Cem dias. É o tempo que os americanos têm para decidir se querem que Donald Trump continue na Casa Branca ou se preferem ver o democrata Joe Biden na presidência. Nes te domingo ficam a faltar cem dias para as eleições americanas. marcadas para 3 de novembro e a olhar para as sondagens o ex-vice-presidente de Barack Obama parece ter uma vantagem confortável face ao milionário. Mas cem dias é muito tempo, sobretudo no meio de uma pandemia, com confrontos raciais em várias cidades dos EUA e com um presidente tão imprevisível como Trump. Além de que as sondagens valem o que valem e num sistema como o americano, pode ser muito pouco. Hilla ry Clinton que o diga..Tanto a média das sondagens do site FiveThirtyEight, de Nate Silver, como a do Real Clear Politics mostram que Biden tem quase dez pontos de vantagem sobre Trump - 49,5% contra 41,8% no primeiro, 49,6% contra 40,9% no segundo..Mas a história mostra ser prematuro achar que tudo está decidido. Em três das últimas dez eleições, o candidato que tinha uma curta vantagem em finais de julho perdeu o voto popular. Isto apesar de dois deles terem tido mais votos no Colégio Eleitoral e chegado à Casa Branca na mesma. Apesar de tudo, desde 1980 apenas um candidato que estava claramente à frente nesta altura acabou por perder: Michael Dukakis em 1988..Apesar destes exemplos históricos - e de ele próprio ter vencido as presidenciais de 2016 contrariando quase todas as sondagens e apesar de ter tido menos voto popular do que Hillary, terá sido esta tendência de subida do candidato democrata que levou Trump a rever a sua estratégia na luta contra a pandemia de covid-19. Criticado por ter desvalorizado um vírus que já infetou quatro milhões de americanos e matou quase 150 mil, pela sua teimosia em não usar máscara e defender o uso da hidroxicloroquina como tratamento preventivo quando as autoridades de saúde alertam para o perigo deste medicamento, Trump voltou nesta semana aos briefings diários que tinha suspendido no final de abril..E a mudança de tom foi notória. "Algumas regiões do nosso país estão muito bem. Outras não estão tão bem", afirmou, antes de admitir: "Provavelmente e infelizmente vai piorar antes que haja uma melhoria." E na terça-feira até fez o tão esperado apelo: "Usem máscara. Podem gostar ou não, mas elas têm um impacto." O presidente, que surgiu sozinho atrás do púlpito, dispensando a presença das autoridades de saúde, inclusive o agora famoso Anthony Fauci, principal referência americana em matéria de doenças infecciosas que se destacou por discordar da desvalorização do vírus feita por Trump..Ora a descoberta de uma vacina num curto espaço de tempo é um dos fatores que podem mudar tudo antes das eleições. Uma vacina, segura, eficaz e acessível a todos iria sem dúvida mudar a narrativa, dar alento a Trump, além de impulsionar a economia - permitindo aos adultos voltar ao trabalho, às crianças regressar à escola e ao comércio retomar uma certa normalidade - e alterar o estado de espírito dos americanos..Em plena pandemia, a própria campanha está a ser muito diferente daquilo a que os candidatos estão habituados. Obrigados ao distanciamento social, os comícios foram reduzidos ao mínimo, para não dizer anulados por completo. E até as convenções que devem confirmar os candidatos foram reduzidas ao máximo. Trump, um animal de palco que vive muito do contacto direto com o público, pode sair prejudicado. "Este não é um presidente de conversa intimista nem um presidente de conferências de imprensa, é um presidente feito para os comícios", disse ao USA Today o estratega republicano John Brabender..Aposta nos debates contra o "Sleepy Joe".Pode não ter comícios, mas Trump aposta forte nos debates. Apesar de ser ele próprio o presidente mais velho de sempre nos EUA, o milionário, hoje com 74 anos, não tem hesitado em denegrir as capacidades cognitivas do rival, de 77 anos, chamando-lhe "Sleepy Joe" (algo como Joe dorminhoco). Num dos seus anúncios de campanha, o narrador garante: "Joe Biden está a dormir. Joe Biden não tem a força, a energia e a força mental necessárias para liderar este país." Previstos para 29 de setembro, 15 de outubro e 22 de outubro, os debates televisivos são a oportunidade para Biden provar que Trump está errado..Até lá, o ex-vice-presidente que nesta semana voltou a unir-se a Obama num vídeo em que ambos comentam a "falta de empatia" dos republicanos na gestão da pandemia, terá ainda de anunciar quem escolheu para se juntar a ele no ticket democrata. A lista de candidatas - parece ser um dado adquirido pelos analistas que o democrata vai escolher uma mulher - é longa. Desde a senadora do Massachusetts Elizabeth Warren, sua antiga rival e que ajudaria a atrair o voto da ala mais à esquerda e mais radical do partido, à senadora da Califórnia Kamala Harris, que alia a juventude ao apelo junto da comunidade negra, passando por Tammy Duckworth , a senadora do Illinois e veterana que perdeu ambas as pernas no Iraque..Neste ano, e perante um vírus que parece decidido a não desaparecer, a própria votação vai ser diferente. Se a abstenção se arrisca a ser maior, a verdade é que vários estados republicanos tornaram mais difícil registar-se para votar, gerando várias queixas nos tribunais. Ora seja um aumento do voto antecipado ou a falta de afluência, muitos temem que os resultados venham a ser contestados. E o próprio Trump, em entrevista à Fox News, recusou comprometer-se a aceitar os resultados.