Máscaras, rotação e sem cantina. Como a Autoeuropa vai voltar a produzir carros
Portugal vai voltar a produzir carros a partir de amanhã. A Autoeuropa, do grupo Volkswagen, é a primeira fábrica a retomar a montagem de automóveis no país, depois de uma paragem de mais de um mês. As restantes unidades de produção só deverão reabrir na primeira semana de maio, como a fábrica de autocarros CaetanoBus, em Gaia, e a fábrica de mini-camiões da Mitsubishi Fuso, no Tramagal. A PSA Mangualde, do grupo Peugeot-Citroën, aguarda condições de mercado para reabrir.
Na Autoeuropa, a maior fábrica de produção de carros em Portugal, o regresso à normalidade pré-pandemia ainda vai demorar. "Só em meados de junho é que deveremos voltar ao horário que tínhamos até meados de março", espera o coordenador da comissão de trabalhadores da fábrica de Palmela, Fausto Dionísio. Antes do novo coronavírus, os carros saíam da linha de montagem ao ritmo da laboração contínua, de segunda a sexta, e ainda havia dois turnos ao sábado e outros tantos ao domingo.
Até lá, a reabertura da fábrica será feita em fases e em constante adaptação. A partir de segunda-feira, haverá dois turnos de segunda a sexta, com 2300 trabalhadores numa semana, que serão substituídos por outros 2300 operários na semana seguinte. "No primeiro dia, serão apenas três horas de trabalho, para sensibilizar as pessoas a manter o distanciamento social e a deixar sugestões", antecipa o dirigente. Os operários em casa, apesar de estarem em lay-off, vão receber o salário por completo.
A partir de segunda-feira, os operários vão passar por uma "ação de formação contínua", em que a preocupação não será a produção de carros mas sim garantir que há condições de trabalho para começar a retomar a normalidade. A caminho da fábrica, os trabalhadores terão de vir já fardados de casa e a temperatura corporal será medida antes da entrada nas instalações ou no autocarro de acesso à fábrica - cada veículo terá lotação limitada a um terço.
Lá dentro, serão dadas duas máscaras (e algumas viseiras de proteção). Todas as operações de manuseamento terão de ser feitas com luvas. Será servida uma refeição no posto de trabalho de cada operário enquanto não forem montados mais refeitórios. Com a cantina fechada, os trabalhadores vão receber um complemento no salário para a alimentação.
A segunda etapa do regresso da Autoeuropa será cumprida a partir de 13 de maio, com três turnos de trabalho nos dias úteis. Só em meados de junho é que a fábrica se conseguirá aproximar da produção de 890 carros por dia, sobretudo do SUV T-Roc.
Precauções semelhantes estão a ser adotadas pela PSA Mangualde. Os cerca de 1000 operários têm cruzes no chão para garantir que é cumprido o distanciamento social mínimo de um metro. Só com a máscara de proteção colocada é que poderão fazer a montagem de veículos comerciais ligeiros como a Citroën Berlingo, Opel Combo e Peugeot Partner.
As medidas de proteção dos oprários já estão no terreno. Só que o regresso à produção em Mangualde também depende "da liberdade que as autoridades de cada país derem às empresas de retomar a produção industrial e comercialização de veículos", assumiu no início desta semana o diretor de comunicação e relações institucionais da PSA em Portugal, Jorge Magalhães.
Quando isso acontecer, vai haver apenas um turno de produção, com 300 pessoas, em vez dos habituais três turnos de segunda a sexta. Habituada a produzir mais de 100 carros por turno, a fábrica também admite uma diminuição da produtividade nos primeiros dias após a reabertura da empresa.
A fabricante de autocarros CaetanoBus, do grupo Salvador Caetano, regressa à produção dia 5 de maio em Gaia e em Ovar. No último mês e meio, manteve cerca de 100 pessoas a trabalhar, para garantir a entrega de encomendas e adatar autocarros como o COBUS, cedido à câmara de Matosinhos para fazer testes de diagnóstico à Covid-19.
Já a fábrica do Tramagal da Mitsubishi Fuso, detida pelos alemães da Daimler, retoma a produção de mini-camiões no dia 4 de maio. Esta foi a última fábrica portuguesa a parar a laboração, dia 23 de março. Em causa está o posto de trabalho de cerca de 400 funcionários.
Independentemente do ritmo de regresso à produção, "a recuperação irá durar até setembro e será muito lenta", acredita Henrique Ribeiro, professor do IPAM.