Após a tentativa falhada de enviar ajuda humanitária para a Venezuela, o presidente interino, Juan Guaidó, vai participar na reunião do Grupo de Lima, nesta segunda-feira, "para discutir possíveis ações diplomáticas" contra o regime de Nicolás Maduro. Tanto para a oposição como para os EUA, todas as opções estão em aberto para garantir a libertação da Venezuela, mas vários países já recusaram a possibilidade de uma intervenção militar no país..O Grupo de Lima (13 países latino-americanos e o Canadá) vai reunir-se na capital colombiana, Bogotá, para discutir a evolução da crise na Venezuela, num encontro que contará também com a presença do vice-presidente dos EUA, Mike Pence. Esta deverá ser a primeira vez que Pence se encontra com Guaidó desde que este se proclamou presidente, tendo logo sido reconhecido pelos EUA.."Os acontecimentos de hoje [sábado] obrigam-me a tomar uma decisão: propor formalmente à comunidade internacional que devemos manter abertas todas as opções para conseguir a libertação desta Pátria que luta e que continuará a lutar. A esperança nasceu para não morrer, Venezuela!", escreveu no Twitter Guaidó, reconhecido por dezenas de países como presidente interino do país..Mais tarde, adianta o El País , o deputado da oposição no exílio e embaixador de Guaidó perante o Grupo Lima, Julio Borges, afirmou que será solicitado o "uso da força" na Venezuela na reunião. Segundo o mesmo, serão pedidas ações diplomáticas mais "fortes" aos países americanos que reconheceram Guaidó como presidente interino..Para o presidente colombiano, Iván Duque, o Grupo de Lima deverá apertar o cerco diplomático a Nicolás Maduro sem deixar-se levar por "discursos belicistas", porque "uma ditadura que é capaz de queimar medicamentos e alimentos é a maior demonstração da brutalidade que está disposta a cometer para preservar o poder"..Intervenção rejeitada.Mas a hipótese de uma intervenção militar já foi rejeitada por vários países. A primeira reação foi do ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, Josep Borrel, que avisou que o país não apoiará uma intervenção militar estrangeira na Venezuela e assegurou que nem todas as soluções sobre a mesa ajudam a encontrar uma saída para esta crise..De seguida, conta o El País, o governo chileno negou a via militar como saída ao conflito através do seu chanceler, Roberto Ampuero: "O Chile não está disponível para outro tipo de alternativa, reiteramos e enfatizamos (...) que o Chile apoia uma solução política e pacífica". Em entrevista ao mesmo jornal, o presidente do Peru,Martín Vizcarra, adiantou também que não concorda com uma intervenção militar na Venezuela: "Não a consideramos convincente." "Acredito que começou o fim da ditadura de Maduro. É um processo irreversível de volta à democracia", sublinhou..Já os EUA não descartam a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela. Durante uma entrevista à cadeia de televisão Fox, em que foi questionado sobre essa possibilidade, o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo disse que "todas as opções estão sobre a mesa" para "garantir que a democracia prevalece" na Venezuela e avisou que Washington "vai tomar medidas" após os distúrbios registados no sábado."Os dias de Maduro estão contados", precisou citado pela agência Efe. Em reação a estas declarações, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) venezuelano, Jorge Arreaza, acusou Mike Pompeo de estar "desesperado" em busca de um "pretexto para a guerra"..Pelo menos quatro mortos nos confrontos.No sábado, as forças leais ao presidente Maduro impediram a entrada no país de ajuda humanitária, parte da qual enviada pelos Estados Unidos, pelas fronteiras terrestres com a Colômbia e o Brasil. Com o aumento da tensão, houve pessoas a tentar saltar as barricadas para passar de um país para o outro e a ser repelidas pelos militares venezuelanos com gás lacrimogéneo e balas de borracha..O dia ficou marcado por atos violentos na chegada de ajuda humanitária, com camiões incendiados na fronteira com a Colômbia e outros a regressar ao Brasil, registando-se pelo menos quatro mortos em confrontos e 285 feridos, de acordo com a informação divulgada pela ONG Foro Penal e pelo deputado Juan Andrés Mejía. Na véspera, os confrontos tinham feito outras duas vítimas mortais na mesma região, que faz fronteira entre o Brasil e a Venezuela..Na sequência da tensão que se gerou na tentativa de entrada de alimentos e medicamentos no país, mais de uma centena de elementos das forças armadas e de segurança da Venezuela terão desertado desde sábado e procurado refúgio na Colômbia, de acordo com informações do Serviço de Migrações colombiano, citadas pela AFP..Apesar de a tensão nas fronteiras ter diminuído, ainda se registaram distúrbios ao longo do dia de domingo. De acordo com a Lusa, dezenas de manifestantes venezuelanos que estão no Brasil iniciaram um confronto com membros do Exército da Venezuela que bloquearam a passagem de veículos na fronteira. Perante os protestos, o Exército bolivariano realizou alguns disparos com balas de borracha sobre os manifestantes e também atirou bombas de gás lacrimogéneo..Entretanto, o governador de Roraima, no Brasil, Antônio Denarium, anunciou que vai decretar situação de calamidade na saúde pública do estado. "Nós já estávamos com a situação crítica na saúde aqui no estado de Roraima e, com a onda de violência na Venezuela, essa crise agravou-se ainda mais", afirmou, em conferência de imprensa, na qual revelou que, nas últimas 36 horas, 18 feridos deram entrada no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, com ferimentos por arma de fogo..Juan Guaidó, presidente do Parlamento venezuelano, lidera a oposição ao regime de Nicolás Maduro e autoproclamou-se presidente interino há um mês, com o reconhecimento de cerca de 50 países, incluindo Portugal, comprometendo-se a convocar eleições..No Twitter, Maduro publicou um vídeo dos manifestantes da rua, dizendo que "o povo está unido, mobilizado e alerta" e pediu à população para "não baixar a guarda" na luta para "preservar a paz na Venezuela"..Por cá, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Augusto Santos Silva, defendeu que a solução política para a Venezuela passa pela pressão política e diplomática internacional e não por confrontação interna, nem por uma intervenção militar externa. "Essa intervenção só agravaria ainda mais o problema. Há países que têm dito que todas as soluções estão em cima da mesa. Não é essa a posição da União Europeia. Nós achamos que a solução por via de uma confrontação interna não é solução, e a solução por via de uma solução externa também não é solução", vincou Augusto Santos Silva.