avanços nas negociações com Bruxelas. O espinho no acordo do Brexit continua a ser o backstop (mecanismo de salvaguarda) que tem como finalidade impedir a reintrodução de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Os deputados não gostam do facto de este não ter prazo limite para acabar, nem do facto de o Reino Unido não o poder retirar unilateralmente..Depois da derrota a 15 de janeiro, quando perdeu a votação do acordo de saída por 230 votos, a primeira-ministra voltou a Bruxelas para renegociar. Mas, mais de um mês depois, ainda não houve qualquer avanço - com May a prometer apenas que uma nova votação significativa do acordo acontecerá até dia 12 de março. Pelo meio, a chefe do governo já sofreu nova derrota no Parlamento, com os deputados a não aprovar uma declaração expressando o seu apoio às negociações..Mas a derrota que se desenha nesta quarta-feira poderá ser a mais grave..Emenda de Yvette Cooper.A primeira-ministra apresenta nesta terça-feira aos deputados os progressos que fez na última ronda de negociações com a União Europeia, tendo o único avanço conhecido sido a decisão de adiar a votação significativa sobre o acordo de Brexit até o mais tardar 12 de março. O texto que apresentar será discutido na quarta-feira, podendo os deputados apresentar as suas emendas. E é uma dessas emendas que é um risco para a primeira-ministra..A deputada trabalhista Yvette Cooper apresentou, num dos debates passados, uma emenda destinada a forçar o governo a permitir que o Parlamento discuta uma proposta de lei (em tempo recorde, já que normalmente demoraria meses) que impede uma saída do Reino Unido da União Europeia sem um acordo. Não atrasa ou trava o Brexit de imediato, mas obriga o governo a garantir essa possibilidade..Concretamente, a emenda pede que, caso não haja acordo até meados de março, May apresente uma moção ao Parlamento a explicar o seu plano de sair sem acordo a 29 de março. Para avançar, precisará de ter uma maioria do Parlamento. Se os deputados rejeitarem essa opção, May terá de apresentar no dia seguinte uma proposta para estender o período de negociação e, se os deputados aprovarem, tem de a negociar com a UE..A primeira vez que esta emenda foi discutida, no mês passado, perdeu por apenas 23 votos. E desde então tem vindo a ganhar mais apoio, havendo até ministros do governo de May que dizem que votariam ao lado de outros rebeldes conservadores e da oposição para impedir que o Reino Unido saia da UE sem acordo - recorde-se que May não tem maioria e basta alguns dos seus deputados votarem contra ela para perder. Votar contra o executivo poderá custar aos ministros o cargo, restando saber quantas deserções aguentará até ser obrigada a demitir-se..Segundo a BBC, só o facto de a emenda passar (e até ao dia do debate não se sabe sequer se será discutida) significa uma derrota massiva para o governo que é o responsável por estabelecer a agenda parlamentar há mais de um século, implicando que os deputados retiram o controlo do Brexit das mãos da primeira-ministra. "Não posso deixar de questionar se, depois de ser sujeita a uma humilhação tão particular, a primeira-ministra não poderá simplesmente demitir-se", escreveu o correspondente da estação pública no Parlamento, Mark D'Arcy, indicando que no mínimo as demissões no governo podem causar a sua "desintegração"..May antecipa-se?.Para evitar testar os seus ministros e mais uma derrota humilhante, a primeira-ministra poderá antecipar-se. Segundo o Evening Standard, May vai prometer aos deputados que eles terão a hipótese de votar uma extensão do artigo 50 do Tratado de Lisboa.."Downing Street está a garantir uma votação em 15 dias que permite um adiar de dois meses para lá de 29 de março para travar a rebelião desta quarta-feira", segundo o jornal..Já segundo a Sky News, se a primeira-ministra não conseguir aprovar que um acordo seja aprovado no Parlamento até dia 13, os ministros e os deputados vão exigir que ela adie o Brexit e afasta a possibilidade de uma saída sem acordo..O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu nesta segunda-feira que, face às óbvias dificuldades da primeira-ministra britânica para fazer passar o acordo do Brexit pelos deputados, a extensão das negociações seria uma "solução racional".."É óbvio que não há uma maioria na Câmara dos Comuns para aprovar o acordo. Acredito que, na situação em que estamos, um prolongamento seria uma solução racional", declarou Tusk à margem da Cimeira entre a União Europeia e a Liga Árabe, na qual May também participou..Corbyn apoiará segundo referendo.O líder do Labour, Jeremy Corbyn, anunciou nesta segunda-feira que vai apresentar ou apoiar uma emenda no Parlamento britânico a favor de um segundo referendo sobre o Brexit, algo que até agora tinha recusado fazer abertamente apesar de no Congresso trabalhista essa hipótese ter sido aprovada..A proposta de Corbyn tem dois passos. Primeiro, o líder do Labour quer forçar a primeira-ministra britânica, Theresa May, a adotar a sua visão do Brexit -que inclui uma união aduaneira, proximidade com o mercado único, garantir a proteção dos trabalhadores, compromisso na participação nas agências europeias em programas como o ambiente ou educação, e um acordo em relação ao acesso ao mandado de captura europeu e às bases de dados de segurança..O segundo passo é apoiar uma emenda que retira de cima da mesa a hipótese de um Brexit sem acordo, ao mesmo tempo que irá "apresentar ou apoiar uma emenda a favor de um voto público para impedir que um Brexit conservador prejudicial seja imposto ao nosso país", disse..Corbyn, na reunião com os deputados do partido, disse que a primeira-ministra está "imprudentemente a deixar o relógio andar, numa tentativa de forçar os deputados a escolher entre o seu acordo fracassado e um desastroso Brexit sem acordo". E deixará claro: "Não podemos nem vamos aceitar.".Hywel Williams, porta-voz do Plaid Cymru, partido do País de Gales, acusou Corbyn de "ter sido arrastado aos gritos" na direção de um segundo referendo que tenha o Remain como opção..Brandon Lewis, o presidente dos Conservadores, partido da primeira-ministra Theresa May, declarou que o líder do Labour tenciona "trair a vontade do povo britânico e ignorar o voto mais democrático da história do país"..Ian Blackford, líder parlamentar do Partido Nacionalista Escocês (SNP), exigiu que Corbyn esclareça se o segundo referendo que apoia vai ou não conter a opção do Remain. "A Escócia não votou pelo Brexit e não devemos ser arrastados para fora da UE contra a nossa vontade. Permanecer [na UE] é de longe o melhor acordo de todos - e a única maneira de proteger empregos e os níveis de vida"..Em declarações ao Channel 4 News, a ministra dos Negócios Estrangeiros sombra, Emily Thornberry, esclareceu: "O que eu digo é que teremos um referendo sobre um qualquer acordo que May tenha ou não feito aprovar no Parlamento e que perguntaremos às pessoas: "Querem isto ou querem permanecer [na UE]?"