PSP investiga quem desrespeitou sinalização em acidente com tuk-tuk

Um acidente entre um <em style="font-family: Arial;">tuk-tuk</em> e um ligeiro provocou uma morte e um ferido grave. O condutor fazia uma viagem particular e a PSP investiga quem desrespeitou o sinal vermelho. O DN fez uma viagem pela Baixa num destes veículos turísticos e aprendeu mais um bocadinho sobre Lisboa.
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Um acidente com um tuk-tuk nesta segunda-feira na zona de Santa Apolónia, em Lisboa, e que motivou a morte da passageira, de 82 anos, desanimou ainda mais os profissionais de um setor do turismo muito penalizado pela pandemia. Morreu a sogra do condutor que a levava ao médico, numa viagem particular. Este, Paulo Barata, na casa dos 50 anos, sofreu um traumatismo cranioencefálico e estava a ser operado no Hospital de São José ao final do dia desta segunda-feira.

Conduzia uma Piaggio 200, um tuk-tuk a que chamam "micróbio" e que colidiu de frente com um ligeiro, ocupado por dois franceses. Os bombeiros foram chamados às 10.20 e, posteriormente, a PSP. Segundo disse ao DN fonte desta polícia, o acidente terá sido provocado por alguém que não respeitou o sinal vermelho, o que está a ser investigado.

"As testemunhas no local indicam que foi desrespeitada a sinalização luminosa. O veículo ligeiro passou com o sinal verde e estaria vermelho para o condutor do tuk-tuk, mas é uma situação que terá de ser investigada", sublinhou a fonte da PSP.

Inês Henriques, presidente da Associação Nacional de Condutores de Animação Turística, diz que a única informação que a família tem é que "foi uma colisão frontal" e que o colega "está nos cuidados intensivos", com um diagnóstico grave.

"É um acidente que pode acontecer com qualquer tipo de veículo. Há alguns acidentes, mas nenhum com vítimas mortais", sublinha Inês Henriques. Acrescenta que os tuk-tuks não são mais perigosos do que os outros veículos, desde que sejam conduzidos cumprindo as regras de segurança.

António Marques, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (APECATE), é da mesma opinião: "Infelizmente, aconteceu um acidente, que foi associado a uma atividade turística, mas estes casos não são mais frequentes com os tuk-tuks. E, tanto quanto saiba, nunca houve uma situação tão grave. Os acidentes acontecem com autocarros, táxis, etc."

Ambas as associações defendem uma maior regulamentação do setor, no que diz respeito sobretudo ao ordenamento do território, condições que estavam a discutir e que a pandemia obrigou a uma paragem. "Estamos a fazer um esforço em colaboração com as autoridades, para que a atividade seja bem vista e temos em preparação cursos de formação dos condutores."

Poucos turistas fez descer preços

Em Lisboa, antes da covid-19, haveria 700 destes triciclos na cidade, que terão reduzido para um quinto devido à pandemia, segundo António Marques. Alerta, no entanto, que ninguém sabe exatamente quantos são dado não existir esse registo.

Os turistas reduziram substancialmente, há espanhóis e portugueses, "mas não são o tipo de turista que opta por esta forma de fazer turismo", diz aquele dirigente. "Estamos a fazer menos viagens do que em fevereiro e março, que eram os meses maus", explica Inês Henriques.

Neste ano, os preços das viagens desceram a pique e o DN aproveitou a sugestão e conheceu mais um bocadinho da capital.

Os tuk-tuks estão em todo o lado e a Praça da Figueira é um dos pontos de paragem obrigatória. Encontramos uma dúzia destes veículos em "modo parado", contrastando com a azáfama do último verão, em que um condutor poderia levar 1500 euros ao fim do mês, "se trabalhasse bem".

Como qualquer turista, perguntámos os preços e logo fizeram um desconto à cabeça: meia hora por 25 euros, uma hora por 45, que depressa passou a 40. Valores que em anos do boom turístico facilmente duplicavam, com as três horas, viagens maiores, a rondar os 200 euros. Neste ano, houve quem já o fizesse por 80.

Viajamos no tuk-tuk do Romeu, a trabalhar para a SPR Tours que tem outros dois veículos. Explica que é obrigatório carta de condução de ligeiros, o cinto de segurança (como em qualquer veículo), já a velocidade permitida depende da potência do veículo. Este é m triciclo (três rodas) dos grandes, vermelho e branco, com capacidade para quatro passageiros, se não for ninguém ao lado do condutor. É elétrico, tem uma cilindrada 67 cm3 e a partir dos 50 cm3 já se pode circular na Ponte 25 de Abril, onde a velocidade mínima são 60 km/hora. Significa que estes triciclos não têm limites específicos de velocidade, sendo estes impostos pelas regras para as vias onde circulam, geralmente não ultrapassam os 45/50 km/hora.

O ex-líbris de Lisboa

Não dizemos que somos jornalistas e Romeu inicia o percurso mais pequeno em direção ao que diz ser o ex-líbris de Lisboa, o Largo do Monte, o miradouro com uma vista deslumbrante sobre Lisboa, do lado esquerdo a parte antiga (com o castelo lá no alto); do lado direito, a mais moderna, o que é sublinhado pelo condutor

Começa na Baixa pombalina, pela Rua dos Fanqueiros, que o nosso guia explica ser onde se vendia fancaria, "os mais velhos ainda se recordam disso". Inicia a subida pela Igreja da Madalena, entre outras coisas, chama a atenção para o arco trilobado, classificado monumento nacional nacional em 1910. Passa a Igreja de Santo António, de "seu nome Fernando de Bulhões". Alcança a Sé Catedral, onde "antes foi uma mesquita e tinha sido um templo dos visigodos". Para no Teatro Romano, "tinha lugar para quatro mil pessoas e foi construído segundo os critérios do imperador romano [Augusto]. Tinha de ser belo, resistente e funcional".

Mais acima, Romeu chama a atenção para a Prisão do Limoeiro [É agora o Centro de Estudos Judiciários] do lado direito e o Beco do Carrasco à esquerda, "por serem onde viviam os carrascos que executavam os presos". Mais acima, encontra a Igreja de Santa Luzia, pertencente à Ordem de Malta, também o miradouro com o mesmo nome, os painéis de azulejo e a Cerca Moura, uma muralha e que é mais um dos muitos vestígios da presença dos mouros em Portugal.

Há, também, lugar para uma ou outra curiosidade, como o jardim onde os mais velhos jogam às cartas ou o sinal "mais antigo do mundo", que data de 1686 e fica na Rua do Salvador. Sobe pelo Largo da Graça até chegar ao Miradouro da Nossa do Monte. Na sua capela encontra-se a cadeira de São Gens, também conhecida como "cadeira da fertilidade" e que "não protege apenas as grávidas como cura todas as doenças" a quem nela se sentar.

A descida faz-me pela Mouraria, com passagem pela Rua do Benformoso, com as suas lojas, restaurantes e talhos de imigrantes do Paquistão e do Bangladesh, conta uma lenda sobre o significado da carne halal, a única que os muçulmanos podem comer. Acrescentamos: o animal deve ser virado em direção a Meca, ser abatido por um religioso muçulmano e ter o sangue escorrido antes do golpe final.

A passagem pela Praça do Martim Moniz é o momento para recordar o cavaleiro que lhe deu nome e que, segundo a lenda, sacrificou a vida para impedir o fecho de uma porta do castelo dos mouros durante o Cerco a Lisboa. Lutou ao lado das tropas cristãs comandadas por D. Afonso Henriques, que, assim, conquistou a cidade (1147). E volta ao local de partida, à Praça da Figueira. Onde estão muitos dos condutores que encontrámos à partida.

Dissemos a Romeu Mealha que somos jornalistas e que nos conte a sua história. Tem 48 anos, sempre gostou de línguas e de história, gosto que terá herdado da mãe, que teve um cargo de chefia no Palácio de Ajuda, que ele visitou vezes sem conta. São naturais do Loulé, de onde veio aos 6 anos.

Estudou línguas, tirou um curso para trabalhar nos táxis turísticos e ai permaneceu 12 anos. Há três passou para os tuk-tuks e tudo o que conta aos turistas "aprende em livros ou contam-lhe as pessoas", muitas que vivem nos bairros.

"Se me perguntarem quem foi o pai de D. João IV, sei responder: Teodósio II, duque de Bragança. Não digo que o Eusébio está na Sé Catedral, como alguns", orgulha-se.

Sublinha que não vai buscar a informação ao Google, "até porque há turistas muito bem informados e de todos os países", também americanos e, claro, os portugueses. "Tento manter-me atualizado, não me interessa o conhecimento enciclopédico", diz. Um exemplo é a candidatura da Baixa pombalina a património da UNESCO estar em risco devido à descaracterização que tem sofrido, segundo as notícias recentes e que Romeu logo referiu.

Queixa-se dos prejuízos causados pela covid-19, que tem dias em que não faz um tour. Antes da pandemia tinha muitos holandeses, franceses, alemães, também italianos, neste ano são mais portugueses e espanhóis, e poucos.

Remata na despedida: "Adoro o que faço, adoro as pessoas, é um trabalho apaixonante."

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