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24 OUT 2020
24 outubro 2020 às 16h18

O piloto português que bateu o campeão Hamilton nas pistas

Neste domingo, no Algarve, o piloto britânico pode bater o recorde de vitórias de Schumacher e continuar a fazer história na F1. Há 22 anos, em Braga, Álvaro Parente venceu-o quando ambos corriam nos karts.

Numa tarde de 1998, no Kartódromo Internacional de Braga, uma prova do Europeu de karting juntou na mesma pista vários jovens pilotos. Entre eles estava o português Álvaro Parente, que dava então nas vistas na modalidade. Mas também Lewis Hamilton, o atual hexacampeão do mundo de Fórmula 1, Nico Rosberg, que venceu o Mundial de pilotos em 2016, e ainda Roberto Kubica, que também andou vários anos pela prova rainha do automobilismo. Tudo miúdos na casa dos 13 anos.

Álvaro Parente venceu a corrida e sagrou-se campeão europeu de karting da categoria júnior. Naquele dia estava longe de imaginar que tinha vencido na pista o britânico que hoje é hexacampeão do mundo e que neste domingo, no Grande Prémio de Portugal, pode bater (mais) um recorde de Michael Schumacher e dar novo passo rumo ao sétimo título.

Hamilton, líder do Mundial de pilotos e seis vezes campeão do mundo, pode voltar a fazer história, e em Portugal. Depois de ter igualado o recorde de 91 vitórias que pertencia ao alemão Michael Schumacher, o piloto britânico da Mercedes pode ficar detentor desta marca caso vença a prova que se realiza no circuito de Portimão.

"Sim, é verdade, já venci o Hamilton na pista. Éramos miúdos, aí na casa dos 13 anos. E naquela prova no Kartódromo de Braga a vitória foi muito especial, porque fui campeão europeu na categoria de juniores. Ainda hoje é uma recordação muito boa, foi uma grande vitória", recordou ao DN o piloto Álvaro Parente, 36 anos, lembrando que naquela altura, além do britânico, também corriam nos karts outros nomes bem conhecidos, como Nico Rosberg, Robert Kubica, Nelsinho Piquet e Rafael van der Vaart.

"Não foi a única corrida contra o Hamilton, só que esta teve um sabor especial porque me permitiu conquistar um título. Mas fomos adversários em várias provas de karts. Eu ganhei umas vezes, ele outras. Corremos ambos depois no ano seguinte no campeonato italiano de karts. Andávamos sempre ali os dois na parte da frente da grelha e a discutir os primeiros lugares. Ele na altura já era um grande piloto, um dos melhores. Via-se que tinha jeito, mas não imaginava que pudesse atingir o lugar de destaque que ocupa atualmente", acrescentou Parente.

Depois dos karts, os caminhos dos dois pilotos tomaram rumos diferentes. O corredor português esteve entretanto com o campeão britânico em alguns eventos automobilísticos, mas garante que essas suas vitórias da adolescência nunca foram tema de conversa entre ambos. "Se calhar ele ainda se lembra. Todos sabemos da nossa história, como tudo começou nos karts. Mas por acaso nunca lhe falei disso, talvez por falta de oportunidade", atirou.

Nos últimos anos, e por estar também ligado ao automobilismo, Álvaro Parente seguiu com satisfação a carreira sempre de forma ascendente do piloto britânico nascido em Stevenage, no Reino Unido. "É um piloto fora de série, que anda a bater todos os recordes. É incrível a carreira que ele está a fazer. É um piloto que admiro muito, teve a sorte de estar no sítio certo na altura certa, o que é fundamental. Teve as oportunidades e soube agarrá-las. É preciso ter sorte, estar no sítio certo e ter a melhor equipa. Mas isso só não chega. Também é preciso ser-se bom piloto. E ele é de facto um fora de série."

Neste domingo, quando começar o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 no circuito de Portimão, Álvaro Parente vai estar também em competição - vai participar nas 24 horas de Spa, prova integrada nas terceiras rondas do Intercontinental GT Challenge e do GT World Challenge Europe Endurance Cup, que se realiza entre sábado e domingo na Bélgica.

Ao contrário de Hamilton, e de outros pilotos com quem correu em Braga naquele ano de 1998, apesar de algumas tentativas, nunca conseguiu chegar à F1. "Não aconteceu devido a vários fatores. Como toda a gente sabe, a Fórmula 1 é um mundo muito fechado, ao alcance de muito poucos. É um meio político, de grandes interesses, com pessoas influentes a decidir quem entra e quem não entra. Há os pilotos com bons patrocínios que pagam os seus lugares, e quem não tem é complicado. Não basta ter talento e resultados. E pronto, não aconteceu. Mas também entrar só por entrar como alguns o fizeram, e andar sempre em último, não tinha piada nenhuma."

Álvaro Parente garante que nunca teve um ídolo na Fórmula 1, apesar de na juventude "gostar muito do Ayrton Senna". O seu verdadeiro ídolo foi o pai, também piloto, que lhe pegou o bichinho dos carros e que foi determinante na carreira que abraçou de piloto de automóveis.

As corridas de F1 voltam neste fim de semana a Portugal, 24 anos depois, algo que deixa Álvaro Parente extremamente honrado. "É uma enorme satisfação ver as corridas de F1 regressarem a Portugal. Há mais de 20 anos que não recebíamos uma prova destas. Sei que nas décadas de 1980 e 1990, quando fazíamos parte do circuito, os pilotos gostavam muito de correr no Estoril. Nunca tive a sorte de ir ver ao vivo uma corrida no autódromo. Mas sinto-me muito feliz por a F1 estar de volta, apesar de ter acontecido num contexto particular, devido à pandemia. Seria bom poder continuar", considerou.

Neste domingo, Parente não vai poder estar atento ao que se vai passar no circuito de Portimão. Porque também ele vai estar em competição nas 24 horas de Spa, na Bélgica. "Isto é uma prova de 24 horas, ou seja, só termina no domingo à tarde, por isso não vou poder ver. Se calhar à mesma hora até estarei na pista, dentro do carro, não sei. Se não estiver vou tentar seguir, apesar de precisar de descansar, porque isto é muito cansativo. Vou tentar estar com um ouvido em Portugal, para ir sabendo o que se passa", prometeu o português que em 1998 venceu o piloto britânico que neste domingo pode tornar-se o corredor de Fórmula 1 com mais vitórias de sempre.

Hamilton, 35 anos, é o principal favorito à vitória no regresso da F1 a Portugal após 24 anos de interregno, nesta que será a 12.ª corrida da época, reformulada devido à pandemia de covid-19.

O atual campeão mundial, que em 2020 persegue o sétimo título da sua carreira (tantos quantos conseguiu Schumacher, outro recorde), chega à prova portuguesa com sete triunfos em 11 provas já disputadas, a última dos quais na corrida anterior, no Grande Prémio de Eifel, na Alemanha.
Números que lhe valem uma liderança confortável no campeonato, com 230 pontos, mais 69 do que o segundo classificado, o seu companheiro de equipa, o finlandês Valtteri Bottas, que deverá ser o seu principal adversário neste fim de semana em Portimão.

O GP de Portugal vai ter uma lotação máxima de 27 500 espectadores. Todos os lugares são sentados, distribuídos por bancadas independentes, com uma lotação de ocupação variável e divididas por setores de cerca de 800 pessoas. Tinham sido inicialmente postos à venda 46 mil bilhetes, mas devido ao contexto de pandemia, e após recomendação da Direção-Geral da Saúde, a lotação foi reduzida quase para metade.

O Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, que recebe neste fim de semana a prova, será o quarto palco diferente a acolher o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, depois de Boavista, Monsanto e Estoril terem recebido a prova nas 16 edições anteriores. O circuito citadino da Boavista, no Porto, foi o primeiro palco português da F1, em 1958. Em 14 de agosto desse ano, Stirling Moss (Vanwall) foi o primeiro vencedor do GP de Portugal. Um ano depois, Moss repetiu o triunfo, mas agora no circuito de Monsanto, em Lisboa. A prova regressaria à Boavista em 1960, com a vitória a sorrir ao australiano Jack Brabham (Cooper-Climax). A partir de 1960 deixou de passar por Portugal e só regressou em 1984, já no Autódromo do Estoril, onde se manteve até ao dia 22 de setembro de 1996.